GUERRA NA UCRÂNIA

A vida sob bombas dos últimos moradores da cidade ucraniana de Avdiivka

Cerca de 30.000 pessoas viviam no local antes da guerra, agora restam apenas 2.000.

Rússia afirma que não discute trégua de Natal ou Ano Novo na UcrâniaRússia afirma que não discute trégua de Natal ou Ano Novo na Ucrânia - Foto: Sergei Chuzavkov / AFP

Com uma aparência emaciada, rosto pálido e vestidos com roupas sujas, cerca de 20 moradores da cidade ucraniana de Avdiivka emergem dos porões para recolher pacotes de alimentos distribuídos no subsolo de um edifício.

Nenhum deles presta atenção às explosões incessantes que ressoam nesta localidade próxima a Donetsk (sudeste) e sob fogo constante das forças russas.

Carregando caixas do Programa Mundial de Alimentos, retornam lentamente a seus abrigos subterrâneos, onde vivem sem eletricidade, gás, ou sequer água, mas protegidos dos bombardeios.

Há meses, as tropas de Moscou tentam tomar esta cidade situada na linha de frente, a apenas 13 quilômetros do bastião rebelde de Donetsk, uma das "capitais" dos separatistas russos.

Cerca de 30.000 pessoas viviam em Avdiivka antes da guerra. Agora, em meados de dezembro, restam apenas 2.000.

Vitali Barabash, administrador militar da cidade, descreve à AFP os ataques russos ininterruptos. "A partir das 7h15, começaram a bombardear com foguetes Grad", conta, e enumera os ataques da manhã.

Muitos edifícios estão destruídos, sem vidros nas janelas, alguns enegrecidos.

Em um porão perto do ponto de distribuição, Svitlana, de 74 anos, compartilha um cômodo frio com outras cinco mulheres e dois homens, todos idosos. Antes da guerra, eles viviam nos andares superiores.

- 'Velhos demais' para fugir -
As camas estão cobertas com colchas grossas e sacos de dormir. Em uma parede, uma lanterna conectada a uma bateria fornece um mínimo de iluminação.

"É muito difícil... [Voluntários] afirmam que devemos ir embora, evacuar, mas, para onde? Somos velhos demais, o que podemos esperar de um lugar novo? [...] Este é o nosso porão", explica Svitlana à AFP.

Em um cômodo vizinho, há uma pequena fogueira que Mycola alimenta com galhos que retira de um pequeno monte de lenha. Duas explosões ressoam do lado de fora.

"Quem sabe o que era? Diria que artilharia, ou talvez morteiros", assinala o homem, já acostumado com os sons da guerra.

Para Svitlana, "a esperança é tudo o que temos. A maioria está doente, como todo mundo aqui", lamenta.

Quando o conflito começou na Ucrânia em 2014, Avdiivka foi tomada pelos separatistas, antes de ser reconquistada pelas forças de Kiev. Devido à sua proximidade com a linha de frente, trata-se de um dos pontos quentes desde que a ofensiva russa começou em 24 de fevereiro.

Nos últimos meses, a cidade se converteu, junto com Bakhmut (leste), em um dos cenários de combates mais complicados do front de batalha.

- 'Todos os civis em perigo' -
No norte de Avdiivka, os russos e as forças separatistas da região de Donetsk bloquearam em junho uma das duas principais vias de acesso à cidade.

Também estão posicionados no leste e no sul, onde, nos últimos dias, forçaram as tropas ucranianas a retroceder.

"Nossas tropas se retiraram [da localidade] de Vodyan [...] porque era absolutamente impossível manter as mesmas posições de antes", explica Vitali Barabash.

O responsável militar de Avdiivka garante que Moscou acaba de enviar para a cidade tropas do exército regular, que têm "mais treinamento" do que as separatistas.

Em sua delegacia transformada em bunker, o oficial de polícia de Avdiivka, Rasim Rustamov, acredita que a situação é "verdadeiramente difícil". "Somos alvos constantes de bombardeios. Todos os civis estão em perigo", garante.

Entre aqueles que esperam para conseguir uma cesta de comida reina a resignação, como no caso de Lyudmyla, de 62 anos.

Ao ser perguntada sobre como planeja passar o inverno em Avdiivka, ela responde: "A primavera vai chegar. Com ou sem nós, mas vai chegar".

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