Ameaça invisível: conheça os 8 fatores de risco para problemas cardíacos segundo médicos
Agora também é avaliada a saúde metabólica e renal
As doenças cardíacas estão entre as principais causa de morte entre homens e mulheres — e continuam sendo há mais de cem anos, apesar dos avanços significativos na saúde pública.
Por anos, médicos sabem que a pressão alta, o colesterol alto, o diabetes e o tabagismo aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Eles geralmente usam esses fatores para calcular o risco individual dos pacientes — e para orientar recomendações de tratamento. Mas, nos últimos anos, especialistas começaram a pensar de forma mais ampla sobre o que impulsiona o risco desse tipo de doença.
Com a queda do tabagismo e com melhores tratamentos para colesterol e pressão alta agora disponíveis, as taxas de mortalidade por ataque cardíaco e derrame diminuíram no último meio século, afirma Sadiya Khan, cardiologista preventiva da Feinberg School of Medicine da Northwestern University.
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Mas vários fatores agora ameaçam desacelerar — ou até reverter — esse progresso, incluindo o aumento de condições metabólicas como obesidade e diabetes e o crescimento das taxas de insuficiência cardíaca.
Motivada por essas mudanças, a Associação Americana do Coração lançou no ano passado uma nova calculadora de risco, chamada Prevent, que inclui medidas de saúde metabólica e renal e permite que os médicos prevejam a probabilidade de insuficiência cardíaca, ataque cardíaco e derrame.
— Não acho que os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares tenham mudado necessariamente — sustenta Michael Nanna, cardiologista intervencionista da Escola de Medicina da Universidade de Yale. — Mas acredito que há um reconhecimento maior de um conjunto mais amplo de fatores de risco do que nós, como cardiologistas, costumávamos considerar tradicionalmente.
Fatores de risco tradicionais
Condições que levam ao acúmulo de placas nas paredes internas dos vasos sanguíneos são uma grande preocupação. À medida que eles crescem, estreitam o espaço disponível para o fluxo sanguíneo, o que pode causar sintomas como dor no peito. Eventualmente, podem se desprender e bloquear uma artéria que leva sangue ao coração ou ao cérebro, causando um ataque cardíaco ou um derrame, explica Jeremy Sussman, professor associado de Medicina Interna na Escola de Medicina da Universidade de Michigan.
Colesterol alto: o colesterol é o componente principal das placas. Embora seja essencial para funções corporais, como a produção de hormônios e vitaminas, quando está muito alto, ele pode se acumular nas paredes das artérias, combinando-se com gordura, cálcio e outras substâncias do sangue para formar placas, afirma Khan, que liderou o comitê da Associação Americana do Coração que desenvolveu a nova calculadora de risco.
Pressão alta: a hipertensão pode danificar as artérias, fazendo com que se tornem rígidas em vez de permanecerem elásticas. Isso pode aumentar o acúmulo de placas, explica Khan. A pressão alta também sobrecarrega o coração, aumentando o risco de insuficiência cardíaca, que ocorre quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades do corpo de sangue e oxigênio.
Diabetes: pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 têm maior probabilidade de apresentar colesterol alto, ou desequilibrado, e pressão alta. E ter diabetes junto com um desses fatores de risco adicionais aumenta a probabilidade de doenças cardíacas, diz Khan.
Idade: acredita-se que a idade aumenta o risco de doenças cardíacas em parte porque os danos aos vasos sanguíneos causados pelo colesterol e pela pressão alta se acumulam ao longo do tempo, aponta Sussman.
Tabagismo: o tabagismo é como um envelhecimento acelerado, compara Khan.
— Para níveis de colesterol ou de pressão arterial equivalentes, seus vasos sanguíneos parecerão piores. — diz.
Isso não apenas significa mais placas, mas também aumenta a probabilidade de que a placa se desprenda e forme um coágulo sanguíneo.
O tabagismo também causa inflamação, que é um fator comum subjacente de risco para doenças cardíacas, segundo os médicos. Pesquisas sugerem cada vez mais que o processo inflamatório desempenha um papel importante no desenvolvimento e na ruptura das placas.
Sexo: os homens são geralmente considerados em maior risco, embora as doenças cardíacas também sejam a principal causa de morte entre as mulheres, cujo risco tende a aumentar após a menopausa.
