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Após pedido da ONU, Israel concorda em apoiar iniciativas para vacinar crianças em Gaza contra pólio

Organização, que detectou vírus no enclave, defende 'pausas humanitária' para que 640 mil crianças sejam vacinadas

Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony BlinkenSecretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse nesta segunda-feira que Israel concordou em apoiar iniciativas para vacinar crianças na Faixa de Gaza contra a poliomielite.

Em sua nona viagem pelo Oriente Médio desde o início do conflito no enclave palestino em outubro, Blinken chegou a Tel Aviv no domingo para pressionar por um acordo entre as partes e seguirá para o Catar na terça-feira, após uma parada no Egito — ambos, ao lado de Washington, mediadores do conflito.

— Trabalhamos com o governo israelense. Acho que poderemos propor um plano nas próximas semanas. É urgente. É vital — afirmou o secretário.

Na última sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou para o estabelecimento de duas "pausas humanitárias" de sete dias cada em Gaza para vacinar mais de 640 mil crianças, após a organização detectar o vírus nas águas residuais do território e o Ministério da Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP) anunciar o primeiro caso relatado no enclave palestiniano em 25 anos, ressurgimento que ameaçaria inclusive países vizinhos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) disseram que estavam planejando duas campanhas de vacinação na região, começando no final de agosto.

O poliovírus, frequentemente disseminado por esgoto e água contaminada, pode causar deformidades e paralisia, e é potencialmente fatal. Afeta principalmente crianças menores de cinco anos.

Blinken, que não informou como a vacinação ocorreria, contou que teve uma discussão "detalhada" sobre a situação humanitária em Gaza com o ministro da Defesa, Yoav Gallant.

— Compartilhamos muito a preocupação sobre a possibilidade de ressurgimento (da poliomielite) e estamos trabalhando em um plano detalhado para garantir que aqueles que precisam ser vacinados contra ela possam ser vacinados — explicou.

O secretário americano acrescentou que, para melhorar a situação humanitária no enclave, "a maneira mais rápida de fazer isso, da forma mais robusta possível, seria por meio do cessar-fogo, porque isso abre muito mais espaço para aumentar a assistência".

Blinken desembarcou em Tel Aviv no domingo para pressionar por uma trégua entre Israel e o Hamas após dez meses de conflito, que teve início quando o grupo invadiu o sul israelense, matando quase 1,2 mil pessoas (a maioria civis) e sequestrando 251.

Do total de reféns, 111 ainda estão no enclave, embora 39 tenham sido declarados mortos pelo Exército israelense.

A represália israelense deixou mais de 40 mil pessoas mortas, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave, e levou a uma situação humanitária desastrosa, com a maioria de seus 2,2 milhões de habitantes deslocada.

Mensagem ao Hamas
O secretário se encontrou por três horas nesta segunda-feira com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, criticado por algumas autoridades por supostamente protelar um cessar-fogo ao acrescentar novas condições ao acordo.

Após a reunião, o chefe da diplomacia americana informou que Netanyahu garantiu apoio à proposta americana para preencher as lacunas na obtenção de uma trégua em Gaza e pressionou o Hamas, que não participou das últimas negociações, a concordar.

A chamada "proposta de ponte", apresentada por Washington na última sexta-feira, foi rejeitada pelo grupo, que exige a implementação do plano original, delineado pelo presidente Joe Biden em maio.

Para eles, a nova proposta "responde às condições de Netanyahu" e o deixa "totalmente responsável por frustrar os esforços dos mediadores", além de descrevê-la como "a imposição de ditames americanos".

— O que eu diria ao Hamas e à sua liderança é que, se eles realmente se importam com o povo palestino que pretendem representar de alguma forma, então dirão 'sim' a este acordo e trabalharão em entendimentos claros sobre como implementá-lo — destacou Blinken aos repórteres.

O premier israelense também prometeu que Israel enviaria uma equipe para as negociações programadas para serem retomadas esta semana, mediadas pelo Egito e pelo Catar, informou Blinken.

Em um vídeo divulgado por seu gabinete após a reunião com o secretário, Netanyahu disse que buscava libertar um "número máximo" de reféns vivos mantidos em Gaza, na primeira etapa de um acordo de cessar-fogo proposto com o Hamas.

O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, que representa muitas famílias de reféns ainda mantidos em Gaza, agradeceu a Blinken "por seu apoio inabalável" ao lado do governo de Biden "para finalizar o acordo dos reféns". A organização anteriormente acusou o lado israelense de "sabotagem".

Com uma trégua em Gaza, os mediadores também buscam diminuir as tensões no restante do Oriente Médio.

O Irã e seus aliados, incluindo o Hezbollah, prometeram vingar a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque atribuído a Israel em Teerã, um dia depois que um chefe militar do movimento xiita libanês foi morto em um bombardeio israelense em Beirute.

Blinken viajará na terça-feira para o Egito e o Catar e se encontrará com os líderes das duas nações árabes. Blinken descreveu os países como "parceiros críticos neste esforço para levar o acordo de cessar-fogo até a linha de chegada, para levar os reféns para casa, para colocar todos em um caminho melhor para paz e segurança duradouras".

Acrescentou que esperava ouvir deles as últimas novidades sobre a posição do Hamas e minimizou as críticas dos combatentes à proposta de transição.

— Já vimos declarações públicas antes que não refletem totalmente a posição do Hamas — disse Blinken.

Violência na Cisjordânia
Aproveitando a viagem a Israel, Blinken também disse ter pedido aos líderes israelenses que tomem medidas para coibir a violência dos colonos israelenses contra palestinos na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967.

A violência na região aumentou desde 7 de outubro, ao passo que o conflito também acelerou a criação de assentamentos israelenses em terras ocupadas, considerados ilegais pelo direito internacional.

— Esperamos ver medidas, ações para impedir esse tipo de violência, ações para que as pessoas responsáveis por ela sejam responsabilizadas — declarou o chefe da diplomacia americana.

No mesmo dia em que Blinken desembarcou em Tel Aviv, um segurança israelense, identificado como Gidon Peri, de 38 anos, morreu após ser atacado por um palestino com um martelo na região.

Três dias antes, um ataque de colonos contra um vilarejo palestino matou um jovem palestino e deixou uma pessoa gravemente ferida. Na ocasião, pelo menos seis carros e quatro casas também foram incendiadas.

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