Os alimentos orgânicos são realmente melhores? (A resposta é surpreendente)
Estudos compararam a quantidade de nutrientes e o impacto de agrotóxico na saúde
Estamos na primavera, o que significa que as seções de produtos dos supermercados estão repletas de frutas e vegetais coloridos e suculentos, como manga, melão, abacaxi, abóbora— e, na maioria das vezes, com versões orgânicas mais caras de cada um.
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Se compras orgânicas não estão no seu orçamento nesta primavera, os especialistas afirmam que não há motivo para preocupação, pois você provavelmente obterá os mesmos benefícios nutricionais dos alimentos convencionais.
O mais importante, eles acrescentam, é seguir uma dieta saudável com muitas frutas e verduras.
Por que os alimentos orgânicos são mais caros?
Esse valor agregado aos alimentos orgânicos é influenciado pelas diretrizes rigorosas seguidas pelos produtores e estabelecidas pelos órgãos responsáveis como o Departamento de Agricultura — nos Estados Unidos — e o Ministério de Agricultura e Pecuária — no Brasil. Por exemplo, os produtos orgânicos certificados devem ser cultivados sem o uso da maioria dos pesticidas e herbicidas sintéticos.
E produtos de origem animal, como carne, aves, laticínios e ovos, devem vir de animais com acesso ao ar livre durante todo o ano e criados sem hormônios de crescimento ou antibióticos. Produtos orgânicos também não podem usar engenharia genética.
Uma razão pela qual os alimentos orgânicos podem ser mais caros do que seus equivalentes convencionais é que produzi-los sem pesticidas ou herbicidas sintéticos requer mais mão de obra, diz o nutricionista Sean Svette, diretor do programa de nutrição e dietética da Universidade de Colorado Springs.
Um agricultor orgânico que não utiliza um herbicida potente, por exemplo, pode precisar contratar mais trabalhadores para remover as ervas daninhas.
Os custos mais altos significam mais nutrientes?
Mesmo com esse cuidado e custo mais alto, em relação aos macronutrientes — como proteínas, carboidratos e gorduras — não há diferenças entre alimentos orgânicos e não orgânicos, comenta a professora Lizzy Davis, assistente de ciências da nutrição na Universidade do Alabama, em Birmingham.
Alguns estudos sugerem pequenas diferenças entre micronutrientes, como vitaminas, minerais e certos antioxidantes. Um estudo, por exemplo, descobriu que amora e milho orgânicos podem conter níveis mais altos de antioxidantes do que seus equivalentes não orgânicos.
"Mas essas descobertas têm sido inconsistentes", argumenta a professora Lizzy. E os pesquisadores não provaram que essas diferenças de micronutrientes são grandes o suficiente para afetar a saúde, acrescentou.
“Esses estudos são únicos e não foram replicados em grande escala”, diz a professora associada de pediatria, Irene Mathieu, da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia. A maioria das análises de grande escala não foi conclusiva.
Os alimentos orgânicos reduzirão seu risco de doenças?
Estudos sobre os efeitos de longo prazo dos alimentos orgânicos na saúde têm sido mistos. Em um estudo de 2018 com cerca de 70.000 adultos na França, os pesquisadores descobriram que aqueles que consumiam alimentos orgânicos com mais frequência tinham 25% menos diagnósticos de câncer do que aqueles que nunca comeram alimentos orgânicos.
Mas alguns anos antes, um estudo com cerca de 623.000 mulheres na Grã-Bretanha não encontrou diferença nas taxas de câncer entre consumidores de alimentos orgânicos e não orgânicos. Uma explicação para essas descobertas conflitantes é que as pessoas que consomem alimentos orgânicos com consistência tendem a ter dietas e hábitos mais saudáveis — e rendas mais altas — do que aquelas que consomem alimentos convencionais, argumenta Irene.
Portanto, não podemos afirmar que os alimentos orgânicos em si causaram qualquer resultado de saúde. Esses estudos também dependem da capacidade das pessoas de se lembrarem com precisão de tudo o que comeram ao longo de meses ou anos, o que é notoriamente desafiador.
Outros estudos sugerem que o consumo de alimentos orgânicos pode estar ligado a riscos menores de diabetes, obesidade e doenças cardíacas, mas igualmente não provaram causa e efeito.
Os alimentos orgânicos valem o preço?
Pesquisas frequentemente citam a exposição a pesticidas como uma das principais preocupações em relação aos alimentos produzidos convencionalmente. (Embora os alimentos orgânicos não sejam completamente isentos de pesticidas e herbicidas.
O nutricionista Svette diz que os agricultores orgânicos ainda podem usar aqueles que não são produzidos sinteticamente.) Os especialistas afirmaram que atualmente não há evidências sólidas de que os níveis de pesticidas sintéticos a que estamos expostos ao consumir alimentos não orgânicos possam nos prejudicar. No entanto, isso não significa que esses pesticidas não sejam prejudiciais.
Estudos sugerem que trabalhadores rurais expostos regularmente a altos níveis desses pesticidas podem ter um risco maior de desenvolver certas condições, como a doença de Parkinson e possivelmente alguns tipos de câncer. Algumas pessoas podem preferir alimentos orgânicos para evitar organismos geneticamente modificados (OGMs), mas há poucas evidências de que eles representem um risco para a saúde humana.
Qual é a conclusão?
Svette disse que é compreensível que as pessoas queiram reduzir sua exposição a pesticidas — não apenas pela própria saúde, mas pela saúde dos trabalhadores rurais. Se você não pode comprar tudo orgânico, o nutricionista recomenda focar nos alimentos que você mais consome.
Lavar e esfregar frutas e vegetais frescos em água corrente também pode ajudar a reduzir (mas não a eliminar) os níveis de produtos químicos em suas superfícies, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental americana. E descartar as camadas externas de verduras — como as folhas externas de um pé de alface — também pode ajudar, diz Lizzy.
Os pesticidas às vezes se acumulam na pele ou na gordura da carne e das aves, acrescentou, então pode ser útil aparar essas partes. Em última análise, os especialistas afirmam que a melhor coisa que você pode fazer pela sua saúde é priorizar alimentos nutritivos em geral, como frutas, verduras, grãos integrais e alimentos não processados, sejam eles orgânicos ou não.
“Uma variedade de frutas, verduras e grãos integrais é realmente o que é recomendado para uma melhor saúde”, informa Irene. “Temos evidências sólidas que apoiam isso.”