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SOLIDARIEDADE

Ação social no Recife leva jantar e chocolate a pessoas em situação de rua; conheça Dona Margarida

Em torno de 500 pessoas passaram pelo projeto na noite desta quarta-feira, diante a Igreja de Santa Cecília

Nesta noite de quarta-feira (5), pessoas em vulnerabilidade social também receberam chocolates, por conta da PáscoaNesta noite de quarta-feira (5), pessoas em vulnerabilidade social também receberam chocolates, por conta da Páscoa - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Na tradição da Igreja Católica, a história de Santa Cecília é marcada também pelo pedido dela de que os seus bens materiais fossem distribuídos aos pobres e que sua casa, após sua morte, se transformasse numa igreja. No bairro da Boa Vista, no Recife, a frente da Igreja de Santa Cecília é uma provação diária de que seu pedido está sendo atendido.

Lá, cerca de 500 pessoas são alimentadas diariamente, através de doações de projetos sociais. Em muitos casos, essa é a única refeição que as pessoas em situação de rua têm.

O principal projeto envolvido na ação solidária é o Anjos da Noite, que marca presença no local há sete anos e desde março de 2020, quando a Covid-19 chegou ao Brasil, atua diariamente.

De acordo com a fundadora e presidente do grupo de 125 voluntários, Conceição Rodrigues, de segunda-feira até sábado, aproximadamente 300 pessoas jantam através do projeto. Aos domingos, o almoço é o prato servido, e o número de pessoas atendidas se aproxima do dobro.

“Pode ser feriado, dia santo, dia de chuva… estamos aqui todos os dias, porque todos os dias há fome. Têm as pessoas em situação de rua e as que têm casa, mas não tem comida. Aqui é onde eles conseguem a certeza de que pelo menos um alimento eles terão”, disse Conceição.

Na noite desta quarta-feira (5), cerca de 500 pessoas estavam na fila para o jantar. Em alusão à Páscoa, caixas de chocolate também foram entregues. E isso deve se repetir no próximo domingo (9), como em toda data comemorativa. “Será domingo de Páscoa, com direito a peixe e chocolate. No Dia das Mães, tem presente para as mães. No São João, tem milho. No Dia das Crianças, a rua é tomada por brinquedos. No Natal, após a ceia, Papai Noel faz a festa. Se a gente comemora em casa, por que eles não podem também? Somos iguais”, complementou.

Ao longo dos sete anos de atuação, os colaboradores do Anjos da Noite puderam contar com o apoio de doações e voluntários de outros grupos. Um exemplo é o Puglis e Amigos Projeto Solidário, inseridos na rotina em frente da Igreja de Santa Cecília, no bairro da Boa Vista, há três anos. 

Coordenadora do grupo, Mariza Pugliesi, revelou como a ideia “saiu do papel”, e lamentou o constante aumento da fila. “Minhas filhas estavam querendo um grupo para ajudar, e encontramos o Anjos da Noite, que precisava de mais pessoas para ajudar. A demanda aumentou. Somos responsáveis por trazer alimentação toda quarta-feira. Essa fila, infelizmente, só aumenta. Todas as noites, aqui, eles têm a certeza de que vão encontrar um alimento de qualidade, além de um apoio. Temos todo o trabalho de empatia, que dá amparo a eles, não só na parte de alimentos”, afirmou.


Uma das filhas de Mariza é Camila Pugliesi, de 23 anos, que deu detalhes do surgimento do grupo, que divide com outras sete pessoas. “Na pandemia, ficamos muito tempo dentro de casa e sentimos a necessidade de ajudar quem estava passando por necessidades. Em agosto de 2021, uma amiga convidou a gente para participar, e percebemos que estávamos ajudando. Para a gente pode parecer até pouco, mas para eles é muito”, garantiu Camila.

A jovem também citou o retorno na volta para casa, quando já está planejando a próxima ação. “Esse projeto fez uma diferença grande na vida de toda a nossa família. Ver uma pessoa que não comeu nada o dia todo, com um prato de comida na mão e um sorriso no rosto, faz a gente voltar toda semana”, explicou, bastante emocionada.

Pai de Camila e desembargador no Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-PE), Eduardo Pugliesi também lamentou o crescimento na demanda de socorro às pessoas com fome. “Toda semana a fila aumenta e nós fazemos questão de que as datas especiais tenham uma conotação diferente. Agora, por exemplo, iremos distribuir caixas de chocolate e espetinho. Isso é muito importante para a comunidade. A fome aumenta e o Estado, infelizmente, não dá conta”, lamentou.

Junto dele, Leonardo Mendonça, que é procurador no Ministério Público do Trabalho (MPT), também é um dos envolvidos na causa. 

Com trilha sonora
A distribuição das refeições contou, como de costume, com a presença de integrantes da Orquestra do Alto da Mina, comunidade situada no bairro dos Bultrins, em Olinda. Santa Cecília, aliás, é a padroeira dos músicos.

O maestro Israel de França resumiu o sentimento que vive pela quarta vez. “É a quarta vez que a comunidade vem presentear com música as pessoas que não têm nem onde comer”, disse.

Dona Margarida, uma das acolhidas na ação social
Entre as pessoas alimentadas pela ação social, está Dona Margarida Maria Macena de Oliveira, de 75 anos. Ela perdeu sua casa após sofrer um golpe quando se recuperava de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

“No começo da pandemia, tive um AVC. Conheci o presidente de uma associação e ele teve acesso a todos os meus documentos, e quando eu saí do hospital, ele vendeu a minha casa sem eu saber. A vida na rua é péssima. Comecei a morar na rua na pandemia. Como em ações assim e em ações do governo, e em outras vezes eu pego na rua”, disse a senhora, que residia no bairro de Piedade, no Jaboatão dos Guararapes.

Mas não é só a falta de conforto que faz parte dos seus dias difíceis. A ausência de assistência na saúde também é um fator prejudicial na sua vida. 

“Tive quatro internamentos recentemente, e só agora vim me recuperar. Eu estava com um micróbio no corpo todo, da cabeça aos pés. Eu trabalhava numa granja abatendo galinhas e peguei assim. Fiz uma cirurgia no pé, para tirar um caroço cheio de tapurus. Ainda tenho nos dedos das mãos. Venho tratando com pomadas e remédios, tentando me cuidar”, complementou.


Ela, além de buscar seu alimento, também observa o aumento nas filas no dia a dia. Nesta quarta, ela comemorou o chocolate que recebeu junto da janta. Mas em todos os dias, o desejo é de um lar.

“Alimenta muita gente. Por noite, vem mais de 500 pessoas todos os dias por aqui. Eu estou feliz com o chocolate, mas triste porque não tenho onde morar”, finalizou Dona Margarida.


Como ser um voluntário no projeto
Para ajudar as ações que acontecem diariamente na frente da Igreja de Santa Cecília, no bairro da Boa Vista, no Recife, basta entrar em contato com o Anjos da Noite através do whatsapp (81 987437732) ou do aplicativo Instagram (@anjosdanoite_pe).

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