Após CoronaVac, reforço com outra vacina protege contra Ômicron, mostra estudo brasileiro
A pesquisa tinha como primeiro objetivo avaliar a resposta imunológica da dose de reforço das quatro vacinas disponíveis no Programa Nacional de Imunizações (PNI)
Estudo feito por pesquisadores brasileiros mostra que a terceira dose das vacinas da Pfizer, AstraZeneca e Janssen protegem contra a variante Ômicron em pessoas que haviam recebido duas doses de CoronaVac.
A proteção é significativamente menor caso o booster seja feito também com a CoronaVac. A pesquisa, feita sob encomenda do Ministério da Saúde, será publicada nessa sexta-feira (21) na prestigiada revista científica Lancet.
A pesquisa tinha como primeiro objetivo avaliar a resposta imunológica da dose de reforço das quatro vacinas disponíveis no Programa Nacional de Imunizações (PNI) em quem tomou CoronaVac após seis meses. O estudo foi ampliado para avaliar essa reação contra a Ômicron. Participaram 1.240 pessoas, em São Paulo e Salvador.
Todos os voluntários haviam recebido duas doses da vacina de vírus inativado da farmacêutica chinesa Sinovac há seis meses e foram divididos em quatro grupos: um recebeu reforço com o mesmo imunizante e os outros três com imunizantes diferentes (Pfizer, AstraZeneca e Janssen).
Os resultados mostram que após o reforço com vacina heteróloga (diferente da vacinação primária), 90% dos participantes adquiriam anticorpos neutralizantes contra a Ômicron, estão protegidos, assim, contra doença sintomática grave, hospitalização e morte. Só 35% dos que receberam CoronaVac apresentaram capacidade de neutralização contra a variante.
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Já em relação à Delta, foram identificados anticorpos neutralizantes em 100% dos participantes que receberam vacinação heteróloga e 80% dos que tomaram CoronaVac.
Além dos anticorpos neutralizantes, os pesquisadores também avaliaram os anticorpos IGG, que atuam de forma complementar na defesa do organismo. Foi observada a quantidade de anticorpos IGG antes de receber o reforço e depois: quem recebeu a vacina de Pfizer teve 152 vezes mais anticorpos do que inicialmente, 90 vezes mais quem recebeu AstraZeneca, 77 vezes para Janssen e 12 vezes para quem recebeu a terceira dose também de CoronaVac.
O estudo também avaliou como estava a proteção dos participantes seis meses após terem completado o esquema com a vacina da Sinovac. Apenas 20% dos adultos entre 18 e 60 anos e 8,9% das pessoas acima de 60 haviam anticorpos neutralizantes detectáveis.
O professor Sir Andrew Pollard, diretor do Oxford Vaccine Group e líder do estudo, considera o levantamento importante para que governos que usam vacinas de vírus inativado, como a CoronaVac ou a produzida pela Sinopharm, estabeleçam estratégias de reforço.
“Este estudo mostra que a vacina de vírus inativado CoronaVac pode ser reforçada com sucesso com uma variedade de vacinas diferentes, com as respostas mais fortes quando uma de vetor viral ou de RNA são usadas. A prioridade global continua sendo a primeira e a segunda doses, mas este estudo oferece opções importantes para os formuladores de políticas em muitos países onde vacinas inativadas, como CoronaVac, foram usadas.”
A pesquisadora, diretora da unidade da Universidade de Oxford no Brasil e responsável pelo estudo no país, Sue Ann Clemens, diz que ele traz evidências científicas pioneiras, atendendo a padrões internacionais de pesquisa, que vão auxiliar na tomada de decisões em saúde pública.
"O Brasil está trazendo uma contribuição para a comunidade cientifica mundial com esses dados. A gente sabe que a imunidade contra a Covid cai com o passar do tempo, mas ela cai em proporção diferente, de acordo com cada vacina. Isso serve para decisões futuras. A segurança da vacina de vírus inativado é muito boa, mas a magnitude da proteção é muito superior com o reforço heterólogo".
Segundo Clemens, esse estudo se soma a outras pesquisas internacionais que indicam que a vacinação heteróloga aumenta anticorpos neutralizantes e IGG. Para quem recebeu imunização primária com vírus inativado, como a CoronaVac, o melhor reforço é da vacina de RNA mensageiro (como Pfizer), seguido pelas de vetor viral (AstraZeneca ou Janssen). Já quem completou o esquema com vetor viral ou RNA, deve receber a de RNA mensageiro como booster.
A médica e pesquisadora também reforça a necessidade que o reforço seja dado quatro meses após a segunda dose, especialmente em quem recebeu CoronaVac:
"Esse estudo avaliou pessoas de cinco a sete meses após a imunização primária. Nas pessoas que tinham se vacinado há cinco meses com a vacina de vírus inativado, os níveis já eram muito baixos. Por isso, a estratégia de dar a terceira dose após quatro meses é apoiada pelos dados. Após seis meses, a resposta imune cai para todas as vacinas, mas a níveis basais com a vacina inativada, enquanto em níveis ainda protetores com as outras".
Agora, Clemens busca financiamento para desenvolver um estudo que responda outra questão: por quanto tempo as pessoas que tomaram duas doses de CoronaVac e a dose de reforço heteróloga estarão protegidas?
O estudo publicado na Lancet diz respeito apenas à vacinação de adultos. Nesta quinta-feira, a CoronaVac foi aprovada para a faixa etária dos 6 aos 17 anos. Especialistas ouvidos pelo GLOBO consideram que a decisão vai ajudar a acelerar a vacinação infantil, já que as doses da Pfizer, a única que havia sido aprovado para esse grupo, ainda são limitadas. Além disso, a vacina de vírus inativado é uma plataforma consagrada e usada em outros imunizantes já aplicados nos pequenos, ou seja, com segurança comprovada. Outro benefício é que a CoronaVac costuma provocar menos efeitos adversos.