Após desafiar ordem talibã, apresentadoras de TV voltam a cobrir o rosto para ir ao ar
No início deste mês, o chefe supremo dos talibãs emitiu uma ordem, segundo a qual as mulheres devem se cobrir completamente em público
As apresentadoras das principais redes de televisão afegãs foram ao ar, neste domingo (22), com seus rostos cobertos, voltando a cumprir uma ordem dos talibãs um dia depois de desafiá-la.
Desde que voltou ao poder no ano passado, os talibãs impuseram uma série de restrições à sociedade civil. Muitas delas visam a limitar os direitos das mulheres.
No início deste mês, o chefe supremo dos talibãs emitiu uma ordem, segundo a qual as mulheres devem se cobrir completamente em público, incluindo o rosto e, de preferência, com a burca tradicional. Antes, bastava um lenço, cobrindo o cabelo.
O temido Ministério afegão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício ordenou às apresentadores de televisão que fizessem isso.
No sábado, as jornalistas desafiaram essa medida e foram ao ar, ao vivo, sem esconder o rosto.
Mas, no dia seguinte, as mulheres voltaram a usar véus completos, revelando apenas os olhos e a testa ao apresentar as notícias nos canais TOLOnews, Ariana Television, Shamshad TV e 1TV.
"Resistimos e somos contra o uso" do véu integral, disse à AFP Sonia Niazi, apresentadora da TOLOnews.
"Mas a TOLOnews está sob pressão, (os talibãs) disseram que qualquer apresentadora que aparecesse na tela sem cobrir o rosto deveria receber outro emprego", afirmou.
"Seguiremos nossa luta"
"Seguiremos nossa luta usando nossa voz. Serei a voz de outras mulheres afegãs", prometeu a âncora após apresentar o jornal. "Vamos trabalhar até que o emirado islâmico nos retire do espaço público ou nos obrigue a ficar em casa."
"Vamos continuar com nossa luta até o último suspiro", afirmou por sua vez Lima Spesaly, apresentadora da 1TV, alguns minutos antes de entrar no ar com o rosto coberto.
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O diretor da TOLOnews, Khpolwak Sapai, afirmou que o canal foi "obrigado" a implementar a ordem para sua equipe.
"Nos disseram: vocês são obrigados a fazê-lo. Devem fazê-lo. Não há outra solução", disse Sapai à AFP.
O porta-voz do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, Mohamad Sadeq Akif Mohajir, afirmou que as autoridades não pretendiam forçar as apresentadoras a deixar o emprego.
"Estamos felizes que os canais tenham exercido corretamente sua responsabilidade", delcarou à AFP.
Os talibãs ordenaram que as mulheres que trabalham no governo sejam demitidas, se não cumprirem o novo código de vestimenta. Os funcionários também correm o risco de serem suspensos se suas esposas, ou filhas, não acatarem a ordem.
Os canais de televisão já deixaram de transmitir séries e novelas protagonizadas por mulheres, por ordem dos talibãs.