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Estados Unidos

Advogado que virou algoz de Trump faz acordo com firma do ex-presidente sobre pagamentos de US$ 1 mi

Michael Cohen acusava a companhia de se recusar a pagar mais de US$ 1 milhão em custos legais e romper acordos

Michael Cohen, ex-advogado de Donald Trump, ao lado de seu advogado, Lanny Davis (esqeurda) Michael Cohen, ex-advogado de Donald Trump, ao lado de seu advogado, Lanny Davis (esqeurda)  - Foto: Reprodução Jefferson Siegel/NYT

O antigo advogado do ex-presidente Donald Trump, Michael Cohen fechou nesta sexta-feira um acordo judicial com a Organização Trump, firma do republicano, pondo fim a um processo que movia desde 2019 contra a companhia. Ex-aliado que virou um algoz ferrenho do antigo mandatário dos Estados Unidos, Cohen acusava a firma de lhe dever US$ 1 milhão em custos legais e descumprir acordos previamente firmados.

A informação foi confirmada por advogados de ambas partes, faltando dias para o início do julgamento: os integrantes do grande júri — que nos EUA não são convocados apenas para crimes dolosos contra a vida, como no Brasil —, já haviam começado a ser escolhidos. Estava previsto que as partes começassem a apresentar seus argumentos na segunda-feira.

Em uma audiência nesta sexta, no entanto, o advogado de Cohen, Hunter Winstead, e o representante da Organização Trump, James Kiley, afirmou que havia consenso sobre os termos para um acordo. Os pormenores, contudo, ainda não foram finalizados, e são confidenciais. O juiz do caso, Joel Cohen, que não tem relação com o ex-aliado de Trump, disse que o julgamento está suspenso até que as arestas sejam aparadas.

Uma queixa paralela que Trump apresentou contra Cohen no ramo da Justiça Federal na Flórida, contudo, continua ativa — o ex-presidente acusa o antigo aliado de "disseminar mentiras" e divulgar informações confidenciais, em um caso cuja viabilidade jurídica é questionada por analistas. O acordo também não afeta a expectativa de que Cohen seja uma testemunha-chave contra o ex-presidente no julgamento criminal do caso Stormy Daniels.

No caso referente ao acordo recém-selado, entretanto, Cohen afirmava que a Organização Trump havia concordado, tanto oralmente quanto por escrito, de pagar por quaisquer serviços que prestasse durante as diversas audiências no Congresso e investigações que acompanhou em 2017 e 2018. Entre elas, a investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller sobre a interferência russa nas eleições de 2016.

De acordo com a queixa, a forma inicialmente pagou o acordado, mas suspendeu as transferências após Cohen concordar em cooperar com as investigações, algo que Trump se recusava a fazer. Não era esperado que o ex-presidente comparecesse para depor no julgamento agora suspenso, mas seu filho, Donald Trump Jr., havia sido intimado, como vice-presidente da firma familiar, e deveria ir ao tribunal na semana que vem.

Cohen foi um aliado importante do ex-presidente até a metade dos anos trumpistas na Casa Branca, um dos homens que tinham como função limpar as bagunças deixadas pelo então chefe. Uma dessas situações ocorreu em 2016, antes de Trump se eleger presidente, quando o advogado soube que a estrela pornô Stormy Daniels tentava vender para a imprensa o relato de uma affair que teria tido com Trump na década anterior, quando ele era recém-casado com sua terceira e atual mulher, Melania.

Pouco após a descoberta, Cohen pagou US$ 130 mil a Daniels para silenciá-la e, durante o ano seguinte, foi reembolsado por Trump em transações que agora estão sob escrutínio da Justiça. Elas são partes-chave da acusação apresentada em abril pela Promotoria de Nova York contra o ex-presidente, acusado de falsificar registros comerciais para disfarçar os pagamentos — imputação que transformou o republicano no primeiro antigo ocupante da Casa Branca a se sentar no banco dos réus.

Em 2018, como parte de uma investigação referente ao pagamento de suborno, agentes do FBI, a Polícia Federal americana, fizeram uma varredura na casa, no escritório e em um hotel onde a família de Cohen havia ficado. O episódio abalou a relação do então advogado de Trump com seu cliente, e os dois brigaram.

Em agosto daquele ano, Cohen declarou-se culpado de vários crimes, inclusive alguns relacionados ao pagamento de suborno às vésperas da eleição de 2016, cumpriu pena de prisão e foi expulso da ordem. Consolidou seu papel como algoz de Trump meses depois, contudo, quando depôs contra o então presidente em uma audiência no Congresso.

O acordo firmado entre a Organização Trump e Cohen deve evitar um julgamento, mas os problemas legais para Trump não são poucos. Em 2 de outubro, começa o julgamento civil das acusações de fraude contra a Organização Trump, que tem como réus Trump e seus dois filhos mais velhos, Donald Jr. e Eric. A Procuradoria-geral de Nova York pede US$ 250 milhões em danos, alegando que o patrimônio da companhia foi supervalorizado para benefícios fiscais e empréstimos sob melhores condições.

Em 15 de janeiro deve começar um segundo julgamento civil referente as acusações feitas pela colunista E. Jean Carroll, que agora acusa o ex-presidente de difamação. Em maio deste ano, um júri federal de Manhattan considerou Trump responsável pelo abuso sexual e difamação contra a escritora, demandando um pagamento de US$ 5 milhões (R$ 24,9 milhões) em danos referentes ao incidente que teria ocorrido no vestiário de uma loja de departamento nos anos 1990.

Embora estupro e abuso sexual sejam ofensas de natureza criminal no estado, elas estão prescritas. O processo no âmbito civil só foi possível após Nova York aprovar uma legislação para que vítimas de abuso pudessem abrir processos pedindo compensações por casos passados, apontado como uma conquista do movimento #MeToo. O processo que irá a julgamento no início de 2024, contudo, refere-se a declarações feitas por Trump quando Carroll veio à tona com sua historia

O julgamento do caso Stormy Daniels deve começar em março. Já os procedimentos relacionados às segundas acusações criminais contra Trump, no caso dos documentos sigilosos que levou consigo ao deixar o poder, pondo em risco segredos de Estado, deve começar no dia 20 de maio.

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