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Ansiedade e decepção na Venezuela após questionada reeleição de Maduro

A autoridade eleitoral venezuelana proclamou oficialmente, nesta segunda-feira (29), Maduro como vencedor das eleições de domingo

O presidente venezuelano Nicolás Maduro acena durante sua proclamação na sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em Caracas O presidente venezuelano Nicolás Maduro acena durante sua proclamação na sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em Caracas  - Foto: Federico Parra / AFP

Verificação imparcial, recontagem de votos, fraude: a reeleição do presidente Nicolás Maduro desperta inquietação dentro e fora da Venezuela, com pedidos de transparência de vários líderes mundiais após uma eleição que a oposição afirma ter vencido.

As ruas de Caracas amanheceram desertas, em um clima quase fúnebre. Alguns comércios permaneceram fechados e manifestantes bateram panelas em protesto em ruas e prédios.

A autoridade eleitoral venezuelana proclamou oficialmente, nesta segunda-feira (29), Maduro como vencedor das eleições de domingo.

"Os venezuelanos expressaram sua vontade absoluta ao eleger Nicolás Maduro Moros como presidente da República Bolivariana da Venezuela para o período 2025-2031", disse o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso.

Enquanto isso, cresce a incerteza sobre os próximos passos que a oposição, liderada por María Corina Machado, e seu candidato, Edmundo González, vai tomar.

Antes do anúncio do CNE, de viés governista, vários países reagiram aos resultados.

Os Estados Unidos, que foram fundamentais no processo que levou à eleição, e os vizinhos Brasil e Colômbia, os três países que mais receberam migrantes venezuelanos, questionaram a apuração que deu a Maduro um terceiro mandato de seis anos com 51% dos votos, contra 44% de González, segundo o CNE.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, expressou "séria preocupação" com o resultado, pedindo uma contagem "justa e transparente".

Brasília reafirmou "o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados" da votação e assegurou que "acompanha com atenção o processo de apuração".

O governo de Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia e aliado de Maduro, pediu a "contagem total dos votos, sua verificação e auditoria independente".

O presidente chileno, Gabriel Boric, por sua vez, afirmou que os resultados são "difíceis de acreditar".

França, Espanha e a União Europeia pediram "total transparência" sobre o processo. E os governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai exigiram nesta segunda-feira a "revisão completa dos resultados".

Além disso, anunciaram que solicitarão uma reunião urgente do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) para emitir uma resolução que salvaguarde a vontade popular.

Enquanto isso, China, Rússia, Cuba, Nicarágua, Honduras e Bolívia parabenizaram Maduro.

"Não é o resultado ideal para Maduro", disse à AFP Rebecca Hanson, professora do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade da Flórida. "Em termos de ganhar alguma legitimidade internacional, que era um objetivo para Maduro, estas eleições foram um desastre".

"Paz e respeito" 
No poder desde 2013, Maduro tem a perspectiva de permanecer na presidência por 18 anos, até 2031. Apenas o ditador Juan Vicente Gómez terá governado por mais tempo que ele, durante 27 anos (1908-1935).

"Vai haver paz, estabilidade e justiça. Paz e respeito à lei", disse Maduro após o anúncio do resultado, diante de centenas de seguidores no palácio presidencial de Miraflores.

A oposição venezuelana, que tentava pôr fim a 25 anos de chavismo, denunciou fraude na votação e se declarou vitoriosa, com 70% dos votos, contra 30% para Maduro.

"Violaram todas as normas", declarou González, representante da carismática e popular líder opositora María Corina Machado, impedida de disputar as presidenciais devido a uma inabilitação política.

"Isto não é mais uma fraude, isto é ignorar e violar grosseiramente a vontade popular", disse Machado.

A maioria das pesquisas favorecia a oposição, após anos de uma crise que fez encolher o Produto Interno Bruto (PIB) em 80% e forçou ao êxodo mais de sete milhões de pessoas, segundo dados da ONU.

Maduro havia descrito esta eleição como uma encruzilhada entre "paz ou guerra" e advertiu que uma vitória da oposição poderia levar a um "banho de sangue".

"Ganha a tirania" 
"Não era o que esperávamos", contou à AFP Veruska Donado, uma enfermeira de 34 anos. "Tínhamos esperança de que pelo menos houvesse uma mudança, mas sempre ganha a tirania e sempre ganha a trapaça. Sei que a única saída é ir embora", acrescentou.

Freddy Polanco, um chef de 54 anos, chamou o resultado de "fraude". "Queremos uma mudança para a Venezuela, que nossa família volte para a Venezuela, que as grandes empresas voltem ao nosso país".

A oposição apontou irregularidades na apuração. Primeiro, porque seus fiscais foram impedidos de acessar os centros de votação para acompanhar o processo, e depois porque não conseguiram obter cópias das atas emitidas pelas máquinas de votação. Por lei, isso é um direito dos partidos e serve para comparar com o resultado oficial.

Também denunciaram a prisão de cerca de 150 pessoas ligadas à campanha, 37 delas nos últimos dois dias.

A coalizão Plataforma Unitária se uniu em torno de Machado após se afastar da eleição de 2018, que deu a reeleição a Maduro, por considerá-la fraudulenta.

O governo acusou a oposição de buscar desestabilizar o país por meio da violência. O presidente do CNE denunciou, de fato, uma "agressão contra o sistema de transmissão de dados que atrasou" a contagem, e pediu uma investigação.

Nestas eleições, estava presente uma pequena delegação do Centro Carter, que até agora não se pronunciou, e um painel de especialistas da ONU, que emitirá um relatório confidencial.

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