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Rio de Janeiro

Amigos, estudiosos e profissionais respeitados: saiba mais sobre os médicos executados no Rio

Unidos pela medicina, quarteto estava em quiosque durante momento de descontração antes do início de um congresso internacional de ortopedia

Médicos Diego Ralf Bonfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro AlmeidaMédicos Diego Ralf Bonfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida - Foto: Reprodução

Instalados em um hotel na orla da Barra da Tijuca, mestre e alunos decidiram encerrar o dia numa animada confraternização à beira da praia. Na manhã seguinte, os quatro amigos, todos eles médicos, participariam da abertura de um congresso internacional de ortopedia com foco em cirurgias pouco invasivas no pé e no tornozelo, especialidade que unia a todos. Eles sentaram à mesa num quiosque, beberam, conversaram, tiraram foto juntos e publicaram em redes sociais.

Na foto, em primeiro plano, de cabelo e bigode grisalhos, está Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos. Médico respeitado, foi professor de Perseu Ribeiro Almeida, de 33 anos, e Diego Ralf de Souza Bomfim, de 35 anos, que aparecem na imagem vestindo as camisas dos clubes do coração: o Bahia e o Santos, respectivamente.

Pouco antes de uma hora da manhã, quando se preparavam para voltar ao hotel, os três foram executados brutalmente por homens armados que desceram de um carro e chegaram no local atirando. De camisa azul na foto, Daniel Sonnewend Proença também foi atingido pelos disparos, mas sobreviveu.

Mestre do grupo, Marcos Corsato é descrito por amigos e colegas de profissão como uma pessoa sempre alegre e bem-disposta, que estaria vivendo a melhor fase da vida. O médico era considerado um dos melhores na sua especialidade: pés e tornozelos.

"Corsato fez parte das primeiras gerações de plantonistas do pronto atendimento no Sírio (Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo) e levou para a sua carreira a dedicação, sem perder o carinho com os pacientes. Ele era de bem com a vida" diz Enis Donizetti Silva, anestesista do Sírio-Libanês.

O médico era formado pelo Hospital das Clínicas (HC), também em São Paulo, em 1984, e atualmente atuava no Instituto de Ortopedia do próprio HC e também pertencia ao corpo clínico do Sírio-Libanês.

"Ele era uma pessoa alegre, bem-humorada, não tinha quem não gostasse dele" diz Jorge dos Santos Silva, diretor do corpo clínico do Instituto de Ortopedia do HC.

No ano em que Corsato se formou na faculdade, nenhum dos seus pupilos à mesa no quiosque da Barra tinha nascido. Natural da pequena Ipiaú, cidade com pouco mais de 40 mil habitantes, no interior da Bahia, Perseu Ribeiro Almeida era casado, tinha dois filhos, de 11 e dois anos, e havia acabado de comemorar seu aniversário na terça-feira (3).

"Era um médico que estudou a vida toda e esta foi a primeira vez que ele veio ao Rio. A família está consternada" disse o cunhado Hugo Dantas, que veio de Brasília para tratar da liberação do corpo.

Perseu trabalhava no Hospital Geral Prado Valadares, na cidade de Jequié, também na Bahia, e em uma clínica particular e um hospital na sua cidade natal. Para vir ao congresso no Rio, havia pedido para seu colega, o também médico ortopedista Edvaldo Correia Lago Junior, para trocar o plantão.

"Era um cara do bem. O pai dele sofreu um acidente de carro e morreu quando ele estava na faculdade. A mãe dele teve que passar por essa tragédia e agora está passando por essa outra com o filho. Acho que o Perseu tava no lugar errado na hora errada" disse Edvaldo.

Perseu se formou em medicina em Salvador e, assim como Marcos Corsato, era especialista em cirurgia do pé e tornozelo pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, em São Paulo. A irmã do médico, Lais Ribeiro Almeida, de 29 anos, disse, ainda na manhã de ontem — antes de a hipótese ter sido levantada pela polícia — acreditar que o irmão e seus amigos teriam sido mortos por engano.

"Com certeza foram confundidos" afirmou "(Meu irmão) era um ser humano incrível, como pai, filho, irmão e médico".

Em suas redes sociais, o esporte Clube Bahia publicou nota de pesar na qual “lamenta o falecimento do médico baiano”, ex-sócio do clube, e expressa “solidariedade a familiares e amigos”.

Também em suas redes sociais, o Santos Futebol Clube publicou nota em que lamenta o assassinato do “santista apaixonado” Diego Ralf de Souza Bomfim, de 35 anos. No texto, o clube destaca que Diego “estava com o nosso Manto Sagrado durante o trágico momento”. Irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e cunhado do também deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), o médico chegou a ser levado para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiu aos ferimentos.

Nas redes sociais, Diego postava fotos ao lado da família e com o sobrinho Hugo, filho de Sâmia. Em dezembro de 2021, ele celebrou ter passado o Natal com os parentes." Primeira foto de nós 8 juntos! Se me perguntarem o que é ter sorte, mostrarei essa foto", escreveu ele, na postagem ao lado de familiares.

Diego Bomfim era formado em medicina pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Presidente Prudente, no interior do estado de São Paulo. Era especialista em reconstrução óssea e também — assim como seus colegas — em cirurgia de pé e tornozelo.

"Era a pessoa mais linda do mundo. Íntegro, inteligente, dedicado. Absolutamente carinhoso com todo mundo. Nunca fez mal pra ninguém. Pelo contrário, ele só orgulhava a nossa família" disse Sâmia Bomfim em entrevista à TV Globo — Foi muito difícil para os meus pais conseguirem formá-lo como médico. Foi um orgulho grande para a nossa família. Foi bolsista na faculdade, conseguiu chegar muito, muito longe. E é absolutamente injusto e cruel tudo que aconteceu com ele, com a nossa família e os nossos pais.

Único do grupo a sobreviver ao ataque, Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, se formou médico pela Faculdade de Medicina de Marília (Famema), também no interior de São Paulo. Em suas redes sociais, mostrava apreço pelo judô.

Assim como Diego, Daniel também foi levado ao Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, onde passou por cirurgia. No início da noite foi transferido para uma unidade particular e seu estado de saúde é considerado estável.

Os corpos de Marcos, Perseu e Diego foram liberados no Instituto Médico Legal (IML) do Rio na tarde e ontem. Os enterros acontecerão hoje em Sorocaba, Ipiaú e Presidente Prudente, respectivamente.

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