PESQUISAS

Após um ano de interrupção com a pandemia, ciência brasileira retoma trabalhos na Antártida

Estação brasileira recebe equipe da Fiocruz que pesquisa micro-organismos, Inpe constrói estação meteorológica, e UFRN remonta módulo para estudar alta atmosfera

Estação Comandante Ferraz, na AntárticaEstação Comandante Ferraz, na Antártica - Foto: Maurício de Almeida/TV Brasil

Após um ano paralisadas em razão da Covid-19, as atividades de cientistas brasileiros na Antártida foram retomadas de forma produtiva neste verão austral. As primeiras equipes de cientistas que atuaram na temporada atual da Estação Antártica Comandante Ferraz começam a retornar agora ao Brasil, dando lugar a outras que devem ficar pelo restante do período.

Entre trabalhos realizados recentemente, estiveram a instalação de uma estação meteorológica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), coleta e análises de material biológico em um laboratório recém-inaugurado pela Fiocruz e a instalação de um módulo com uma antena para estudar a ionosfera, projeto liderado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que estava parado desde 2012, quando a estação se incendiou.

Além de uma equipe da própria Fiocruz, dois grupos de pesquisa do Distrito Federal — um da Universidade de Brasília e outro da Universidade Católica de Brasília — coletam amostras de solo, água e microrganismos, para pesquisas ecológicas e de bioprospecção (busca de moléculas com interesse farmacológico e de aplicação bioquímica).

A retomada dos trabalhos científicos levou sete anos, mas ocorreu só por uma temporada no período 2019/2020, com a reinauguração das novas estruturas de Ferraz. A expectativa de voltar com força total no verão seguinte foi um anticlímax, com a expedição científica de 2020/2021 sendo frustrada pela pandemia.

No novo retorno, para o período 2021/2022, pesquisadores mostram muito entusiasmo, mas o tempo necessário para as expedições aumentou muito, pois os bloqueios sanitários impedem viagens de avião com escala no Chile, que levavam de dois a três dias.

 

Agora, a única alternativa é ir de navio, uma viagem que dura quase um mês, contando uma semana de quarentena que os pesquisadores e marinheiros são obrigados a cumprir ancorados no Rio de Janeiro.

Nesta temporada, a divisão da Marinha que comanda o Proantar (Programa Antártico Brasileiro) não permitiu que a estação Ferraz recebesse visita de turistas nem de jornalistas, para que o protocolo de isolamento não fosse comprometido. 

A reportagem do Globo conversou nos últimos dias com alguns pesquisadores via internet, enquanto aguardavam o tempo melhorar para trabalhar em campo.

— Aqui nossa rotina depende muito do tempo, e o tempo muda muito rápido. Quando o vento está muito forte, por exemplo, a gente não pode sair, por segurança — conta Maithê Magalhães, do Fioantar, programa da Fiocruz na Antártida. — Nos dias em que as condições não estão favoráveis para a gente fazer coleta em campo, ficamos no laboratório, organizamos a pesquisa e trabalhamos analisando material já coletado.

Harrison Magdinier Gomes, também da Fiocruz, conta que nos primeiros dias de dezembro a equipe não deu muita sorte com as condições meteorológicas.

— A temperatura não chega a ser um desafio, porque estamos preparados com as roupas que recebemos do Proantar, mas o vento pode arremessar uma pessoa. Na semana passada, nós tivemos aqui ventos de 140 km/h — conta o cientista.

Desde a reabertura da estação brasileira, a Marinha contrata durante a temporada de pesquisas um alpinista profissional que faz o acompanhamento de segurança dos cientistas nas áreas mais perigosas.

Com um pouco de paciência e sorte, porém, os pesquisadores, que começaram chegar na estação em novembro, têm conseguido avançar em seus objetivos.

Na sexta-feira passada, o Inpe anunciou que conseguiu reativar a estação meteorológica que faz medições automáticas na Estação Ferraz, uma instalação importante para os trabalhos científicos brasileiros na região.

Na quinta-feira, o Globo trocou mensagens com Marcelo Santini, do Inpe, que coordenou os trabalhos.

— Hoje estou no Max (navio polar Almirante Maximiano), onde embarquei ontem para a ida à Ilha Pinguim, onde instalamos um conjunto de sensores para amostras de fluxos de calor, CO2 e registro de outros parâmetros atmosféricos. Estou aguardando o tempo melhorar para desembarcar e finalizar o procedimento de transmissão de dados dessa estação meteorológica que instalamos na Estação Antártica Comandante Ferraz — contou o pesquisador.

O Inpe informou ontem que a operação obteve sucesso e os dados da estação já estão sendo transmitidos em tempo real para o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Pesquisa ionosférica
Outra instalação de pesquisa reativada nesta temporada de trabalhos na Antártida foi o módulo VLF (Very Low Frequency), que captura ondas de rádio para estudos da ionosfera, parte da alta atmosfera que interage com partículas eletricamente carregadas vindas do Sol.

A unidade de pesquisa, que funciona num abrigo separado da Estação Ferraz, tinha ficado sem eletricidade por nove anos. Após ganhar um novo teto, teve antenas reconstruídas e deve ser reativada em breve.

— Ali nós temos cinco equipamentos, e já reinstalamos completamente dois deles. O terceiro está quase lá — conta o físico José Henrique Fernandez, da UFRN , que coordena o projeto. — Os outros dois que faltam devem estar instalados até o fim do verão em abril.

No passado, o módulo VLF era importante por emitir sinais de localização para os navios, antes do advento da tecnologia do GPS. Hoje é usado para estudar fenômenos como o efeito da mudança climática na alta atmosfera, o buraco na camada de ozônio e o efeito das tempestades solares. Este último, além de promover o belo fenômeno das auroras austrais na região, afeta a comunicação por satélite.

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