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Guerra

Após pressão dos EUA, Israel permite entrada de 50 caminhões de ajuda humanitária em Gaza

Em carta enviada a autoridades israelenses, Washington ameaçou suspender fornecimento de armas se Tel Aviv não revertesse crise humanitária em 30 dias

Caminhão da ONG Anera com ajuda humanitária na Faixa de Gaza Caminhão da ONG Anera com ajuda humanitária na Faixa de Gaza  - Foto: Reprodução/Redes sociais

O Exército israelense anunciou nesta quarta-feira a entrada de 50 caminhões de ajuda humanitária no norte da Faixa de Gaza, um dia após os EUA ameaçarem suspender o fornecimento de armas para o aliado caso a crise humanitária não fosse revertida dentro de um mês — o recado mais contundente dos americanos até aqui em um ano de conflito.

As remessas de suprimentos para a região atingiram em setembro o seu nível mais baixo desde o início da guerra.

De acordo com as forças israelenses, os caminhões foram enviados pela Jordânia e incluem alimentos, água, suprimentos médicos e equipamentos para abrigos.

Antes do alerta americano, Israel vinha restringindo fortemente a entrada de ajuda humanitária no enclave, com nenhum caminhão autorizado a ingressar ao longo de dias.

Antes da guerra, 500 caminhões de ajuda humanitária entravam diariamente em Gaza, aponta a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês).

Assinada pelo secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, e pelo Secretário de Defesa e chefe do Pentágono, Lloyd Austin, a carta foi endereçada ao Ministro da Defesa israelenese, Yoav Gallant, e ao Ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer.

No texto, eles culpam Israel por uma queda drástica na ajuda humanitária em Gaza, o que, afirmam, contribuiu para a fome e o sofrimento generalizado, principalmente no norte do enclave.

Na carta, as autoridades lembram que a lei americana exige que os países que recebem suas armas “facilitem e não neguem, restrinjam ou impeçam arbitrariamente” a assistência humanitária fornecida ou apoiada pelos EUA. Blinken e Austin pediram que Israel permita a entrada de um mínimo de 350 caminhões de ajuda em Gaza diariamente, aumente a segurança dos locais de ajuda e da movimentação de trabalhadores humanitários e acabe com o isolamento do norte de Gaza, entre outras medidas, dentro dos próximos 30 dias.

O Hamas acusou Israel de promover de forma deliberada uma política de fome e morte no norte de Gaza, onde as forças israelenses lançaram uma nova operação terrestre há quase duas semanas.

“O que está acontecendo no norte é o extermínio e a limpeza étnica em todos os sentidos, bem como a destruição de todos os edifícios remanescentes que ainda não foram danificados ou bombardeados na guerra, além da destruição sistemática de toda a infraestrutura”, disse o grupo terrorista em comunicado. “Isso significa a implementação de um plano de expulsão em massa”.

A carta, que foi noticiada nesta terça-feira pelo Canal 12 de Israel e pelo site Axios, é um dos avisos mais severos e específicos já feitos pelos EUA às autoridades israelenses sobre a situação em Gaza. É também uma admissão implícita de que os EUA avaliam que as ações de Israel no território palestino violam a lei americana, segundo analistas e ex-funcionários. Washington é o principal fornecedor de armas de Israel, e seu apoio é crucial para os planos de guerra do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Gaza e no Líbano, bem como em sua rivalidade mais ampla contra o Irã.

Embora um aviso anterior a Israel em abril tenha resultado em um aumento na ajuda, a quantidade de assistência que chega a Gaza caiu em mais de 50% ao longo dos meses desde então, de acordo com a carta. As entregas de setembro foram as mais baixas de todos os meses do ano passado, segundo o documento.

Após a entrada da primeira leva de caminhões, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, lembrou o esforço feito pelos Estados Unidos em abril e afirmou que a expectativa é que se repita o feito.

— A razão pela qual estamos fazendo isso é que estamos vendo uma diminuição na ajuda crítica para Gaza — disse. — Já fizemos isso antes, funcionou, e por isso estamos fazendo isso novamente e queremos ver uma resposta construtiva.

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Durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o Oriente Médio nesta quarta-feira, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse que os Estados Unidos seguirão frisando a urgência da entrada de mantimentos em Gaza, afirmando que a acusação de que Israel usa a fome como arma no norte de Gaza representaria uma política "horrível e inaceitável e teria implicações de acordo com a lei internacional e a lei dos EUA".

— Os EUA continuarão a deixar claro o seguinte: alimentos e suprimentos devem ser enviados a Gaza imediatamente. Deve haver pausas humanitárias em Gaza para permitir a vacinação e a entrega e distribuição de ajuda humanitária — disse, acrescentando que Israel reforçou que o uso da fome não faz parte da sua política: — O governo de Israel afirmou que essa não é sua política, que os alimentos e outros suprimentos essenciais não serão cortados, e estaremos atentos para ver se as ações de Israel em campo correspondem a essa declaração.

Diante da ameaça de embargo dos americanos, Netanyahu convocou uma reunião de emergência no domingo para discutir o aumento da ajuda humanitária a Gaza, revelou uma fonte sob condição de anonimato à agência Reuters.

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