Alta transmissibilidade e potencial para escapar das vacinas: conheça mais sobre a variante Delta
Identificada na Índia, ela está presente em mais de 60 territórios, incluindo o Brasil
Ao menos quatro estados brasileiros já reportaram a identificação de pessoas com a variante Delta (B.1.617.2) do coronavírus em seus territórios. Segundo relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS), ela já está presente em mais de 60 territórios espalhados pelo mundo.
A Delta é uma das variações da cepa B.1.617, identificada pela primeira vez na Índia, e classificada pela OMS como uma preocupação global. O motivo desse alerta vermelho é o potencial de transmissão apresentado.
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Ainda não há conclusões sobre a relação dessa variante com possíveis quadros de maior gravidade da Covid-19. No entanto, as informações já disponíveis sobre ela indicam uma transmissibilidade acentuada, podendo ser até 40% a 60% maior do que a versão original do Sars-CoV-2.
Isso acontece por conta de uma mutação na proteína Spike, responsável por ligar o vírus à célula humana. Essa mutação, a L452R, é parecida com a E484K, presente na variante P.1 (Gamma, oriunda no Amazonas), que se espalhou pelo Brasil e tem se tornado predominante nos ambientes onde chega, justamente pela alta transmissibilidade. No entanto, a mutação da Delta faz dela ainda mais transmissível.
Como se proteger?
Os cuidados para evitar uma infecção pela Delta são os mesmos preconizados contra as demais variantes do coronavírus Sars-CoV-2, em especial no que se refere ao uso correto de máscaras (cobrindo boca e nariz de forma bem ajustada ao rosto).
Sempre que possível, o ideal é optar pelos modelos de máscara com maior eficácia de proteção, como a PFF2, N95 ou o modelo cirúrgico. Se não conseguir, vale a pena investir em duas máscaras de tecido, para criar uma barreira maior contra o vírus.
Outro cuidado essencial é manter o distanciamento social e evitar aglomerações. A higiene das mãos com água e sabão ou com álcool a 70%, em gel ou líquido, também deve estar na rotina.
Caso apresente sintomas gripais, evite ter contato com outras pessoas. Quando isso for inevitável, não esquecer a etiqueta respiratória e a máscara.
E as vacinas?
Estudos preliminares feitos com as vacinas desenvolvidas pela Pfzier/BioNTech e pela AstraZeneca/Universidade de Oxford apontaram que ambas mostraram eficácia satisfatória contra a variante Delta após as segundas doses.
Três semanas após a primeira dose, ambos os imunizantes foram 33% eficazes. Duas semanas após a segunda dose, a Pfizer subiu para 88% de eficácia contra a doença sintomática, enquanto a AstraZeneca passou para 60%.
Especialistas, no entanto, dizem ser necessário mais estudos sobre o assunto, levando em conta também outros imunizantes usados ao redor do mundo.
No caso da Pfizer, alguns estudos investigam ainda o intervalo mais adequado entre a primeira e segunda doses. Um artigo publicado no The Lancet citou que o ideal poderia ser entre seis e oito semanas, mas frisou a necessidade de mais pesquisas.
Por que Delta?
Recentemente, a OMS decidiu batizar as variantes de preocupação e de interesse do coronavírus Sars-CoV-2 com o alfabeto grego. A intenção é ajudar a facilitar o entendimento das pessoas e, principalmente, evitar ataques xenofóbicos às populações dos países onde essas cepas são identificadas.
Assim, a B.1.617.2, oriunda na Índia, ganhou o nome de Delta. Veja quais são as outras variantes de preocupação e de interesse listadas pela OMS:
Gamma: P.1, identificada no Amazonas
Alpha: B.1.1.7, identificada no Reino Unido
Beta: B.1.351, identificada na África do Sul
Épsilon: B.1429, identificada nos Estados Unidos
Iota: B.1526, identificada nos Estados Unidos
Um estudo publicado pelo cientista e médico norte-americano Eric Topol indicou que a Delta é a que tem o maior potencial de transmissão entre essas variantes, seguida pela Alpha e pela Gamma.
A Delta é também a que tem mais risco de escapar da imunidade produzida pelas vacinas, necessitando das duas doses para ter uma eficácia mais elevada.
Já a Alpha, embora tenha transmissibilidade elevada, não apresentou tanto risco de escape. O contrário aconteceu com a Beta, que, apesar de não ser tão transmissível, mostrou um potencial maior para escapar dos imunizantes, segundo estudos.
Riscos
Ter uma variante de transmissão acentuada circulando em um país como o Brasil, onde o ritmo de contágio se mantém continuamente elevado há meses, significa o risco de ter uma onda de aceleração de novos casos em cima de um sistema de saúde já pressionado.
É tanto que o neurocientista e médico Miguel Nicolelis vinha falando, antes mesmo da detecção da presença dessa variante no Brasil, sobre a ameaça que ela representa, citando o perigo de uma terceira onda. A transmissão elevada gera ainda o risco de novas mutações no vírus.