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Alta comissária da ONU para os Direitos Humanos inicia visita à China

É a primeira vez em quase duas décadas que uma autoridade dos direitos humanos da ONU visita o país

Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos HumanosMichelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos - Foto: Fethi Belaid / AFP

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se reuniu nesta segunda-feira (23) com o chefe da diplomacia chinesa no início de uma visita de seis dias ao país, durante a qual viajará a Xinjiang, onde Pequim é acusada de perseguir a minoria uigur.

Esta é a primeira vez em quase duas décadas que uma autoridade dos direitos humanos da ONU visita o país asiático.

"Espero com interesse as trocas que terei com várias pessoas diferentes durante minha visita. Tratarei de alguns temas muito importantes e delicados. Espero que isso nos ajude a criar confiança", disse Bachelet, em reunião com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi.

Bachelet teve encontros virtuais nesta segunda-feira com os chefes de quase 70 embaixadas na China, segundo fontes diplomáticas, que afirmaram que a alta comissária deu garantias de seu acesso a centros de detenção e defensores das liberdades.

A China é acusada de prender um milhão de uigures e outros membros de minorias muçulmanas em campos na região de Xinjiang (noroeste), o que os que Estados Unidos e outros países qualificam como "genocídio".

Pequim rejeita o termo, que considera a "mentira do século", e alega que suas políticas permitiram combater o extremismo e melhorar a vida da população na região.

O porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin, deu boas-vindas a Bachelet e afirmou que as partes decidiram que não deve haver repórteres durante suas reuniões e viagens pelo país.

Bachelet pretende se reunir com autoridades chinesas e "manter amplas conversas com pessoas de diversos setores", acrescentou Wang, sem revelar detalhes.

A viagem de seis dias inclui visitas às cidades de Urumqi e Kashgar, em Xinjiang, assim como à localidade de Guangzhou (sul).

Desde 2018, as autoridades da ONU estavam em negociações com o governo chinês para assegurar um "acesso ilimitado e relevante" a Xinjiang, antes do anúncio da viagem em março.

Ativistas, no entanto, temem que Bachelet tenha uma visita controlada que evite os temas cruciais.

Sem acesso
A esperança de uma investigação profunda sobre os abusos dos direitos humanos foi frustrada pela preocupação dos ativistas de que o Partido Comunista da China usará a visita para acobertar supostas atrocidades.

Com centenas de milhares de detidos e várias mesquitas fechadas ou destruídas, as autoridades de b parecem ter modificado o foco nos últimos anos, voltando-se ao desenvolvimento econômico, segundo acadêmicos e uigures que moram fora da China.

"Agora não há muita evidência visível de repressão", afirmou Peter Irwin, do Projeto de Direitos Humanos Uigures.

Grupos de direitos humanos alertaram que a vigilância estatal e o medo de represálias impedirão que os uigures da região conversem de maneira livre com a equipe da ONU.

"Temos o receio de que a visita seja manipulada pelo governo chinês para acobertar os graves abusos em Xinjiang", disse Maya Wang, pesquisadora sobre a China da organização Human Rights Watch.

Muitos ativistas questionaram o fato de a ex-presidente chilena, que foi torturada durante a ditadura de Augusto Pinochet, não ter se pronunciado de maneira mais firme sobre Xinjiang.

O governo dos Estados Unidos expressou na sexta-feira preocupação com o "contínuo silêncio (de Bachelet) diante da evidência indiscutível de atrocidades em Xinjiang".

Sua recusa a criticar pode refletir a grande influência de Pequim na ONU, segundo Irwin.

Centenas de uigures no exterior pediram nas últimas semanas a Bachelet que visite seus parentes detidos.

A imprensa estatal ativou a máquina de propaganda. A agência de notícias Xinhua elogiou nessa segunda-feira os "progressos notáveis" do país em termos de direitos humanos.

Em um artigo, a agência nega qualquer trabalho forçado e alega que as pessoas de Xinjiang escolhem livremente partir para outras regiões da China em busca de oportunidades de trabalho e melhores salários.

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