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Caso Henry

Após silêncio de Jairinho, juíza marca novo interrogatório de ex-vereador

Em audiência, nesta quarta-feira, ele afirmou que só se pronunciaria sobre acusações do Ministério Público após a inclusão de documentos pendentes no processo

Jairinho durante interrogatórioJairinho durante interrogatório - Foto: Brunno Dantas/TJ-RJ

A juíza Elizabeth Machado Louro, titular do II Tribunal do Júri, designou para o dia 16 de março, a partir das 9h30, um novo interrogatório para Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, no processo em que ele é réu por torturas e morte de Henry Borel Medeiros.

Na manhã desta quarta-feira, dia 9, o médico e ex-vereador limitou-se a negar as acusações e garantir que irá provar sua inocência e a da ex-namorada, Monique Medeiros da Costa e Silva.

Em seu depoimento, a professora narrou episódios de violência por parte dele, disse estar dormindo e supôs que o filho pode ter tomado alguma medicação dada por ele que tenha lhe causado a laceração hepática e, consequentemente, a sua morte.
 

— Eu nego todos os fatos narrados na denúncia do Ministério Público. Juro por Deus que nunca encostei um dedo em um fio de cabelo do Henry. Preciso provar a minha inocência e a da Monique também. Se eu estou sofrendo no sistema prisional, imagino o que está sofrendo a Monique, que perdeu um filho. Existe a justiça dos homens e a justiça de Deus. Eu penso todos os dias como o perito (Leonardo Tauil, responsável pela necropsia do Henry) tem conseguido dormir, colocar a cabeça no travesseiro tranquilo — disse o ex-vereador, que pediu para não ser fotografado nem filmado, o que foi deferido pela magistrada.

Em cerca de dez minutos, Jairinho alegou que só se pronunciaria após a inclusão de documentos pendentes no processo, como imagens de câmeras de segurança do Hospital Barra D’Or, onde Henry foi atendido, e do Instituto Médico-Legal (IML), para onde o corpo do menino foi levado e passou por necropsia, além de um exame de raio-x feito na criança. Elizabeth Machado Louro já determinou a juntada das peças imediatamente.

Já Monique falou por quase dez horas, discorrendo por detalhes de sua vida acadêmica, profissional e familiar. Ela contou sobre o relacionamento que teve com o engenheiro Leniel Borel de Almeida, com quem ficou por quase uma década, da gravidez e dos primeiros anos de vida do filho. Sobre o namoro com Jairinho, a professora diz ter passado por crises de ciúmes e de descontrole e vivido abusos e agressões físicas e verbais com ele.

Questionada pela juíza sobre o que pode ter acontecido com Henry, Monique disse não saber o que ocorreu na madrugada de 8 de março de 2021 e só o menino, o ex-namorado e Deus sabem essa resposta:

— Eu não sei o que aconteceu de fato, eu estava dormindo. O que eu suponho é que meu filho tenha causado alguma medicação que pode ter causado alguma laceração. Não sei se foi o Jairinho deu porque estava com ciúmes do Leniel. Mas as únicas pessoas que sabem o que aconteceu foi meu filho, que não está mais aqui; Deus, que sabe de tudo; e ele (o Jairinho). Quem me acordou foi ele. Se houve alguma coisa, foi ele que fez, porque vamos comprovar que ele estava acordado e eu não.

No fim do depoimento, Monique contou que Jairinho jurou a ela com a mão sob uma bíblia que nunca fez nada de mal ao então enteado.

— Eu juro, pelos meus três filhos mortos, que eu nunca fiz nada com o seu filho — disse, repetindo depois que foi a melhor mãe para Henry.

Monique narrou, também em detalhes, como foi a chegada de Henry ao condomínio Majestic, no Cidade Jardim, ainda na noite de 7 de março. Ao ser entregue por Leniel, a professora conta que o menino estava passando mal e vomitando. Para distrai-lo, ela o levou até uma padaria próxima ao imóvel e depois, ao subir no apartamento, lhe deu banho e o colocou para dormir. Em seguida, contou que foi assistir televisão com Jairinho e tomou um calmante dado por ele. Ela disse que, quando já estava dormindo, foi acordada pelo então namorado, que dizia ter encontrado a criança caída no chão e o colocado na cama.

— Estávamos bebendo vinho. Não sei se nesse dia, ele colocou um comprimido na minha taça. Por volta das 3h40, o Jairinho me acordou dizendo que tinha ouvido um barulho no quarto do Henry. Disse que ele tinha encontrado o Henry caído no chão, tinha pegado ele e colocado na cama de novo. Estranhei porque o Henry estava descoberto e ele sempre dormia enroladinho no edredom — disse.

Monique disse que o filho estava gelado e "olhando pro nada" e contou que Jairinho disse que eles deveriam levar o menino para o hospital:

— Eu vi todo o procedimento de reanimação no meu filho. Eles aplicaram oito injeções de adrenalina, fizeram massagem cardíaca, quando um cansava, vinha outro. Eu vi meu filho ser entubado. Vi tudo isso e não vi um roxo no meu filho. Eu vi meu filho pelado e ele não tinha um roxo. Às 5h52, vieram me dizer que ele tinha morrido. Foi como se tivesse arrancado um pedaço de mim.

Emocionada e chorando, ela contou que tinha "certeza que Henry estava vivo" quando o levou para o Hospital Barra D’Or com Jairinho e que lembra da cena de Leonel Borel, pai do menino, chorando aos prantos na unidade de saúde.

— Parecia um pesadelo — disse.

A professora contou ainda que foi apresentada por Jairinho ao advogado André França Barreto e ele a manipulou a mentir sobre a madrugada da morte de seu filho. Ela contou que o advogado disse que ela poderia ser responsabilizada por omissão e negligência por ter bebido antes de dormir e por ter deixado Henry dormir sozinho.

— Ele criou uma história, ele me treinou para falar o que ele tinha planejado, de uma forma que não sobrasse nenhuma aresta, era a história perfeita. Na minha cabeça, não havia motivo para mentir porque o Jairinho disse que ele foi vítima de um acidente doméstico — relatou Monique — As pessoas me questionam porque eu mudei a versão e foi justamente porque eu mudei de advogados e eu posso dizer a verdade: eu estava dormindo e ele acordado. Hoje temos provas de que eu estava dormindo e ele acordado e que foi ele que fez e não fui eu que fiz — disse.

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