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Conflito

Aleppo, Hama, Daraa: coalizão rebelde avança na Síria para derrubar regime de Assad

Campanha militar foi iniciada na semana passada, reacendendo um conflito que estava estagnado há anos e mexendo com o status quo do domínio territorial

Combatentes carregam foguete na periferia da cidade de Hama, na Síria Combatentes carregam foguete na periferia da cidade de Hama, na Síria  - Foto: Bakr al-Kassem/AFP

Após tomar Hama, quarta maior cidade da Síria, nesta sexta-feira, e Aleppo, segunda maior, na semana passada, a coalizão rebelde liderada pelo grupo jihadista Hayet Tahrir al-Sham (HTS) agora avança em direção a Homs, a 160 km de Damasco, em sua empreitada derrubar o governo de Bashar al-Assad. A campanha militar foi iniciada na semana passada, pegando de surpresa o regime sírio, reacendendo um conflito que estava estagnado há anos e mexendo com o status quo do domínio territorial.

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Na tarde desta sexta-feira o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), monitor que acompanha o conflito a partir de Londres, afirmou que a cidade de Daraa, no sul do país, assim como a maior parte da província de mesmo nome passaram para o controle dos rebeldes. Daraa foi um dos epicentros dos protestos contra o regime em 2011, em meio à Primavera Árabe, e foi cenário de uma ampla repressão das forças estatais, deixando cerca de 240 mortos, incluindo crianças.

Em uma entrevista publicada na sexta-feira, o líder do HTS, Abu Mohammed al-Jolani, disse que o objetivo da ofensiva é derrubar Assad.

— Quando falamos sobre objetivos, o objetivo da revolução continua sendo a derrubada deste regime. É nosso direito usar todos os meios disponíveis para atingir esse objetivo — disse Jolani à CNN.

Na semana passada, enquanto os jihadistas lançaram a ofensiva a partir de Idlib — província a qual estavam restritos nos últimos anos, tomando Aleppo, e continuam a avançar contra as zonas sob controle do governo —, tropas do Exército sírio apoiadas pelo Irã foram vistas se retirando da cidade de Deir Ezzor, no leste, em direção à região central, sob ataque rebelde.

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Com a movimentação, as Forças Democráticas da Síria, coalizão liderada por tropas curdas, anunciaram que enviavam suas tropas estacionadas no nordeste do país para áreas de onde os homens de Assad se retiraram, em Deir Ezzor e a oeste do Rio Eufrates. Daraa foi apelidada de "o berço da revolução" no início da guerra civil da Síria, depois que ativistas acusaram o governo de deter e torturar um grupo de garotos por pichações anti-Assad nos muros de suas escolas em 2011.

Apoiadas pelos EUA e principal resistência no enfrentamento ao Estado Islâmico na década passada, as forças curdas temem que a atual ofensiva possa atiçar células do Estado Islâmico na região — estimativas do Conselho de Segurança da ONU apontam que o grupo ainda tem cerca de 3 mil homens na Síria e no Iraque.

Embora venha sofrendo reveses subsequentes no campo de batalha, o Exército sírio continua tentando se reorganizar e coordenar os esforços para conter o avanço rebelde e recuperar o território perdido. À medida que os jihadistas avançavam rumo ao sul, o Ministério da Defesa da Síria afirmou que bombardeava as forças inimigas na província de Hama, de onde foram forçados a deixar a capital no dia anterior.

Em Homs, cenário de alguns dos momentos mais violentos da guerra, dezenas de milhares de membros da minoria alauíta de Assad estavam fugindo, temendo o avanço dos rebeldes, disseram moradores e o observatório britânico.

Os sírios que foram forçados a deixar o país anos atrás pela repressão inicial à revolta ficaram grudados em seus celulares enquanto assistiam aos acontecimentos atuais.

— Sonhamos com isso há mais de uma década — disse Yazan, um ex-ativista de 39 anos que agora mora na França.

Questionado se estava preocupado com a agenda islâmica do HTS, ele disse:

— Não importa para mim quem está conduzindo isso. O próprio diabo pode estar por trás disso. O que as pessoas se importam é quem vai libertar o país.

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