'A gente anda olhando para as placas', diz mãe de menina atingida por queda de muro do Metrô
Quase seis meses após acidente, Kemily Silva, 9, continua com dificuldade para andar. Outra placa caiu esta semana, deixando mais um ferido, no bairro de São José.
Quase seis meses depois de ser atingida por uma placa que desabou do muro do Metrô no Recife, assim como a que vitimou o ajudante de pedreiro Marcos Roberto Bezerra da Silva, Kemily Silva, 9, continua com dificuldade para andar. A menina teve um politraumatismo, com afundamento do crânio e lesões na coluna e na região da bacia, que a fez ficar por quatro meses sem conseguir se levantar da cama. Ela segue na fisioterapia e ainda não se sabe se terá as sequelas pelo resto da vida.
“O médico disse que, devido à batida, teve uma luxação no fêmur. Tivemos que interná-la de novo, para abrir, fazer a limpeza e colocar um dreno. Então, ele disse que tanto faz ela está boa quanto pode, de repente, o fêmur se soltar. Não vai ficar 100% normal”, conta a mãe de Kemily, Caroline Pereira da Silva, 32, em entrevista à Folha de Pernambuco neste domingo (13).
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A família, formada ainda por Carol, pelo marido dela, Francisco Lino, 43, e por mais duas filhas além de Kemily, se sustenta do trabalho de Francisco, que apura em torno de R$ 1800 fazendo capinação, e do Auxílio Brasil, pago à mãe das crianças. Eles vivem em uma casa em uma travessa na rua Azul, a poucos metros do acidente.
Moradora da comunidade desde que nasceu, Carol afirma que nunca viu qualquer serviço de manutenção no muro que guarda as linhas metroviárias e que sente muito medo de caminhar pelo local. “A gente anda olhando para as placas, porque é o jeito. Se for ‘arrodear’, tem que contornar a pista toda. Eles dizem que agora está seguro, mas não estou achando, não. De jeito nenhum. Tenho 32 anos e nunca vi eles virem ajeitar. Só depois do acidente com a minha filha que vi eles fazerem uma gambiarra”, comenta.
A menina participava de uma festa de Dia das Crianças, organizada por uma ONG, quando resolveu, com outros amigos da mesma faixa etária, se escorar no muro do Metrô para se proteger da chuva. Ao ouvir o estalo da estrutura rachando, o grupo correu, mas Kemily não conseguiu escapar a tempo. Levada ao Hospital da Restauração, ela chegou a ter três paradas cardíacas durante a cirurgia para recuperar as partes do corpo lesionadas.
Depois do episódio, funcionários da CBTU também visitaram a menina no hospital. Em reuniões com os pais e a Defensoria Pública, a empresa se comprometeu a ajudar com os custos dos remédios e da alimentação de Kemily durante o tratamento e providenciar o transporte dela ao centro de fisioterapia, na avenida Visconde de Suassuna, em Santo Amaro.
O pai da vítima, Francisco Lino, relata que, desde o mês passado, os repasses para a alimentação são dados com atraso. “Pagaram fevereiro em março, e a feira de março ainda não entrou”, afirma, acrescentando que mais uma reunião com representantes da CBTU será marcada esta semana.
A reportagem tentou contato com a CBTU para ter um posicionamento sobre os dois episódios, mas, até a publicação da matéria, não obteve retorno.