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Adolescentes suecos recrutados por gangues são usados pelo Irã para atacar instalações israelenses

Segundo fontes do Serviço de Segurança Sueco, o Irã usa as redes criminosas suecas para manipular os jovens e satisfazer suas vontades

TeerãTeerã - Foto: Atta Kenare/AFP

Uma investigação revelada pela CNN aponta que gangues suecas vêm recrutando adolescentes para realizar atentados contra instalações israelenses em solo europeu, a mando do regime iraniano. Segundo fontes do Serviço de Segurança Sueco (SÄPO), o Irã usa as redes criminosas suecas para manipular os jovens e satisfazer suas vontades, tornando a crise com Israel ainda mais perigosa.

Os casos mais alarmantes ocorreram em maio do ano passado, quando dois adolescentes, de 14 e 15 anos, foram recrutados para atacar a embaixada israelense em Estocolmo, na Suécia. O mais velho foi interceptado pela polícia antes de concluir sua missão, mas o segundo conseguiu disparar vários tiros próximos ao local antes de ser detido.

— Isso se torna um problema para nós quando é outro estado, como o Irã, que usa essas crianças como um proxy — afirmou Fredrik Hallström, chefe de operações da SÄPO, à CNN. — O crime organizado na Suécia agora é uma enorme vulnerabilidade que está sendo usada por atores estatais.

Irã e Israel estão envolvidos em uma “guerra de sombras” há anos, empregando espiões, assassinos pagos, redes criminosas, atividades cibernéticas e outros meios secretos para atacar um ao outro, principalmente no Oriente Médio. Mas, nos últimos anos, os Estados Unidos, a União Europeia e o Reino Unido alertaram sobre um aumento nas ameaças do estado iraniano no Ocidente, com conspirações realizadas por procuradores visando dissidentes e jornalistas, bem como israelenses e judeus.

— Depois de 7 de outubro, vimos esse tipo de modus operandi — acrescentou Hallström, referindo-se aos ataques liderados pelo Hamas contra Israel em 2023 que desencadearam a guerra em Gaza. O Hamas, inclusive, é apoiado pelo Irã.

A CNN encontrou exemplos recentes de ataques planejados em locais israelenses e judeus na Europa, onde redes criminosas ligadas ao Irã supostamente exerceram pressão sobre a população local para realizar os crimes, de acordo com documentos judiciais. Entre os alvos: uma sinagoga e um centro memorial judaico na Alemanha, e um restaurante e centro de oração judaico na Grécia. A embaixada do Irã em Estocolmo, por sua vez, rejeitou as alegações, afirmando que as informações são "falsas e propagandísticas" promovidas por Israel.

O promotor Fredrik Ingblad classificou os eventos como parte de uma série de tentativas contra a embaixada israelense, ligadas às gangues suecas rivais Foxtrot e Rumba. Ambas são comandadas por líderes foragidos — Rawa Majid e Ismail Abdo — acusados de vínculos diretos com o Ministério de Inteligência e Segurança do Irã (MOIS). Segundo o Tesouro dos EUA, “o uso descarado de organizações criminosas transnacionais e narcotraficantes pelo Irã ressalta as tentativas do regime de atingir seus objetivos por quaisquer meios, sem levar em conta o custo para as comunidades em toda a Europa”.

Jovens são usados como ferramentas
Ainda de acordo com a CNN, o uso de menores por organizações criminosas tem aumentado na Suécia. Em 2024, 30% dos suspeitos de assassinatos relacionados a armas tinham menos de 18 anos. Os jovens são recrutados por serem facilmente manipuláveis e receberem sentenças mais brandas — ou sequer respondem criminalmente, como no caso do garoto de 14 anos.

Documentos judiciais e policiais revelam que os adolescentes recebiam orientações por mensagens criptografadas e eram atraídos por promessas de dinheiro, status e proteção. A mãe de um dos jovens disse às autoridades que acreditava que ele estava sendo explorado por homens que agiam como “irmãos mais velhos”, dando-lhe uma falsa sensação de segurança.

— Eles são apenas a ferramenta, pressionados a fazer isso — disse Magnus Ranstorp, especialista em contraterrorismo, acrescentando que as operações não possuem alta sofisticação, mas representam grave ameaça.

A Suécia, conhecida por ter uma das redes de segurança social mais consolidadas do mundo e uma forte cultura de cuidar de pessoas vulneráveis, tornou-se sinônimo de crimes violentos na Europa. Agora, tem uma das maiores taxas de crimes com armas de fogo do continente, de acordo com um estudo do Conselho Nacional Sueco para Prevenção ao Crime (Brå).

Em janeiro de 2025, o país registrou 33 explosões relacionadas a gangues — o maior número já registrado em um único mês. A violência armada foi a causa mais comum de morte violenta na Suécia em 2024, mas a taxa de homicídios e homicídios culposos do país caiu em meio ao aumento da vigilância, de acordo com estatísticas divulgadas pelo Brå em março.

As gangues nas redes sociais
O fenômeno é impulsionado pela atuação das gangues nas redes sociais. Plataformas como Telegram, Snapchat e Instagram, de acordo com a CNN, são usadas para aliciar jovens com promessas de dinheiro em troca de serviços criminosos. Emojis são usados como códigos: uma caveira representa assassinato; um símbolo de dinheiro, o pagamento; uma raposa indica ligação com a Foxtrot, enquanto um morango representa a Rumba.

— Essas crianças estão filmando tudo. Elas tiram fotos de si mesmas com aquela arma e mandam para os amigos antes ou depois do tiroteio, e se gabam disso porque sabem que, por meio desses anúncios, ganham status social — disse Luay Mohageb, ex-interrogador da polícia sueca, à CNN.

Assistentes sociais enfatizaram que crianças recrutadas para gangues devem ser vistas como vítimas de um sistema que falhou em protegê-las, em vez de criminosas. Sem uma intervenção forte, segundo eles, as crianças continuam em risco de exploração e presas em um ciclo de violência.

— É um desastre nacional — afirmou o superintendente John Forsberg, da Polícia Nacional Sueca. — Essas crianças agora cruzam fronteiras para cometer crimes. Isso é um problema europeu.

Entenda: Suécia planeja restringir acesso a armas após ataque a tiros com 10 mortos

Em depoimento, ainda segundo a CNN, o adolescente de 15 anos afirmou ter sido enganado.

— Inicialmente pensei que o trabalho era transportar cannabis. Me senti enganado e com raiva quando me disseram para pegar uma arma.”

Logo após sua prisão, sentado na viatura, o jovem disse a um dos policiais que era tarde demais para ele sair da gangue.

— Eles ainda encontrarão você, não importa onde você esteja — afirmou o menino.

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