Aerolíneas Argentinas: greve de 24 horas cancela mais de 300 voos e afeta 37 mil passageiros
Desde a meia-noite deste sábado, foram canceladas 62 partidas e 41 chegadas em Aeroparque e Ezeiza
Desde a sexta-feira ao meio-dia, e até as 12h deste sábado, pilotos e trabalhadores aeronáuticos da Associação Pilotos de Linhas Aéreas (APLA) e da Associação Argentina de Aeronavegantes (AAA) lideraram uma greve no Aeroparque e em Ezeiza, afetando mais de 37 mil passageiros e 319 voos nos dois aeroportos de Buenos Aires.
O governo de Javier Milei aumentou a pressão e garantiu aos trabalhadores que "o aumento que pode ser concedido é de 0%".
A greve de 24 horas é a mais longa desde o início do conflito entre os sindicalistas aeronáuticos e o governo. Enquanto os sindicatos reivindicam um aumento salarial de pelo menos 25%, o governo de Milei oferece 11%, e tem como pano de fundo a intenção de privatizar a empresa, apesar de a medida ainda não ter sido autorizada pelo Congresso.
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Além disso, também aderiu à greve a Intercargo, responsável pela infraestrutura de aeroportos, prejudicando os passageiros que compraram passagens com as low-cost JetSmart e Flybondi.
Esta última companhia transferiu todas as suas operações para o Aeroporto Internacional de Ezeiza até as 15h, já que lá não dependem da estatal.
"A decisão já permitiu que mais de 15 mil pessoas realizassem suas viagens. No entanto, a transferência de mais de 60 voos, entre sexta-feira e hoje, gera um impacto econômico e um esforço operacional que a companhia enfrenta por causas externas e que não é sustentável no tempo se o conflito sindical se intensificar", afirmou a empresa em comunicado.
Enquanto isso, segundo informações obtidas pelo La Nacion, está sendo elaborado um esquema de normalização para todas as companhias aéreas após o fim da greve.
Fontes do setor indicaram que o custo econômico da greve superará US$ 2,5 milhões, devido à perda de vendas, multas, compensações, hotelaria, transportes, refeições e despesas correlatas.
Desde a meia-noite deste sábado, foram canceladas 62 partidas e 41 chegadas em Aeroparque e Ezeiza. Às 12h20, sairá o primeiro voo da companhia aérea estatal em 24 horas com destino à cidade de Mar del Plata (AR1608), a bordo de um Embraer-190.
No meio da greve, a Câmara de Companhias Aéreas da Argentina (Jurca) emitiu um comunicado manifestando "preocupação" pela quantidade de voos afetados devido à paralisação dos serviços de rampa em Aeroparque e Ezeiza.
"Só prejudica o desenvolvimento e a evolução da indústria aérea, um dos principais motores da economia do país, que permite a conectividade nacional e internacional e o transporte de carga", indicou. Na mesma linha, alertou sobre a medida "irracional" que afeta milhares de passageiros.
A greve no Aeroparque
Na manhã de sábado, o Aeroparque Jorge Newbery tinha setores da Aerolíneas Argentinas completamente vazios.
Os balcões, que normalmente estariam cheios de passageiros, permaneciam silenciosos, enquanto as telas informavam sobre a situação do conflito sindical.
A falta de movimento era complementada pela calma que predominava nos corredores, onde os funcionários aguardavam a resolução do conflito.
Por outro lado, nesta terminal, a JetSmart operou normalmente e suas filas de passageiros encheram um aeroporto onde grande parte dos voos estava cancelada.
Patricia, uma passageira afetada pelos cancelamentos, contou que a irmã vinha da cidade de Formosa com a filha, recém operada na coluna, para um tratamento na capital.
"Ela tinha uma hospedagem, mas já entregou o quarto hoje de manhã para voltar à Formosa. Cancelaram o voo dela e deram um novo para segunda-feira às 9h, mas todo esse domingo fica sem acomodação", explicou Patricia. Sobre o caso, a resposta da companhia aérea foi limitada. "A empresa só troca o bilhete, nada mais", comentou a passageira com preocupação.
Às vésperas de uma normalização para o meio-dia, o setor de check-in começou a atender os primeiros passageiros, em sua maioria estrangeiros, que se aproximaram das filas.
As malas, que haviam começado a se acumular de um lado, foram movidas pelos próprios trabalhadores da companhia aérea, que decidiram retomar algumas de suas tarefas enquanto aguardam novidades sobre a situação.
Um casal tentava acalmar os três filhos, frustrados após o cancelamento do voo para Bariloche.
"O voo está cancelado e temos tudo pago", comentou o pai. A família tinha a viagem organizada, desde a hospedagem até as excursões, e agora enfrenta a possibilidade de reprogramar suas férias.
"Custou muito esforço organizar tudo e as crianças estavam muito empolgadas. Só esperamos que uma solução possa ser encontrada em breve", acrescentou a mãe.
A greve em Ezeiza
Após uma manhã atípica na área de check-in da Ilha D do Aeroporto Internacional de Ezeiza, de onde opera a Aerolíneas Argentinas que começou sem a presença de usuários e com as recepções vazias , o registro dos bilhetes da companhia aérea nacional começou a operar a partir das 9h.
"Todos os voos antes das 12h foram cancelados, evitando a acumulação de pessoas na área de embarque e, ao mesmo tempo, permitindo que os voos programados para depois do meio-dia possam sair no horário; eles já podem fazer o check-in", informou a Aerolíneas
Luisina tem 42 anos, é advogada e vive em Santa Fé. Tinha reservado um voo com a Aerolíneas Argentinas com destino final a Madri, na Espanha, com escala no Aeroporto Internacional de Córdoba e outra em Ezeiza.
"Quando cheguei em Córdoba, meu voo foi reprogramado três vezes até que foi diretamente cancelado para Buenos Aires, então tive que pegar um ônibus, caso contrário, perderia diretamente a viagem", explicou.
Por parte da companhia aérea, os passageiros receberam a confirmação de que o voo, com horário para as 13h30, "sairá sem problemas" ou "no máximo com um pequeno atraso", já que está fora da duração prevista da greve.
Desafio do governo
A greve de 24 horas é a mais longa e a de maior adesão desde que Javier Milei assumiu a presidência. Os sindicatos afirmam que os profissionais perderam 75% do poder aquisitivo desde a desvalorização e o forte ajuste fiscal implementado pela administração libertária em dezembro.
O governo, em cada ocasião, aumenta a aposta: rebaixou a categoria das passagens anuais para os pilotos (de executiva para econômica) e já demitiu três comandantes.
Neste sábado, o ministro da Desregulação e Transformação do Estado, Federico Sturzenegger, tensionou ainda mais a relação com os sindicatos e declarou: "O aumento que o governo pode conceder é de 0%."
"Você tem uma empresa pública com prejuízo, que pode cobrar o preço que quiser, e há companhias aéreas que competem com ela e se manejam com capital privado. Com que direito podem pedir um aumento salarial? A empresa deve ser gerida com eficiência e não gerando aumentos salariais às custas do contribuinte, que está cansado disso. Daí vem a firmeza do governo nesta negociação salarial", disse Sturzenegger em uma entrevista no rádio.
Além disso, informou que a essencialidade do setor aerocomercial entrará em vigor a partir da próxima segunda-feira e que, a partir de então, deverá ser garantido, no mínimo, 50% do serviço durante uma greve sindical, a qual também deverá ser anunciada com um mínimo de cinco dias de antecedência.