áfrica do sul

ANC pode perder sua histórica hegemonia na política da África do Sul

Se a tendência for confirmada, o ANC terá que abrir negociações para formar um governo de coalizão nesse país de 62 milhões de habitantes

ANC pode perder sua histórica hegemonia na política da África do SulANC pode perder sua histórica hegemonia na política da África do Sul - Foto: Michele Spatari / AFP

O Congresso Nacional Africano (ANC) está prestes a perder nas eleições legislativas a maioria absoluta que detém há 30 anos na África do Sul, segundo a apuração de 85% dos votos, o que o obrigaria a formar alianças para governar em coalizão.

Liderado pelo presidente do país, Cyril Ramaphosa, o ANC tem 41,12% dos votos, o pior resultado do partido, que chegou ao poder em 1994, com o emblemático líder da luta contra o apartheid, Nelson Mandela.

Em seguida, com 21,95%, está a opositora Aliança Democrática (DA, centro liberal), e com 13,5% o partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há seis meses pelo ex-chefe do ANC e ex-presidente Jacob Zuma, que foi a grande surpresa destas eleições, realizadas na quarta-feira.
 

Em quarto lugar estão os Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF, esquerda radical), com 9,4%, indicou a comissão eleitoral (CEI).

Na província de KwaZulu-Natal, tradicional reduto do ANC, o MK está na primeira posição, com mais de 45% dos votos, frente aos 18% do partido governante.

Os cinco presidentes sul-africanos desde 1994 pertenciam ao ANC.

Naquele ano, nas primeiras eleições após o fim do regime de segregação racial do apartheid, o partido obteve 62% dos votos. E em 2019, nas eleições que levaram Ramaphosa ao poder, 57%.

Se a tendência for confirmada, o ANC terá que abrir negociações para formar um governo de coalizão nesse país de 62 milhões de habitantes.

A participação foi de pouco menos de 60%, menor que das últimas legislativas, em 2019, com 66%.

Os resultados definitivos são esperados até sábado e os 400 deputados da nova assembleia deverão escolher o presidente em junho.

Coalizões 
O ANC conta na legislatura atual com 230 deputados (57,3%) e deve, apesar de tudo, continuar sendo a maior bancada do Parlamento, mas sem maioria absoluta.

Ramaphosa, de 71 anos, deverá decidir, nesse caso, se busca aliados à direita ou à esquerda do espectro político.

Uma aliança com a DA, liderada pelo político branco John Steenhuisen, poderia enfrentar resistências dentro do ANC.

O programa da DA, que aposta no livre mercado e no fim dos programas de empoderamento econômico da população negra, é diametralmente oposto ao da formação governante.

Firmar uma aliança com o partido de Zuma, de 82 anos, que foi obrigado a renunciar à presidência em 2018 por acusações de corrupção, também se revela difícil.

E tampouco parece fácil uma aproximação com os radicais do EFF de Julius Malema, também ex-militante do ANC, que preconizam a redistribuição de terras à população negra e a nacionalização de setores econômicos chave.

Erosão da confiança 
Para muitos eleitores, o partido que durante muito tempo encarnou o sonho de acesso à educação, à moradia e a outros serviços básicos, não cumpriu suas promessas.

Sua queda se explica, segundo analistas, pelo aumento da criminalidade, da pobreza e da desigualdade.

Os casos de corrupção que envolvem altos cargos do partido também minaram uma confiança já muito abalada.

A vida cotidiana é ainda afetada por frequentes cortes de água e eletricidade.

      

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter