A poluição plástica nos rios, lagos e praias na América Central
Uma das piores fontes de poluição plástica na costa caribenha da América Central está nas praias da região de Omoa, em Honduras
Arrastados por diferentes afluentes, imensos depósitos plásticos multicoloridos cobrem as águas do Lago Suchitlan em El Salvador. O mesmo acontece nas praias paradisíacas do Caribe hondurenho, que recebem milhares de toneladas de lixo da Guatemala.
Garrafas de refrigerante, recipientes de remédios, chinelos velhos e todo tipo de material plástico flutuam nas águas verdes desse lago salvadorenho de 13.500 hectares, que serve de reservatório para uma usina hidrelétrica e é considerado um pantanal de importância internacional pela Unesco.
Os pescadores deste enorme lago artificial, o maior corpo de água doce do país, dizem que a poluição empurrou os peixes para águas profundas, onde não podem lançar suas redes para pegar tilápia ou guapote.
"Há mais de dois meses não conseguimos pescar", diz à AFP Luis Peñate, pescador de 25 anos que agora se dedica a mobilizar os poucos turistas que se atrevem a visitá-lo no barco de outro pescador para sobreviver.
Leia também
• Marinha afirma que óleo nas praias do Nordeste não está ligado ao derramamento de 2019
• Reduzir a poluição do ar aumentaria a expectativa de vida em dois anos
• Poluição provocou nove milhões de mortes no mundo em 2019, afirma estudo
Patos percorrem o lixo, pequenas tartarugas sobem nas garrafas flutuantes para tomar sol e alguns cavalos magros bebem da água contaminada.
É uma "poluição nunca vista antes", diz Jacinto Tobar, prefeito da cidade de Potonico, no departamento de Chalatenango, cerca de 100 quilômetros ao norte de San Salvador.
"A fauna, a flora estão sofrendo muito" e os turistas são cada vez menos numerosos, aponta.
Os pescadores devem competir com cerca de 1,5 milhão de biguás pretos que habitam o lago, segundo o prefeito, e que se tornaram uma espécie de praga porque um dia chegaram como aves migratórias e ficaram.
Com cerca de 2.500 habitantes, Potonico é o município mais afetado entre as 15 cidades ribeirinhas do lago.
A Comissão Executiva Hidrelétrica do Rio Lempa, que administra a vida do reservatório de Suchitlan, emprega dezenas de trabalhadores que limpam o lago manualmente.
E alguns vizinhos colaboram nessa tarefa, que segundo o prefeito levará de três a quatro meses.
"O que podemos esperar do futuro se não cuidarmos do meio ambiente?", questionou o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, esta semana após lançar a campanha nacional "Lixo Zero".
O ministro salvadorenho do Meio Ambiente, Fernando López, disse que 4.200 toneladas de resíduos são geradas diariamente no país, e dessas, cerca de 1.200 acabam em rios, praias ou ruas de todo o território.
Da Guatemala à costa de Honduras
Uma das piores fontes de poluição plástica na costa caribenha da América Central está nas praias da região de Omoa, em Honduras.
A costa desta região, cerca de 200 km ao norte de Tegucigalpa, é linda, com vegetação abundante e palmeiras, mas em algumas áreas a areia é praticamente coberta por um espesso tapete plástico de recipientes de todos os tipos, seringas e outros detritos.
"Esse lixo vem do rio Motagua, do lado guatemalteco", lamenta um morador da região, Cándido Flores, de 76 anos.
"Quando o rio sobe, o lixo volta novamente".
As toneladas de lixo transportadas pelo rio Motagua da Guatemala criaram "ilhas de lixo" que flutuam no Caribe hondurenho, segundo as muitas denúncias das autoridades locais e ativistas.
A questão gerou tensões entre os dois países.
Diante do problema, a ONG holandesa The Ocean Cleanup alerta que cerca de 20 mil toneladas de resíduos plásticos passam todos os anos pelo rio Las Vacas, afluente do Motagua, a maioria proveniente do aterro sanitário da capital guatemalteca.
A poluição deve ser atacada em sua fonte, alertam os ambientalistas.
"Temos que atacar de onde vem o fluxo principal de todo esse lixo", diz Eduardo Arguera, 29, estudante de arquitetura da Universidade de El Salvador que promove campanhas de limpeza.
Para conter os resíduos plásticos e evitar que cheguem aos lagos e ao mar, propõe cercas em pontos estratégicos.
O presidente do Centro de Tecnologia Apropriada (CESTA) de El Salvador, Ricardo Navarro, considera que a limpeza do material plástico "é uma prioridade". Ele explica que apenas 30% flutua e que o restante afunda.
De acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 11 milhões de toneladas métricas de plástico entram nos oceanos a cada ano. E alerta que esse número pode triplicar nos próximos 20 anos.