GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Antissemitismo cresce na Europa com escalada da guerra entre Israel e Hamas

Desde 7 de outubro, cerca de 2 mil incidentes foram registrados na Alemanha, mais de mil na França e centenas no Reino Unido

Homem caminha ao longo de um edifício cuja fachada está coberta com Estrelas de Davi pintadas durante a noite, no distrito de Alesia, em ParisHomem caminha ao longo de um edifício cuja fachada está coberta com Estrelas de Davi pintadas durante a noite, no distrito de Alesia, em Paris - Foto: Geoffroy Van der Hasselt / AFP

Coquetéis molotov atirados contra uma sinagoga em Berlim, estrelas de Davi pichadas em portas e fachadas de edifícios em Paris. Cerca de 2 mil incidentes antissemitas ligados ao conflito entre Israel e o Hamas foram registrados até agora na Alemanha, segundo a polícia federal, e mais de mil na França, de acordo com um relatório do Ministério do Interior. O Reino Unido também foi alvo de centenas de ocorrências desse tipo nas últimas semanas, informou um grupo de monitoramento.

A escalada da violência levou o chanceler Olaf Scholz a prometer nesta quinta-feira que irá proteger os judeus da Alemanha contra um aumento "vergonhoso" do antissemitismo.

"Essencialmente, trata-se de manter a promessa feita repetidas vezes nas décadas desde 1945: a promessa do “nunca mais”", declarou Scholz em um evento na sinagoga Beth Zion, em Berlim, por ocasião do 85º aniversário da Noite dos Cristais, que deu início ao Holocausto.

Para o chanceler, "nunca mais" significa manter viva a memória das atrocidades nazistas, rejeitar a "propaganda do terror" e garantir que os cidadãos e os imigrantes respeitem a "ordem democrática livre da Alemanha, que exige e garante diversidade e respeito". Acrescentou ainda que o aumento do sentimento antijudaico na Alemanha, dado o peso de seus crimes históricos, era "vergonhoso" para o país.

— Isso me indigna e me envergonha profundamente — afirmou.

Desde o ataque do Hamas, cerca de 2.000 incidentes antissemitas ligados ao conflito Israel-Hamas foram registrados até agora na Alemanha, segundo a polícia federal. A cifra representa um aumento de 240% desde 7 de outubro, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Em outubro, dois homens atiraram coquetéis molotov na sinagoga Beth Zion, em Berlim. Ninguém se feriu, mas o ataque deixou muitos judeus da capital abalados. As autoridades reforçaram a segurança em torno das instituições judaicas.

As tensões também aumentaram na capital francesa, onde grandes comunidades judaicas e muçulmanas vivem lado a lado, desde o ataque sangrento do Hamas em Israel em 7 de outubro, que desencadeou uma ofensiva israelense na Faixa de Gaza.

Na semana passada, estrelas de Davi, símbolo da religião judaica e do Estado de Israel, foram marcadas em diversos prédios de Paris — em meio a um aumento nas queixas de atos antissemitas no país (1.040 no total, pouco mais do dobro que no ano de 2022), com mais de 400 detenções relacionadas a esses atos, segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin.

O Ministério Público parisiense informou que já abriu uma investigação sobre as marcas, por danos à propriedade de terceiros agravados por motivações relacionadas à origem, raça, etnia ou religião. Tal crime, informaram, pode resultar em uma pena máxima de quatro anos de prisão e uma multa de até € 30 mil (R$ 160,5 mil na cotação atual). Grupos de defesa e autoridades locais condenaram as pichações como "atos antissemitas e racistas".

A Rússia negou nesta quinta-feira que Moscou estivesse por trás das pichações em Paris, chamando as acusações de "estupidez", depois que os investigadores disseram que algumas das pinturas podem ter sido feitas por "solicitação expressa" de um indivíduo que vive no exterior, sugerindo uma possível conexão com a Federação Russa.

— Isso é estúpido, absolutamente estúpido e simplesmente ultrajante — disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, quando questionada por jornalistas sobre as acusações.

O Reino Unido, que abrigou os judeus que fugiram da Europa continental durante a Segunda Guerra Mundial, registrou pelos menos 805 incidentes antissemitas desde os ataques do Hamas, o maior número já registrado em um período de 21 dias e mais que o total dos primeiros seis meses do ano, segundo o Community Security Trust, um grupo judaico que vem monitorando o antissemitismo desde 1984.

Entre 7 e 24 de outubro, houve 400 incidentes de preconceito contra muçulmanos no Reino Unido, segundo o Tell MAMA, um grupo que computa ataques contra muçulmanos.

A Comissão Europeia condenou o antissemitismo.

— A comissão se posiciona firmemente contra todas as formas de antissemitismo — disse um porta-voz da Comissão Europeia em 31 de outubro. — É incompatível com os valores fundamentais da Europa e com os princípios sobre os quais a UE foi fundada.

Uma pesquisa feita em 2017 pelo Instituto de Pesquisa de Políticas Judaicas, com sede em Londres, constatou que 12% da população do Reino Unido nutre “um profundo ódio ideológico” por Israel, e 30% têm pelo menos uma opinião que os judeus considerariam antissemita, uma proporção que foi o dobro entre os muçulmanos.Uma pesquisa realizada em 2022 na Alemanha pelo Comitê Judaico Americano constatou que cerca de um terço dos alemães têm pelos menos alguns pontos de vista antissemitas, porcentagem que sobe para 50% entre os muçulmanos da Alemanha. 

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