Adolescentes afegãs devastadas após fechamento das escolas
Poucas horas depois da reabertura das escolas, o regime talibã ordenou que as alunas voltassem para casa
"Para nós, o Afeganistão virou uma prisão", resume Malahat Haidari, de 11 anos, depois que os talibãs ordenaram o fechamento das escolas do Ensino Médio para as mulheres, após uma reabertura de algumas horas.
Na quarta-feira (24), milhares de adolescentes celebraram a possibilidade de retornar às aulas e reencontrar suas colegas e professoras.
Em uma decisão ao mesmo tempo brutal e inesperada, porém, apenas poucas horas depois da reabertura das escolas do Ensino Médio, o regime talibã ordenou o fechamento das instituições de ensino e que as alunas voltassem para casa.
"Chorei muto", contou Haidari, um dia depois de ser obrigada a deixar a escola Al Fatah de Cabul.
"Nos tratam como criminosas apenas porque somos garotas. Por isso, tiraram a gente da escola", disse ela à AFP, em casa, em um bairro nobre da capital.
Com a decisão dos talibãs, os analistas temem que os novos líderes do país voltem a proibir a escolarização das meninas, como aconteceu durante seu primeiro governo, de 1996 a 2001.
Quando os talibãs tomaram o poder em agosto, as escolas estavam fechadas pela pandemia da Covid-19. Dois meses depois, no entanto, apenas os homens e as meninas do ensino básico foram autorizados a retomar as aulas.
Leia também
• ONU estabelece relação formal com Afeganistão
• Banco Mundial anuncia ajuda de mais de US$ 1 bilhão ao Afeganistão
• Chefe do Estado Islâmico no Afeganistão se coloca na mira dos EUA
As autoridades não apresentaram nenhuma explicação clara sobre a mudança repentina de postura.
De acordo com informações que vazaram após uma reunião secreta de dirigentes do movimento na terça-feira à noite em Kandahar (sul), as razões citadas vão da necessidade de uniformes padronizados até a rejeição da necessidade de educação para as adolescentes.
O Ministério da Educação continua a afirmar que as escolas serão reabertas, mas apenas após a definição de novas diretrizes.
"Até ontem, não apenas eu, mas todos a quem você perguntasse, acreditavam que (os talibãs) haviam mudado", disse Adeeba, irmã de Malahat, de 13 anos.
"Quando enviaram todas para casa, nós percebemos que estes talibãs são os mesmos de 25 anos atrás", completa.
"Sentimos falta de nossa liberdade. Temos saudade das nossas colegas de turma e professoras", disse Adeeba.
Integrantes de uma família rica, as irmãs sempre foram estimuladas pelos pais a estudar.
Medo das mulheres
Do outro lado da cidade, Nargis Jafri, de 14 anos e da minoria hazara, acredita que os talibãs têm medo das mulheres com acesso à educação.
"Eles acreditam que, se estudarmos, obteremos conhecimento e lutaremos contra eles", disse à AFP.
"Isso dá medo neles", reflete, sem conter as lágrimas.
Jafri, que estuda no instituto Marafat de Cabul, considera injusto que os meninos de sua idade possam frequentar a escola, enquanto ela deve permanecer em casa. "É realmente duro", afirma.
As histórias que sua mãe, Hamida, conta sobre os talibãs provocam medo.
"Antes, eu me sentia estranha quando ela contava como usava uma burca, ou um xador, ou como uma mulher não podia sair sem estar acompanhada de um homem da família", explica. "Agora, tudo volta à minha cabeça", conta.
Depois de sete meses no governo, os talibãs determinaram uma série de restrições às mulheres. Elas não têm acesso a muitos empregos públicos, as vestimentas são controladas e não podem viajar sozinhas para fora das cidades de residência.
Os islamitas também prenderam várias ativistas que defenderam os direitos das mulheres.
Hamida tinha 10 anos quando foi obrigada a abandonar a escola. Agora, ela está preocupada com o futuro da filha. "Os sonhos no coração dela serão partidos", lamenta.