Alemanha pede 'perdão' 50 anos após o atentado nos Jogos de Munique
Em 2012, Israel liberou 45 documentos oficiais sobre as mortes, incluindo textos que reprovam a atuação dos serviços de segurança alemães
O chefe de Estado alemão, Frank-Walter Steinmeier, pediu nesta segunda-feira (5) "perdão" aos parentes das vítimas israelenses da tomada de reféns nas Olimpíadas de Munique de 1972, assumindo a responsabilidade pelos "fracassos" que acompanharam a tragédia.
As cerimônias para marcar os 50 anos do ataque de um comando palestino que custou a vida de onze atletas reuniram israelenses e alemães para tentar curar as feridas ainda abertas da tragédia.
Em nome da Alemanha, o presidente Frank-Walter Steinmeier pediu desculpas aos parentes das vítimas e assumiu a responsabilidade pelos erros cometidos pelas autoridades alemãs.
Leia também
• Alemanha e Israel recordarão o 50º aniversário do massacre nos Jogos Olímpicos de Munique
• Alemanha faz acordo de indenização com famílias de vítimas de atentado nos Jogos Olímpicos de 1972
"Como chefe de Estado deste país e em nome da República Federal da Alemanha, peço desculpas pela falta de proteção dos atletas israelenses durante as Olimpíadas de Munique e pela falta de explicação depois; pois o fato que aconteceu poderia ter acontecido", declarou na presença de seu colega israelense, Isaac Herzog.
A cerimônia decorreu na base militar de Fürstenfeldbruck, a cerca de 30 quilômetros de Munique, onde uma ação policial mal preparada para libertar os reféns terminou num "banho de sangue", nas palavras do presidente alemão.
"Estamos falando de uma grande tragédia e um triplo fracasso. O primeiro fracasso diz respeito à preparação dos Jogos e ao conceito de segurança. O segundo são os acontecimentos de 5 e 6 de setembro de 1972. O terceiro fracasso começa no dia seguinte ao ataque: silêncio, repressão, esquecimento", acrescentou Steinmeier.
A primeira cerimônia aconteceu na manhã desta segunda-feira na Vila Olímpica de Munique, onde ocorreu a tomada de reféns.
O prefeito Dieter Reiter pediu desculpas pelos "erros" cometidos na ocasião. "Peço desculpas porque depois do ataque não foi feito o que exigia a humanidade, que era admitir os erros e assumir a responsabilidade", disse.
O evento esteve a ponto de não acontecer por divergências sobre a indenização oferecida pelo governo alemão aos parentes. No entanto, na quarta-feira da semana passada um acordo de 28 milhões de euros foi alcançado.
Ainda assim, o Estado alemão reconheceu sua "responsabilidade" pelos fatos que permitiram a morte de 11 atletas israelense durante os Jogos.
"Nem o mínimo esforço"
Em 5 de setembro de 1972, oito homens armados do grupo palestino Setembro Negro invadiram o apartamento da equipe israelense na Vila Olímpica, onde mataram dois atletas e tomaram nove como reféns.
A polícia da Alemanha Ocidental respondeu com uma fracassada operação de resgate na qual morreram os nove reféns, cinco dos oito sequestradores e um policial.
O incidente causou uma profunda brecha diplomática entre Alemanha e Israel.
Em 2012, Israel liberou 45 documentos oficiais sobre as mortes, incluindo textos que reprovam a atuação dos serviços de segurança alemães. Um documento do ex-chefe de inteligência israelense, Zvi Zamir, afirma que a polícia alemã "não fez nenhum esforço para salvar vidas".
"Incompreensíveis"
Os familiares das vítimas lutaram anos pelas desculpas da Alemanha, acesso aos documentos oficiais e uma indenização adequada, superior aos 4,5 milhões de euros inicialmente oferecidos.
Ankie Spitzer, esposa de Andre Spitzer, um dos mortos, considerou a oferta inicial "insultante".
Herzog destacou a dor dos familiares e afirmou que eles "encontraram uma barreira" quando tentar abordar o tema com a Alemanha e o Comitê Olímpico Internacional (COI).
O presidente israelense indica falhas "desumanas e incompreensíveis", tal como "o fato de os Jogos terem continuado após os reféns terem sido levados ao cativeiro".
"Espero que a partir de agora, continuem sendo lembradas e principalmente reafirmadas as lições desta tragédia, incluindo a importância de combater o terrorismo nas gerações futuras", expressou Herzog.