Angola celebra funeral de Estado do ex-presidente José Eduardo dos Santos
Angola presta a última homenagem, neste domingo (28), ao ex-presidente José Eduardo dos Santos com um funeral de Estado para o político que marcou a história do país, depois de governar de forma autoritária por 38 anos, período marcado por acusações de corrupção e nepotismo e que deixou um legado controverso.
A despedida acontece poucos dias após as eleições legislativas que definiram de maneira indireta o presidente do país, a votação mais acirrada da história do país e que teve os resultados questionados pela oposição.
De acordo com os resultados preliminares, após a apuração de 97% das urnas, o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) venceu mais uma vez, superando a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
No sábado, no entanto, cinco membros da Comissão Eleitoral afirmaram que "não assinariam a princípio" os resultados definitivos, que ainda não foram divulgados.
José Eduardo dos Santos governou Angola entre 1979 e 2017, mas nunca foi eleito pelo voto popular. Ele morreu em 8 de julho, aos 79 anos, em uma clínica de Barcelona onde estava hospitalizado por uma crise cardíaca.
O retorno do corpo foi objeto de disputa, pois vários filhos de Santos eram contrários à repatriação e o governo angolano queria organizar um funeral de Estado. Mas a justiça espanhola finalmente autorizou o traslado dos restos mortais.
Muitos chefes de Estado eram aguardados para o ato oficial na Praça da República, liderado pelo atual presidente de Angola, João Lourenço.
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, a primeira-ministra do Gabão, Rose Christiane Ossouka, o presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, já estavam presentes.
A homenagem inclui disparo de salvas de canhão e honras militares, além de um minuto de silêncio. Após a cerimônia, o cortejo levará o caixão para o cemitério.
Ausência da filha mais velha?
A filha mais velha do ex-presidente, Isabel, pressionada por uma série de investigações por corrupção, escreveu na semana passada nas redes sociais que não compareceria ao funeral.
Conhecida como "a princesa", ela foi designada pelo pai para comandar a empresa nacional de petróleo Sonangol. Isabel foi destituída no âmbito da ampla campanha de corrupção iniciada por Lourenço, que foi o político designado por Santos para sua sucessão, mas que virou as costas ao clã após sua eleição.
José Eduardo dos Santos transformou Angola, país rico em recursos naturais, em um dos maiores produtores de petróleo do continente, ao lado a Nigéria. Mas também utilizou os recursos do país para o próprio lucro e de pessoas próximas, enquanto o país permanecia como um dos mais pobres do mundo.
Ele deixou o poder quando tinha quase 75 anos, com a saúde muito debilitada. Santos nomeou como sucessor o atual presidente Lourenço, eleito em 2017 e que está muito perto de conquistar o segundo mandato.
Antes deixar o poder, Santos aprovou leis para garantir uma ampla imunidade judicial.