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Rio Grande do Sul

Água toma museus em Porto Alegre, mas acervo é salvo das enchentes

Quase seis mil obras foram removidas para áreas seguras dentro das instituições culturais, que continuam alagadas

Roca Sales, Rio Grande do SulRoca Sales, Rio Grande do Sul - Foto: GUSTAVO GHISLENI/AFP

Uma boa notícia em meio à tragédia. Os acervos artísticos e históricos de Porto Alegre não foram atingidos pelas enchentes na cidade. Nos dias anteriores ao alagamento, quase seis mil obras haviam sido transportadas para andares superiores de suas instituições, onde permanecem fora de risco, de acordo com a Secretaria de Cultura do Estado. Os prédios da Casa de Cultura Mario Quintana, o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) chegaram a ser invadidos pela água e vão necessitar de restauro.

O setor de preservação de patrimônio da capital gaúcha está em estado de alerta desde a elevação sem precedentes do Rio Guaíba. O rio atingiu no sábado 5,9m. Uma força tarefa da Secretaria de Estado da Cultura adotou medidas para proteger acervos de quatro espaços sob sua gestão (os três citados acima, além do Memorial do Rio Grande do Sul). As equipes movimentaram obras e documentos do subsolo para o primeiro andar.

Força-tarefa

No caso do Margs, algumas de suas principais obras, como “Bal a Pont L’Abbé” (sem data), de Lucien Simon, e “Ataque automático” (1985), de Milton Kurtz, já se encontravam nos andares superiores. Elas estavam sendo exibidas na exposição “Margs 70 — Percursos de um acervo”, que comemora os 70 anos do museu e reúne obras que vão do século XIX até a atualidade.

— Iniciamos o protocolo de maior gravidade do nosso plano de gerenciamento de riscos — diz Francisco Dalcol, diretor do Margs. —A operação de remover obras de arte é difícil e demorada, mas montamos uma força-tarefa emergencial, que trabalhou até o último minuto possível e conseguiu levar as peças para os andares de cima antes de a água chegar na Praça.

De acordo com a secretária de cultura Beatriz Araújo, vistorias presenciais realizadas ontem confirmaram que os acervos dos quatro espaços culturais estavam inteiramente preservados. As estruturas dos prédios sofreram com as enchentes. O interior do Margs, por exemplo, acumulava água até a altura do peito dos integrantes da equipe que fez a vistoria dos estragos no local. Araújo diz que já recebeu ofertas de ajuda de ONGs internacionais para reconstrução.

— Não temos ainda a total dimensão dos estragos nos prédios, mas já sabemos o que precisará ser feito — diz Beatriz Araújo. — Será necessário reformar a parte sanitária, logística, o sistema elétrico, de alarme, além do mobiliário de toda a parte administrativa, e a compra de novos computadores.

Sem climatização

A rede elétrica dos espaços foram preventivamente desligadas. A falta de climatização poderá prejudicar a preservação de algumas obras, mas sem risco de causar estragos importantes, afirma Araújo. A segurança é outro motivo de alerta. Em meio a denúncias de saques a residências e comércios, forças de segurança monitoram diariamente a área entre os museus.

Os comércios ligados às instituições culturais também sofreram com as enchentes. Ocupando desde 2020, um espaço no térreo da Casa de Cultura Mário Quintana, a tradicional livraria Taverna teve parte do seu acervo e mobiliário afetado pela água, que subiu até a altura dos joelhos dentro da loja. Ao entrar na livraria ontem, o sócio Ederson Lopes encontrou exemplares úmidos, com papel já envergado.

— A gente passou boa parte dos livros para o mezanino e erguemos a um metro nas estantes — conta Lopes. — É um prejuízo enorme e ainda incalculável, a loja está totalmente inundada. A gente torcia para que a água não chegasse ao nível que chegou. Mas ao entrar ontem vimos que ela chegou e num nível devastador.

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