A invasão da Ucrânia e a Nova Ordem Mundial
A tentativa da passagem do Império Soviético para o capitalismo surpreendeu o mundo ocidental, que jamais conjecturou tal possibilidade fora de um contexto de hecatombe nuclear. Os próprios russos reconhecem ser um povo bélico. Os historiadores e remanescentes do período soviético adotam um critério, para se tornar mais compreensivo, dividindo-o em quatro momentos geracionais: a geração de Stalin, a de Nikita Khuschóv, a de Brejnev e a de Gorbatchov. Acrescentaria a esta última, a figura de Boris Yeltsin, pelo papel importante que desempenhou para frustrar a tentativa de golpe que visava depor Mikhail Gorbatchov, que se encontrava no mês de agosto de 1991 em férias na Criméia.
Não obstante, Boris Yeltsin era uma figura enigmática, estigmatizada pelo alcoolismo, e que, apesar de tudo obstou o Golpe de Estado contra Gorbatchov, assumindo o protagonismo de um Estado em transição e mergulhado em crises urdidas no Kremlin, com o endosso dos analistas e espiões do KGB.
No seu livro de memórias “Minha Luta pela Rússia”, Boris Yeltsin expõe e relata fatos contidos em dossiê contra os irmãos Yeltsin, o pai e o tio foram condenados a três anos de prisão. Militou no Partido Comunista da União Soviética (PCUS) com a mágoa contida.
Sem fazer a leitura dos fatos precedentes de forma sistemática e crítica e abstraído do universalismo ideológico que o circundava, o ressentimento de Boris Yeltsin, pôs, o Império em declínio, nas mãos de Vladimir Putin, para restaurá-lo com outros desígnios, quase todos inconfessáveis, que só os autocratas conhecem.
É inquestionável que a violação ao direito de autodeterminação dos povos foi brutalmente atingido com a invasão militar da Ucrânia pela Rússia, ferindo princípios básicos do Direito Internacional, que justificam e alimentam a configuração da própria identidade nacional a ser reconhecida, pressupostos inseridos na Carta da Organização das Nações Unidas, que também configura condição elementar de independência. Que também, em outra instância, são impeditivos que se estabeleça um processo colonialista.
Afora tais condições, os direitos humanos estão flagrantemente sendo violados, ferindo sua universalidade e inalienabilidade. Os direitos humanos são indivisíveis e transitam pelos direitos civis, pela economia, e até pelos valores sociais e culturais. Dos povos e das nacionalidades. A sua abrangência está proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas desde 10 de dezembro de 1948, e devem ser respeitadas e aplicadas.
Uma Nova Ordem Mundial está exposta, e os sinais são desoladores. Qual o ponto central do dissidio? A possibilidade de instalações de ogivas nucleares no quintal da Rússia? A disputa pelo trigo e milho da Ucrânia? As reservas de fertilizantes da Rússia que abastece o mundo? Ou então, não sendo nada disso, nem mesmo o gás e o petróleo?
Conflito semelhante tivemos em 1962. Foram 13 dias de extrema tensão internacional. Solução: retirada dos misseis soviéticos instalados em Cuba. Retirada dos misseis americanos instalados na Turquia e na Itália. Acordo de que nunca mais haveria invasão à Cuba. Criação de uma linha direta entre Moscou e Washington. A Nova Ordem Mundial inevitavelmente hoje passa pela União Europeia, pelos Estados Unidos, China e Rússia. Nada mais claro.
Nesta história que se conta não tem Chapeuzinho Vermelho.
- Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria para possível publicação.
* Procurador de Justiça do Ministério Público de Pernambuco. Diretor Consultivo e Fiscal da Associação do Ministério Público de Pernambuco. Ex- repórter do jornal Correio da Manhã (RJ.)