Após saída frustrada, brasileiros em Gaza seguem à espera de reabertura da fronteira com Egito
Mesmo com autorização para cruzar a passagem, grupo de 24 brasileiros, 7 palestinos com residência no país e 3 parentes teve de adiar na sexta-feira a viagem rumo ao Brasil
A expectativa era alta e parecia que, finalmente, após dez dias de espera angustiante — ficando de fora de lista após lista — eles conseguiriam deixar para trás a Faixa de Gaza, sob pesado ataque israelense há mais de um mês.
Com autorização emitida para a passagem de 33 dos 34 membros do grupo para o Egito no fim da noite de quinta-feira, e a inclusão da última que faltava horas depois, o drama se aproximava do fim. Bastava apenas esperar a abertura da fronteira pela manhã.
No entanto, pelo terceiro dia consecutivo, a fronteira permaneceu fechada. E o grupo de 24 brasileiros, 7 palestinos com residência no país e 3 parentes teve de adiar, por pelo menos mais um dia, a viagem rumo ao Brasil. Com a chegada do sábado e a possibilidade de reabertura do posto de Rafah, se renova a esperança de que o grupo poderá finalmente deixar a zona de guerra.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que, apesar de os brasileiros na Faixa de Gaza terem sido autorizados a deixar a região, a saída deles não aconteceu porque o posto de controle na fronteira com o Egito permaneceu fechado.
— Novamente não saíram, apesar de terem sido mobilizados até a região do posto de controle, não puderam passar porque o posto de controle não foi aberto. Estamos em contato com todas as partes e esperamos que esses nomes sejam autorizados a cruzar o mais rapidamente possível. Os nomes fazem parte da lista dos que foram autorizados a cruzar, mas até o momento nenhum desses nacionais de nenhuma nacionalidade cruzou nos últimos três dias — afirmou o ministro.
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Sem data certa
Segundo Vieira, não é possível estimar quando eles poderão cruzar a fronteira por causa da situação de conflito em Gaza. Ele também disse que o governo trabalhou desde o começo para retirar brasileiros e que ele próprio falou em quatro ocasiões diferentes com o chanceler israelense, Eli Cohen.
— A passagem [para o Egito] é complexa porque fica aberta durante poucas horas por dia. Há entendimento que primeiro passa ambulância com feridos e só depois disso passam os nacionais de outros países. Foi o que aconteceu hoje, ontem e quarta. Não teve passagem de Gaza para o Egito por impossibilidade de terminarem de passar as ambulâncias — justificou o ministro.
Feridos têm prioridade
O embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco de Carvalho Neto, confirmou ao Globo que só algumas ambulâncias passaram durante o dia. Nenhum estrangeiro autorizado a deixar o enclave passou.
— Ninguém passou — afirmou ele.
Não é a primeira vez que isso acontece. Segundo fontes diplomáticas, enquanto as ambulâncias não passarem com os feridos, os estrangeiros não são autorizados a cruzar a fronteira, e há um limite de horário para que essa operação seja realizada. Ao longo do dia de ontem, apenas cinco veículos cruzaram a fronteira.
Segundo o embaixador, a equipe da embaixada deveria pernoitar na cidade egípcia de el-Arish, no Sinai, para onde o grupo será levado após cruzar a fronteira.
O chanceler Mauro Vieira afirmou esperar que a ordem de saída de nacionais seja mantida quando a fronteira for aberta, mas que será uma definição das duas partes.
— Esperamos e contamos com o fato de que, no momento que for aberta a passagem de Rafah, essa ordem de passagem seja mantida, com atraso de dois dias, três dias, mas que seja mantida. O ministro afirmou que o grupo que será repatriado estava na fronteira desde a manhã de ontem e foi levado para um alojamento próximo a Rafah providenciado pela embaixada brasileira a fim de esperar a abertura da passagem.
Muitas negociações foram necessárias até a autorização para que os brasileiros saíssem de Gaza ontem. Só na quarta-feira da semana passada, a primeira leva de estrangeiros e palestinos feridos de gravidade foi liberada a deixar o enclave desde o ataque-surpresa do grupo terrorista Hamas a Israel em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.200 mortos e foi seguido de uma campanha de pesados bombardeios à Faixa de Gaza. Segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, mais de 11 mil pessoas já morreram. Até então, apenas caminhões com ajuda humanitária haviam passado pela fronteira, entrando no território.
Até quarta feira passada, nenhum brasileiro havia sido incluído nas seis listas de pessoas liberadas para cruzar para o Egito por Rafah, frustrando as expectativas do governo, que vinha pressionando diariamente as autoridades israelenses e egípcias pela liberação. As negociações envolveram conversas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os presidentes de Israel, Isaac Herzog, e do Egito, Abdul Fatah al-Sisi. Antes, mais de mil brasileiros que estavam em Israel e na Cisjordânia já haviam sido repatriados em voos da FAB.
Interior de São Paulo
Segundo Vieira, o grupo em Gaza continuará recebendo auxílio do governo brasileiro enquanto permanecer na região, o que inclui uma casa perto da fronteira e dinheiro para comida. A operação de resgate prevê que desembarquem em Brasília e, em seguida, sejam levados para cidades onde têm familiares ou amigos.
O secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, disse ontem que o governo federal irá providenciar abrigo no interior de São Paulo a 14 integrantes do grupo. Por questão de segurança, o governo não deu detalhes sobre a cidade.