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Saúde

Ameaças de Trump contra Groelândia podem encarecer Ozempic, produzido na Dinamara

Republicano promete aumentar tarifas de produtos dinamarqueses caso as autoridades não coloquem a ilha à venda

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump  - Foto: Ting Shen/AFP

As ameaças do presidente eleito Donald Trump sobre tomar o controle da Groenlândia, incluindo através da força, podem impactar no preço do Ozempic, remédio usado contra diabetes e perda de peso. Isso porque, para pressionar a Dinamarca, o republicano tem ameaçado impor tarifas mais altas ao país que, apesar de não ser um grande parceiro comercial de Washington, exportou aos americanos cerca de US$ 5,7 bilhões em produtos farmacêuticos só em 2023, informou a CNN.

O valor provavelmente aumentará em 2024 devido à popularidade do medicamento.

Durante entrevista coletiva na terça-feira, o republicano prometeu tarifas "muito altas" ao país caso ele não venda a ilha, extremamente valiosa por suas reservas de minerais e petrolíferas, bem como por sua localização estratégica. No contexto geopolítico, interesses russos e chineses nos recursos naturais do território também afloraram a retórica expansionista do republicano.

Os EUA têm uma base militar na Groenlândia, fruto de um acordo dos anos 1950, que opera como um centro de alerta antecipado para o sistema de defesa antimísseis americano.

Apesar da Groenlândia ser um território autônomo, mais da metade do seu orçamento vem da Dinamarca. E é uma gigante farmacêutica dinamarquesa chamada Novo Nordisk que é responsável pelo Ozempic, que produz no país o ativo do medicamento, chamado de semeaglutida. Por isso, especialistas ouvidos pela CNN observam que as bravatas expansionistas e as ameaças de "tarifaço" — que não ficam restritas à Dinamarca, mas atuam também contra o México e Canadá — podem aumentar, por ora, o valor do medicamento.

— A Novo Nordisk retém um poder de monopólio considerável no mercado. Se Donald Trump decidir que vai custar 50% a mais [as tarifa], a Novo Nordisk pode dizer: "Tudo bem, vamos cobrar dos consumidores americanos esse valor a mais" — exemplificou o membro sênior do Peterson Institute for International Economics Jacob Funk Kirkegaard.

Atualmente, cada pacote do Ozempic custa US$ 1 mil, sem descontos ou abatimentos, segundo dados da empresa. O valor é maior do que em outros países, e a CNN lembra que, durante seu primeiro mandato, Trump tentou diminuir essa diferença. Além disso, apesar de as importações de produtos dinamarqueses responderem por menos da metade de 1% do total das importações americanas, elas correspondem, entre outros, às máquinas e dispositivos médicos, como aparelhos auditivos.

O especialista classificou as falas do presidente eleito como "ultrajante", comparando sua retórica à do presidente russo, Vladimir Putin, durante o período que antecedeu a guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022:

— A Dinamarca é uma democracia e um aliado de tratado dos Estados Unidos. Aqui, Donald Trump está dizendo: "Belo território que você tem aí. Eu gosto. Se você não me vender, coisas ruins acontecerão com você." É uma reminiscência de como Vladimir Putin falou sobre a Ucrânia antes de 2022.

Analistas ouvidos pela rede destacam que, frente ao tarifaço, a farmacêutica poderia encontrar maneiras legais para contorná-lo. Isso, obviamente, levando em consideração que Trump realmente fala a verdade sobre a vontade de tomar a Groenlândia e o que está disposto a fazer para isso.

Em entrevista ao blog Trump 2.0, o especialista Stephen Duncombe observou que o republicano tem apostado no chamado "imperialismo performático" que, resumidamente, seria a ideia de "performar" para sua base e a comunidade internacional o papel de homem louco, que arrisca e dobra apostas perigosas.

— Com Trump, tarifas são uma ferramenta essencial. Ele está tentando chamar a atenção deles — observou a ex-oficial do Comércio da administração do ex-presidente George W. Bush (2001-2009), Christine McDaniel.

Tanto o fez que a Dinamarca afirmou na quarta-feira que está "aberta ao diálogo" com Washington para salvaguardar seus interesses no Ártico. Já o porta-voz da Novo Nordisk disse à CNN que "acompanharemos a situação de perto", acrescentando à declaração que "o cenário geopolítico no mundo de hoje é muito dinâmico, e continuamos focados em nosso compromisso de entregar medicamentos que salvam vidas aos pacientes que atendemos." A empresa destacou ainda que não ira comentar sobre "hipóteses e especulações".

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