Após "pátria armada" e "dragão do ódio", missa em Aparecida tem sermão contra desmatamento
Na presença do governador Tarcísio de Freitas na missa deste feriado, o arcebispo Dom Orlando Brandes também discursou contra o aborto
Em seu sermão na missa das 9h na festa de Nossa Senhora Aparecida, nesta quinta-feira, o arcebispo Dom Orlando Brandes pregou contra o desmatamento e o aborto. A cerimônia feita no Santuário Nacional de Aparecida, na cidade homônima, em São Paulo.
Recados políticos, ainda que breves, são costumeiros nas celebrações de 12 de outubro do maior templo católico do país. Embora não seja considerado da ala mais progressista da Igreja Católica, os sermões de Brandes costumam trazer críticas aos problemas enfrentados pelo país.
"A terceira vocação do povo brasileiro é à vida. À vida ecológica, ao meio ambiente, à Casa Comum. o mundo olha para nós, vamos plantar árvores. Nossa Senhora Aparecida é a Senhora da Vida. Por isso, hoje dizemos: sim à vida, não ao aborto. Sim à vida, não ao desmatamento. Não à essa atitude de depredação da Mãe Terra", discursou o líder religioso.
Leia também
• Cerca de 250 mil pessoas devem passar por Aparecida no feriado
• Dia de Nossa Senhora Aparecida é celebrado na RMR com missas e cortejos nesta quinta (12); confira
• Confira o que abre e o que fecha em Pernambuco no feriado de Nossa Senhora Aparecida
No plano de fundo do sermão está o fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter começado a julgar, em setembro, uma ação que tenta descriminalizar o aborto feito por mulheres com até 12 semanas de gestação. Além disso, o país enfrenta dificuldades para controlar queimadas e desmatamentos em biomas como a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado, após anos de negligência por parte do governo federal.
A missa desta quinta-feira teve a presença do governador Tarcísio de Freitas, da primeira-dama Cristiane de Freitas e do secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab. O ex-presidente Jair Bolsonaro, que costumava participar das celebrações de 12 de outubro em Aparecida, neste ano foi a Chapecó (SC). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Brasília.
No ano passado, no meio dos dois turnos da eleição presidencial, o santuário se transformou num comício político ao receber Bolsonaro, então candidato à reeleição. Na ocasião, Brandes defendeu que os brasileiros exerçam o direito ao voto e afirmou que o país precisava vencer "muitos dragões", em referência a problemas como fome, desemprego e o ódio.
Em entrevista à imprensa minutos depois, Brandes, questionado sobre o uso eleitoral da presença de Bolsonaro nas celebrações do dia, disse que receberia o então presidente "com todo o respeito", mas cobrou "identidade religiosa" dos fiéis, sem citar o visitante. Bolsonaro tem entre os evangélicos um de seus principais redutos eleitorais.
A atuação de Bolsonaro nos calendários da Igreja Católica vinha causando forte incômodo na cúpula do episcopado. No dia anterior à celebração de Nossa Senhora Aparecida, naquele ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) condenou o uso político do tema na campanha eleitoral. Por meio de nota, a arquidiocese criticou o que chamou de "exploração da fé" para ganhar votos.
Em 2021, também na presença de Bolsonaro, Brandes afirmou na homilia da missa das 9h que "para ser pátria amada não pode ser pátria armada", em referência ao projeto federal de flexibilização e incentivo do porte e da posse de armas de fogo pela população. Ele também lamentou as mais de 600 mil mortes por Covid-19 e defendeu a vacina e a ciência.
No ano anterior, Brandes criticara a volta da impunidade e as queimadas em biomas como Amazônia e Pantanal. Já em 2019, o sermão do relioso mirou o "dragão do tradicionalismo". Ele disse que a "direita é violenta e injusta".