Acordo sobre exportação de cereais ucranianos ficará em vigor no inverno
O acordo alcançado abriu caminho para a continuação do comércio no Mar Negro
O acordo que permite a exportação de grãos ucranianos oriundos dos portos ucranianos foi prorrogado e ficará em vigor pelos quatro meses de inverno, eliminando as preocupações sobre uma possível crise alimentar mundial.
"A Iniciativa de Grãos do Mar Negro será prorrogada por 120 dias", anunciou o ministro ucraniano da Infraestrutura, Oleksandre Kubrakov, referindo-se ao acordo previsto para expirar no próximo sábado (19).
Leia também
• Rússia lança nova onda de ataques contra a Ucrânia, que enfrenta nevasca
• Rússia usa vários tipos de minas terrestres na Ucrânia
• G20 pede o fim da guerra e tem fortes críticas à Rússia
Trata-se de um "passo importante na luta contra a crise alimentar mundial", acrescentou.
"Após as conversas a quatro partes organizadas pela Turquia, o acordo sobre o corredor de grãos do Mar Negro foi prorrogado por 120 dias a partir de 19 de novembro", declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em uma mensagem no Twitter.
Um do artífices desse acordo, Erdogan destacou ainda "a importância e o benefício" do pacto "para o abastecimento e segurança alimentar no mundo, com cerca de 500 navios e mais de 11 milhões de toneladas de cereais e produtos alimentares" entregues desde o verão (inverno no Brasil).
O secretário-geral da ONU, António Guterres, recebeu a notícia "com satisfação", em um comunicado transmitido pelo Centro de Coordenação Conjunta (JCC, na sigla em inglês), com sede em Istambul, que supervisiona os movimentos de navios no Bósforo.
"O acordo será mantido por 120 dias nos meses de inverno" e "novos ajustes" poderão ser feitos mais à frente, disse um funcionário turco de alto escalão, que pediu para não ser identificado.
A Rússia confirmou sua renovação, "sem qualquer mudança", depois que Turquia, ONU e Ucrânia anunciaram anteriormente sua extensão.
"A parte russa autoriza a extensão técnica da 'Iniciativa do Mar Negro', sem qualquer mudança, em seus termos e alcance", declarou a diplomacia russa, em um comunicado.
No final de outubro, Moscou se retirou temporariamente do referido acordo, depois de denunciar o uso "para fins militares", por parte da Ucrânia, do corredor humanitário.
Nas últimas semanas, negociações intensas sob mediação da ONU foram realizadas para garantir sua extensão, enquanto mais de 10 milhões de toneladas de grãos continuam bloqueadas em silos na Ucrânia.
Estes cereais são indispensáveis para estabilizar os preços nos mercados internacionais e para abastecer as populações mais vulneráveis ao risco de fome, em particular na África.
Das 11 milhões de toneladas exportadas até hoje, aproximadamente 40% foram entregues a países em desenvolvimento.
Fertilizantes russos
Em seu comunicado, Guterres afirmou também que “a ONU está totalmente comprometida com eliminar os obstáculos que impedem as exportações de produtos agrícolas e de fertilizantes da Federação Russa”.
Embora, a Rússia não tenha feito "novas exigências" desta vez, segundo um negociador, insistiu, nas últimas semanas, no princípio aprovado no verão passado, de suas próprias exportações de fertilizantes e produtos alimentícios.
Na semana passada, negociadores russos e das Nações Unidas se reuniram por várias horas na sede da ONU em Genebra.
Os produtos agrícolas não estão sujeitos às sanções contra a Rússia, mas, devido aos riscos de conflito no Mar Negro, os armadores não estavam aceitando alugar seus navios por falta de segurança.
Segundo uma fonte da ONU próxima às negociações, foi preciso "trabalhar duro" para encontrar uma forma de garantir as exportações russas de produtos agrícolas e fertilizantes.
Foi possível estabelecer um marco "em matéria de seguros, entrada nos portos, transações financeiras e acesso ao transporte marítimo", coerente com os três sistemas de sanções em vigor nos Estados Unidos, no Reino Unido e na União Europeia, acrescentou a mesma fonte.
"Era necessário esclarecer esse marco político para que os atores do setor privado voltassem a se comprometer com a Rússia", explicou.
Além disso, a ONU "facilitou, com caráter humanitário", a entrega de 260 mil toneladas de fertilizantes russos. O primeiro carregamento irá para o Malauí, um dos países mais necessitados da África Austral.
Com o aumento dos preços do gás, a Europa suspendeu 70% de sua produção de fertilizantes. Essa escassez e a quase ausência de fertilizantes russos no mercado mundial causam "um aumento de mais de 250% dos preços em relação aos níveis anteriores à pandemia" em 2020, estima a ONU.
O acordo alcançado abriu caminho para a continuação do comércio no Mar Negro.