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Antes de votação crucial em Israel, 10 mil reservistas anunciam que vão parar de servir

Decisão ocorre mesmo depois de ameaça de prisão feita por comandantes militares; Netanyahu colocará marcapasso, mas promete acompanhar sessão de domingo no Parlamento

Multidão faz protesto em Tel Aviv contra planos de reforma judicial proposta pelo governo israelense Multidão faz protesto em Tel Aviv contra planos de reforma judicial proposta pelo governo israelense  - Foto: Jack Guez / AFP

Em meio a mais um dia de protestos contra os planos do governo de Benjamin Netanyahu para mudar o Poder Judiciário em Israel, um grupo de 10 mil reservistas anunciou a suspensão de suas participações em serviços voluntários prestados às Forças Armadas.

Com isso, se juntam a um outro grupo de mil reservistas da Força Aérea que havia feito a mesma promessa na sexta-feira, e tentam fortalecer as vozes que tomaram as ruas de várias cidades do país neste sábado. Contudo, Netanyahu não parece disposto a mudar seus planos, e nem mesmo uma internação para que seja colocado um marcapasso, na noite deste sábado, deve atrasar o início da análise de um dos pontos da reforma, previsto para domingo.

Em entrevista coletiva, o líder dos reservistas, Eyal Neve, disse que a noite deste sábado foi "uma das mais difíceis para o Estado de Israel, mas também foi uma das mais importantes" para o país, e confirmou que a ameaça feita ao Parlamento antes da Páscoa judaica iria sair do papel. O retorno ao serviço está condicionado à retirada da reforma judicial da pauta.

"Nós representamos 10 mil reservistas que estão dizendo ao governo, ao ministro da Defesa e ao primeiro-ministro: a responsabilidade é de vocês!", declarou, citado pelo Canal 12. "Se você nos quer do seu lado, como nós estivemos em governos de esquerda e direita, estamos pedindo que suspenda essa legislação"

Segundo estimativas, 4% dos israelenses entre 22 e 45 anos que cumpriram o serviço militar são regularmente chamados para funções de treinamento e de combate. Quem se recusar a prestar serviços, como é o caso dos 10 mil reservistas do Exército e dos 1.142 da Força Aérea, pode sofrer sanções legais, e na quinta-feira, a Rádio do Exército sinalizou que aqueles que não se apresentarem em seus postos designados poderão até ser presos.

Contudo, o movimento ganhou o apoio de alguns veteranos das Forças Armadas e dos serviços de segurança.

— Este não é um golpe militar. Essa não é uma rebelião — disse o ex-chefe do Shin Bet, a agência de segurança interna de Israel, Yuval Diskin, em um comício em Tel Aviv. — Meus irmãos e minhas irmãs de armas, vocês que ainda têm dúvidas e que já se decidiram. Seu voluntarismo histórico no campo de combate salvou o país de seus inimigos. Hoje, a batalha é pelo caráter do Estado, contra aqueles que tentam destruir suas fundações e valores. Tempos não usuais pedem medidas não usuais.

A incomum participação dos militares contra as reformas defendidas por Netanyahu se tornou um dos símbolos do movimento que vem levando milhões de pessoas às ruas desde o começo do ano, e também fez surgirem rumores de que essas ações poderiam minar a prontidão defensiva do país, algo negado de forma veemente pelas autoridades.

Além do anúncio dos reservistas, o sábado foi de protestos ao redor do país. Em Jerusalém, milhares de pessoas que participaram de uma marcha de quatro dias realizaram um ato diante do Parlamento, e montaram acampamento na cidade sagrada. Em Tel Aviv, os manifestantes chegaram a bloquear um dos principais eixos rodoviários, mas foram afastados pela polícia.

Apesar da pressão das ruas e quartéis, Netanyahu manteve a agenda para aprovar um dos pontos mais controversos de sua reforma judicial: a derrubada do chamado princípio da razoabilidade. Caso a medida seja aprovada, a Suprema Corte não teria mais o poder de anular determinados atos do governo que considere "não razoáveis". Com isso, o Judiciário perderia força e o Legislativo não teria tantas barreiras às medidas que aprovar, exatamente como quer o premier.

Segundo o Haaretz, Netanyahu ameaçou derrubar parlamentares de seu partido que votem contra a proposta, que não deverá mais ser alterada. A primeira leitura está prevista para a tarde deste domingo, e o texto deve passar por pelo menos duas votações. Caso seja aprovada, a medida será a mais importante da reforma defendida pelo premier, que também inclui mudanças no forma de escolha dos integrantes da Suprema Corte.

Na noite deste sábado o premier foi internado para receber um marcapasso, um procedimento que promete ser rápido — durante o período em que ele estiver no hospital de Tel Hashomer, o cargo de premier ficará com Yariv Levin, ministro da Justiça e apontado como um dos principais arquitetos da reforma judicial. A expectativa é de que ele receba alta no domingo, e que siga diretamente para o Parlamento para acompanhar as primeiras discussões do projeto da "razoabilidade". No começo do mês, já havia recebido um equipamento para monitorar as atividades cardíacas.

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