Após ligação de duas horas entre Putin e Trump, Kremlin diz que diálogo "foi muito bom"
Ligação desta terça-feira foi o segundo contato direto entre os líderes, e o primeiro desde que as negociações de paz na Ucrânia mediadas pelos EUA tiveram início
Fontes do governo russo chamaram de "muito boa" a conversa mantida ao longo de duas horas entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos EUA, Donald Trump, nesta terça-feira.
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A ligação, iniciada às 10h de Washington (11h em Brasília) foi o segundo contato direto entre Trump e Putin, e o primeiro desde que as negociações mediadas pelos EUA sobre o destino da Ucrânia tiveram início.
De acordo com um representante do governo russo, ouvido pela rede CNN em caráter de anonimato, a conversa ocorreu de forma "muito boa", sem dar detalhes sobre o que foi discutido.
A Casa Branca disse que em breve divulgará um comunicado com o teor do diálogo, que se prolongou por quase duas horas e meia.
A Presidência russa se recusou, na segunda-feira, a antecipar o teor da abordagem de Putin ao tema, mas fontes europeias e em Moscou ouvidas pela Bloomberg afirmaram que ele estaria apontando como um pré-requisito para aceitar um cessar-fogo a suspensão de todas as entregas de armas para a Ucrânia.
Uma autoridade europeia sênior disse que, no continente, há uma relutância extrema em concordar com a demanda, pois arriscaria uma situação em que Moscou seria capaz de se rearmar, enquanto Kiev seria impedida de fazê-lo.
Falando a líderes empresariais russos em um evento em Moscou antes da ligação, Putin fez um declarações abertamente anti-Ocidente, afirmando que mesmo que as negociações levassem a um levantamento de sanções, os países rivais continuariam tentando minar a Rússia.
— Mesmo que haja um gesto do outro lado, como se eles sugerissem levantar ou facilitar algo, você pode esperar que eles encontrem outra maneira de pressionar, para atrapalhar as coisas — disse Putin. — Vocês devem investir onde for lucrativo para vocês e para a Rússia, onde os lucros são altos e os investimentos são protegidos de forma confiável. Existem muitas regiões assim no mundo
Trump disse a repórteres entre a noite de domingo e a madrugada de segunda, em um voo da Flórida para Washington, que as negociações sobre o fim da guerra abordariam assuntos como a divisão de "ativos ucranianos", mencionando "terras" e "usinas de energia" — a segunda menção que foi rapidamente associada à usina nuclear de Zaporíjia, a maior central do tipo na Europa, atualmente em território ocupado pela Rússia.
Quanto a uma possível divisão do território, não está claro como a questão irá avançar. A Ucrânia, ao longo dos anos de conflito, afirmou que defenderia até o fim sua integridade territorial, ao passo que a Rússia incorporou forçosamente quatro províncias ucranianas — Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporíjia —, além da Crimeia, ocupada em 2014. Desde o início do governo Trump, autoridades americanas, incluindo o secretário de Defesa, Peter Hegseth, disseram que a devolução total das terras à Ucrânia não era uma demanda crível.
O governo Trump também já cedeu a exigências russas de manter a Ucrânia fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que preocupou a Europa sobre a vulnerabilidade do país a futuras investidas russas.
De acordo com Cliff Kupchan, ex-alto funcionário do Departamento de Estado e atual presidente do Eurasia Group, sediado em Nova York, os EUA também devem querer impor à Ucrânia o status neutro efetivo e alguns limites ao seu Exército e armas, em linha com as exigências russas.
Trump embarcou em uma reaproximação dramática com Moscou, rompendo com três anos de intenso apoio dos EUA à Ucrânia durante a Presidência de seu antecessor democrata, Joe Biden, e mudou o tom com relação ao líder ucraniano, Volodymyr Zelensky — com quem trocou agressões verbais em 28 de fevereiro, durante uma visita à Casa Branca.
Apesar disso, Kiev tem colaborado com a iniciativa americana de buscar uma trégua. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiga, pediu que Moscou aceitasse nesta terça-feira um cessar-fogo "sem condições" prévias.
"A Ucrânia apoiou a proposta dos EUA para um cessar-fogo temporário de 30 dias. Esperamos que a Rússia aceite incondicionalmente esta proposta", disse Sibiga, citado em uma declaração do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia.