Alzheimer na mãe aumenta risco da doença nos filhos, diz novo estudo
Cientistas americanos observaram que comprometimento da memória na mulher, causado por Alzheimer, aumenta a chance de proteína ligada à doença se acumular no cérebro da prole
Ter uma mãe com Alzheimer pode aumentar o risco de desenvolvimento da doença. É o que aponta um novo estudo conduzido por pesquisadores do Massachusetts General Brigham e das Universidades Vanderbilt e de Stanford, todos nos Estados Unidos, e publicado na revista científica JAMA Neurology.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Alzheimer corresponde de 60% a 70% de todos os casos de demência, e deve afetar até 139 milhões de pessoas em 2050.
Embora os cientistas ainda busquem desvendar todos os mecanismos envolvidos no diagnóstico, um dos fatores que o caracteriza é o acúmulo de proteínas no cérebro chamadas de beta-amiloide e tau, formando placas ao redor dos neurônios.
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Por isso, no novo trabalho, os responsáveis avaliaram 4,4 mil adultos sem problemas cognitivos, com idades entre 65 e 85 anos, e procuraram relacionar um aumento da proteína amiloide no cérebro com o histórico familiar.
Os participantes haviam sido testados para outro estudo, o Anti-Amyloid Treatment in Asymptomatic Alzheimer's (A4) (Tratamento antiamiloide em Alzheimer assintomático), um ensaio clínico que visa à prevenção da doença, e por isso já tinham feito exames de imagem do cérebro.
Para a nova pesquisa, eles foram questionados sobre o histórico familiar de Alzheimer e o início dos sintomas de perda de memória de seus pais. Os cientistas, então, compararam essas respostas com os níveis de amiloide nos voluntários.
"Nosso estudo constatou que, se os participantes tivessem um histórico familiar do lado da mãe, era observado um nível mais alto de amiloide", resume o autor sênior do trabalho Hyun-Sik Yang, neurologista do Mass General Brigham e do Brigham and Women's Hospital, em comunicado.
De forma mais detalhada, observou-se que o comprometimento da memória em qualquer idade pela mãe estava associado à maior concentração da proteína ligada ao Alzheimer na prole. Já no lado paterno isso não acontecia – somente aqueles cujos pais tiveram uma perda muito precoce da memória também apresentaram uma tendência maior ao acúmulo de amiloide.
"Se seu pai teve sintomas de início precoce, isso está associado a níveis elevados na prole. No entanto, não importa quando sua mãe começou a desenvolver os sintomas. Se ela os desenvolveu, isso está associado a níveis elevados de amiloide”, esclarece Mabel Seto, também autora do estudo e pesquisadora de pós-doutorado no departamento de Neurologia do Brigham.
Para Reisa Sperling, coautora da nova pesquisa e líder do estudo A4, as descobertas poderão ser usadas na prática clínica: "Esse trabalho indica que a herança materna da doença de Alzheimer pode ser um fator importante na identificação de indivíduos assintomáticos para estudos de prevenção atuais e futuros”.
Seto destaca que os resultados são importantes porque o Alzheimer tende a ser mais prevalente entre as mulheres. "É realmente interessante, do ponto de vista genético, ver um sexo contribuindo com algo que o outro não contribui", diz a cientista sobre a influência nos filhos.
Uma das limitações do trabalho apontadas pelos responsáveis é que alguns participantes perderam os pais cedo, antes que eles pudessem desenvolver algum sintoma relacionado à perda cognitiva.
Além disso, Yang observa que fatores sociais, como acesso a recursos e educação, também podem ter desempenhado um papel importante no momento em que alguém reconheceu a deficiência cognitiva, e se chegou a ser diagnosticado formalmente.
"Também é importante observar que a maioria desses participantes são brancos não-hispânicos. Talvez não vejamos o mesmo efeito em outras raças e etnias”, acrescenta Seto.
Para o futuro próximo, ela diz que o objetivo é justamente expandir o estudo para outros grupos, além de investigar como o histórico familiar afeta esse acúmulo de amiloide a longo prazo e o declínio cognitivo.