A natureza e a construção da humanidade
Como sempre, o novo mundo traz desafios aos quais temos que nos adaptar constantemente. Mais do que sobrevivência, a questão é o aprendizado contínuo. A geração Alpha surgiu junto com o iPad, a maior revolução dos tablets, e com as notícias do Google do primeiro carro autônomo da história. E se hoje é comum entendermos que a partir da geração Alpha todo ser humano é um nativo digital, conectados tecnológicos, também é consenso que as crianças, principalmente as menores, enfrentam hoje um déficit de natureza que pode comprometer seu desenvolvimento.
Para esses pequenos futuros cidadãos, a creche pode ser um espaço valioso para compensar esse déficit e oferecer o contato com áreas verdes e meio ambiente. A Fundação Maria Cecília Vidigal aponta que, segundo estudos científicos, vivenciar a natureza estimula a criatividade, a socialização e a saúde, promovendo desenvolvimento cognitivo e emocional.
Estudo da organização Natural Learning Initiative, que promove o uso de diferentes espaços para a criação de áreas verdes, mostra que o contato direto com a natureza impacta diretamente o comportamento. De acordo com a pesquisa, 68% dos diretores de centros de ensino entrevistados no levantamento relataram mudanças positivas no comportamento das crianças após elas praticarem atividades ao ar livre e 40% deles indicaram que os pequenos se envolveram particularmente com áreas de cultivo de plantas comestíveis.
Especialmente para crianças que moram em grandes centros, o contato com a natureza é fundamental. Saber que os alimentos vêm da terra, que comemos o que cultivamos, que as plantas têm cores, formas e cheiros diferentes, entre outras informações, é essencial desde a primeira infância. Mesmo quem mora em apartamentos pode usar a criatividade para ter sua própria área verde, cultivando plantas e uma pequena horta que ainda pode fornecer ingredientes para a cozinha do dia a dia.
Com a ajuda das crianças, pais e responsáveis podem criar um espaço único, plantar sementes, regar, cultivar, explorar formas,cores e cheiros, colher, cozinhar e comer. Todo esse processo vai contribuir grandemente para o desenvolvimento dos pequenos e ainda fortalecer a conexão familiar. Além disso, é possível criar atividades lúdicas envolvendo elementos da natureza, como folhas, galhos e outros recursos que promovam esse contato. Contar utilizando gravetos, usar flores para brincar de fazer comidinha ou criar jogos com pedras são exemplos disso.
Os benefícios do contato com a natureza e das atividades ao ar livre são muitos. A Natural Learning Initiative aponta que eles contribuem para aumentar a cooperação e reduzir a obesidade, uma vez que as crianças que vivenciam áreas de lazer com diversos ambientes naturais são mais fisicamente ativas, mais conscientes da nutrição, mais civilizadas entre si e mais criativas. O levantamento também indica que as atividades na natureza melhoram a saúde. Podem até reduzir taxas de miopia em crianças e adolescentes e o risco de asma e outras alergias, através do maior conhecimento com a biodiversidade e com todos os tipos de organismos vivos, inclusive animais, insetos e bactérias.
Aspectos socioemocionais também ganham com a maior interação e integração da criança com a natureza. Áreas verdes, aponta o documento, melhoram as relações sociais, a convivência, a autodisciplina, o autocontrole, reduzem o estresse, aumentam a capacidade criativa, contribuem para a solução de problemas, para o desenvolvimento intelectual, de habilidades cognitivas e aprimoram o desempenho acadêmico. E há ainda o ganho da sustentabilidade. Pequenos que vivem a natureza aprendem a respeitá-la e passam a adotar atitudes de preservação ambiental.
Por isso, vamos plantar, cultivar e educar. E frequentar parques sempre que possível. Ficar sob o sol, sentar na grama, andar descalço e observar os pássaros, entre outras coisas simples fundamentais, fazem muito bem e ajudam a construir memórias especiais. Todo ser humano precisa disso em qualquer idade.
*Pedagoga com pós graduação em Desenvolvimento Infantil
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