Saúde metabólica
Fatores de risco para doenças cardíacas raramente existem isoladamente.
— A maioria das pessoas não tem apenas hipertensão ou apenas diabetes — destaca Khan.
Reconhecendo a sobreposição entre doenças cardíacas, doenças renais e condições metabólicas e seus mecanismos subjacentes comuns, a Associação Americana do Coração cunhou no ano passado o termo “síndrome cardiovascular-reno-metabólica” para definir esse conjunto de problemas de saúde relacionados.
Um fator inicial importante para o desenvolvimento da síndrome, segundo o artigo que a descreve, é o tecido adiposo excessivo e disfuncional, particularmente no abdômen. Isso pode levar à inflamação, resistência à insulina e, eventualmente ao diabetes, à doença renal crônica e às doenças cardíacas.
Por essa razão, a nova calculadora inclui dados como o índice de massa corporal (IMC, uma medida controversa, mas amplamente usada de obesidade) e a taxa de filtração glomerular estimada, que indica aos médicos o quão bem seus rins estão funcionando.
Os médicos também podem usar a hemoglobina A1C (HbA1c), um indicador da média de açúcar no sangue em três meses, e a proporção albumina-creatinina na urina, uma medida da saúde dos rins, para estimar o risco de forma mais detalhada em pacientes de alto risco.
Influência da raça
Americanos negros têm maior risco de morrer de doenças cardiovasculares do que americanos brancos. Em média, eles desenvolvem pressão alta e diabetes de quatro a seis anos antes que seus pares brancos, revela Khan, além de apresentarem taxas mais altas de doença renal avançada.
Sul-asiáticos e nativos americanos também estão em maior risco de doenças cardiovasculares, segundo Nanna.
Devido a essas diferenças, uma calculadora de risco mais antiga usava fórmulas diferentes para pessoas negras e brancas. Não havia uma opção separada para pessoas de outras raças porque historicamente havia dados limitados sobre esses grupos.
A Associação Americana do Coração removeu a raça como consideração independente em sua nova calculadora de risco. Isso foi para reconhecer que a raça é uma construção social, e não um fator biológico, explica Khan.
A raça ainda importa quando se trata do risco de doenças cardiovasculares, mas ao desenvolver as equações do Prevent, o comitê descobriu que as disparidades raciais eram captadas por outros fatores de risco e que o modelo previa o risco com precisão entre grupos raciais.
A calculadora inclui o código postal como uma tentativa de captar elementos de “privação social”, como baixa renda ou desemprego, que podem afetar os resultados de saúde.
Ferramenta de prevenção
O colesterol alto, a pressão alta, a obesidade e o diabetes podem ser tratados com medicamentos ou mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e a prática de exercícios. Parar de fumar também pode reduzir significativamente o risco de ataque cardíaco ou derrame.
— Certamente queremos garantir que estamos abordando qualquer fator de risco que seja de fácil resolução — afirma Nanna.
Alguns fatores de risco, incluindo histórico racial e familiar, estão fora do controle das pessoas, mas ainda são relevantes para as decisões de tratamento. Alguém com histórico familiar significativo — um pai que teve um ataque cardíaco antes dos 50 anos ou vários parentes próximos com doenças cardíacas — pode exigir um exame ou tratamento mais cuidadoso, mesmo que seu índice de risco seja baixo, acrescenta Sussman.
Estudos descobriram que a nova calculadora estima o risco de doenças cardíacas das pessoas como aproximadamente 50% menor, em média, do que as calculadoras antigas, gerando preocupações de que menos pessoas atendam ao critério para prescrição de estatinas ou medicamentos anti-hipertensivos.
Mas Khan e outros disseram que as calculadoras anteriores superestimavam o risco porque se baseavam em dados antigos, de uma época em que as taxas de ataque cardíaco e derrame eram mais altas, e observaram que os critérios para medicação podem mudar com a adoção da nova ferramenta.
Independentemente da calculadora usada, os médicos dizem que precisam obter a visão mais clara possível do risco de doenças cardíacas e dos possíveis benefícios do tratamento para cada paciente.
— Esperar até que as pessoas desenvolvam essas doenças não será a nossa solução — afirma Khan. — Precisamos de prevenção.