Acordo de cessar-fogo em Gaza está em estágio final, afirmam fontes israelenses e palestinas
Negociações em Doha avançam e dão indícios de superar impasse, mas segundo observadores restam pontos a serem superados
Após sucessivas falhas em avançar com qualquer tipo de trégua por meses, negociadores palestinos e israelenses afirmaram que um acordo de cessar-fogo para interromper os combates na Faixa de Gaza e resgatar os reféns capturados durante o ataque de 7 de outubro está mais próximo do que nunca. Os comentários feitos por fontes envolvidas com as negociações entre segunda e terça-feira indicam que a frente diplomática pode estar finalmente evoluindo.
As evidências de que o acordo está evoluindo ganharam força na segunda-feira, quando o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou que os negociadores do país "nunca estiveram tão perto de um acordo" para a libertação de reféns em Gaza desde a trégua de novembro de 2023, quando 105 reféns foram libertados pelo Hamas. A fala de Katz foi direcionada aos membros da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento, enquanto uma equipe israelense chegava em Doha, para uma nova rodada de tratativas.
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Uma fonte palestina envolvida na negociação indireta — Israel e grupos palestinos como o Hamas dialogam por meio de negociadores, neste caso, representantes de EUA, Egito, Catar e Turquia — ouvida em anonimato pela rede britânica BBC afirmou nesta terça-feira que as conversas haviam chegado a uma "fase final e decisiva".
Ainda de acordo com a mesma fonte — que a rede britânica disse se tratar de uma autoridade sênior do lado palestino —, o plano em discussão envolveria três fases de implementação, com a libertação de civis e militares mulheres nos primeiros 45 dias, enquanto forças israelenses se retirariam de centros urbanos, da estrada litorânea e da faixa estratégica ao longo da fronteira com o Egito. Também haveria uma forma de retornar os cidadãos palestinos ao norte de Gaza.
Antes da terceira fase, com o fim da guerra, ainda haveria um estágio de soltura dos reféns restantes em troca da retirada total de tropas israelenses do enclave.
Uma outra fonte palestina, ouvida na segunda-feira pela agência francesa AFP, também afirmou que as negociações haviam chegado de fato ao momento mais profícuo desde o começo das negociações.
— No que diz respeito às possibilidades de se chegar a um acordo de troca de presos e de cessar-fogo entre a ocupação [Israel] e a resistência [o Hamas e outro grupos palestinos], acho que de fato estamos mais perto do objetivo como nunca estivemos até agora — declarou a fonte, descrito pela AFP como "um dirigente do Hamas contatado em Doha". — [Mas isto se] Netanyahu não fizer descarrilar as coisas intencionalmente como fez a cada vez.
Controle israelense
Embora múltiplas fontes estejam alertando sobre a possibilidade de acordo, ainda há receio sobre o aceite das duas partes quanto aos termos finais. Também na segunda-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, afirmou que as negociações têm sido produtivas, mas que ainda existem reticências.
— Não posso dizer com plena certeza a vocês que isso acontecerá, mas pode acontecer — disse o americano.
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Em uma publicação na rede social X, Katz pareceu contrariar a ideia de retirada em fases mencionada pela fonte palestina ouvida pela BBC, ao afirmar que Israel manteria em Gaza o mesmo controle que exerce atualmente sobre a Cisjordânia.
"Depois de derrotarmos o poder militar e governamental do Hamas em Gaza, Israel terá controle de segurança sobre Gaza com total liberdade de ação, assim como fez na Judeia e Samaria [Cisjordânia]", escreveu Katz. "Não permitiremos nenhuma organização terrorista contra comunidades israelenses e cidadãos israelenses em Gaza. Não permitiremos um retorno à realidade de antes de 7 de outubro". (Com AFP)