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Após flexibilizar normas pacifistas, Japão se prepara para enviar mísseis de defesa aos EUA

O governo americano saudou a decisão, afirmando que ela seria voltada para o reabastecimento do seu estoque

Sistema de defesa aéreo Patriot, de fabricação americana, durante exercício militar na Polônia Sistema de defesa aéreo Patriot, de fabricação americana, durante exercício militar na Polônia  - Foto: Janek Skarzynski/AFP

Após revisar suas diretrizes sobre exportação de armas e equipamento militar, nesta sexta-feira, o Japão se prepara para aprovar a venda e enviar um sistema avançado de defesa aérea aos Estados Unidos. A Casa Branca celebrou a decisão, afirmando que a transferência iria “reabastecer o estoque” americano. O anúncio representa uma mudança significativa nas suas políticas pós-guerra e uma medida que poderá ajudar Washington a apoiar a Ucrânia na sua luta contra Rússia, que eclodiu em fevereiro de 2022.

A medida é um sinal de que o Japão, uma nação pacifista desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-45), está assumindo um papel mais importante na segurança global. O ministro das Relações Exteriores japonês, Yoshimasa Hayashi, afirmou que as mudanças têm um “significado importante em termos de reforço da aliança entre o Japão e os EUA”.

— Isso irá contribuir não somente para a segurança do Japão, mas também para a paz e a estabilidade da toda a região do Indo-Pacíficio. — afirmou em uma declaração citada pela Reuters.

As diretrizes japonesas restringiam o envio a apenas peças de equipamentos licenciados ao país de origem. Contudo, um grupo de trabalho do Partido Liberal Democrata, que está no poder, e do seu parceiro de coligação, Komeito, recomendou alterações que autorizam a venda de equipamento fabricado sob licença de volta aos países onde os fabricantes originais estão baseados.

Com a mudança, Tóquio poderá vender mísseis Patriot (projetados pelos EUA e fabricados no Japão) de volta ao governo americano, que usaria a transferência para “reabastecer” seu estoque. O país, assim algumas potências europeias, têm ficado sem munição para abastecer Kiev em sua ofensiva contra a invasão russa, segundo a BBC. OS EUA, desde o fim do ano passado, têm enviado mísseis Patriot ao aliado ucraniano — arma que estaria entre as mais avançadas já fornecida pelos EUA a Kiev, informou o jornal britânico. O produto exigiria a licença de Tóquio para ser exportado a outros países, informou a Reuters.

A Mitsubishi Heavy Industries fabrica os mísseis Patriot, que podem ser usados para abater drones e aviões de guerra, sob licença dos fabricantes americanos Raytheon e Lockheed Martin. Até agora, a Mitsubishi fabricou os sistemas de defesa aérea para os militares japoneses.

'Decisão histórica’
Se o Japão exportar os sistemas Patriot de volta para os Estados Unidos, o “a vantagem é que nos dá obviamente alguma flexibilidade com o nosso estoque e obrigações mundiais”, disse Rahm Emanuel, embaixador americano no Japão, em referência ao anúncio, antecipado na quinta-feira. O Washington Post noticiou a exportação planejada de mísseis Patriot no início desta semana.

Emanuel disse que a mudança esperada na política de exportação japonesa soma-se às medidas já anunciadas por Tóquio para aumentar os gastos militares para 2% do produto interno bruto, ou cerca de 60%, ao longo dos próximos cinco anos. O Japão também acelerou os seus gastos com mísseis Tomahawk dos Estados Unidos e antecipou a primeira data de entrega dessas armas para 2025, a partir de 2026. Os mísseis Tomahawk são capazes de atingir alvos em território inimigo.

Segundo a Reuters, citando o jornal Financial Times, o país asiático estaria considerando ainda exportar projéteis de artilharia de 155 mm, para o Reino Unido.

— O ritmo das reformas e o seu significado não têm precedentes e são incrivelmente bem-vindos — disse o embaixador.

Nesta sexta-feira, em uma publicação no X, Emanuel descreveu o anúncio como uma “decisão histórica”, concluindo que “o Japão está realizando uma modernização da defesa que é na sua geração”.

Expectativas
O governo do Japão também está discutindo a possibilidade de enviar projéteis de artilharia para os Estados Unidos, disse um responsável japonês, que falou sob condição de anonimato ao New York Times, porque não estava autorizado a falar publicamente. Os Estados Unidos pediram repetidamente aos aliados que ajudassem a reforçar os arsenais e a enviar munições para a Ucrânia, mas as restrições às exportações do Japão impediram-no até agora de o fazer.

Espera-se também que o governo discuta mudanças políticas que lhe permitam exportar um avião de combate que o Japão está a desenvolver em conjunto com a Grã-Bretanha e a Itália. Quando os três países assinaram um acordo em Tóquio na semana passada para desenvolver o jato, Grant Shapps, o ministro da defesa britânico, disse que sem o Japão concordar em permitir a venda do jato a terceiros, “Quem será capaz de levar o projeto adiante no todos?"

Em comentários aos jornalistas na semana passada, o chanceler japonês disse que o governo esperava rever ainda mais as suas restrições à exportação para permitir a venda a países terceiros de armas “desenvolvidas através de projetos conjuntos internacionais”. (Com New York Times)

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