Milei

Após visita a túmulo de rabino, Milei irá a Washington para tentar dissipar dúvidas e forjar vínculo

O porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca afirmou que quer conhecer as ideias do presidente eleito; Milei também se reunirá com o FMI e o Tesouro

Javier Milei comemora com apoiadores após vencer segundo turno das eleições presidenciais em Buenos Aires Javier Milei comemora com apoiadores após vencer segundo turno das eleições presidenciais em Buenos Aires  - Foto: Emiliano Lasalvia / AFP

Ao longo deste ano, Washington observou a meteórica ascensão política de Javier Milei com uma mistura de perplexidade e inquietação, com mais dúvidas do que certezas. Nesta segunda-feira, quando Milei pisar na capital americana pela primeira vez como presidente eleito da Argentina, ele poderá dissipar essas dúvidas pessoalmente, enquanto começa a construir vínculos decisivos para o futuro da economia argentina e também para seu próprio governo.

Desconhecido para a burocracia de Washington, Milei chegou com uma oportunidade um tanto atípica para um político a poucos dias de assumir a Presidência da terceira maior economia da região: deixar uma boa primeira impressão.

A visita de Milei aos Estados Unidos, sua primeira viagem ao exterior desde que venceu no segundo turno das eleições presidenciais, terá duas paradas. A primeira, em Nova York, tem um motivo pessoal. Milei visitou novamente "El Ohel", o túmulo do rabino Menachem Mendel Schneerson, mais conhecido como "o Rebe de Lubavitch", um lugar sagrado para o judaísmo. "Vou agradecer", disse em uma entrevista à LN+. Esteve lá por menos de uma hora, acompanhado de sua irmã Karina e Gerardo Whertein, que se perfila como seu futuro embaixador em Washington.

Segundo a imprensa argentina, Milei já havia visitado a tumba do rabino ucraniano em julho passado. Apesar de ser católico, o economista expressou interesse no estudo da Torá, o livro sagrado do judaísmo.

Após essa parada espiritual, Milei seguirá viagem para Washington nesta tarde, com uma missão específica: marcar o início de sua relação com a Casa Branca, o Tesouro e o Fundo Monetário Internacional (FMI), três atores críticos para seu programa econômico, que visa imprimir uma mudança radical no rumo da Argentina.

Na agenda, ainda sujeita a alterações, estão previstas reuniões com a equipe do FMI, funcionários do Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional (NSC, na sigla em inglês) da Casa Branca, o braço de política externa da Ala Oeste, e também do Tesouro, que deve dar um parecer sobre seus planos. Até o momento, não está prevista nenhuma reunião no Congresso. A visita não tem o objetivo, a princípio, de obter novos fundos.

Afinidades e diferenças
Seja com funcionários da Casa Branca, do Tesouro, do Departamento de Estado ou do FMI, o contato direto dará a Milei a possibilidade de começar a dissipar inquietações e as interrogações que sua campanha presidencial intempestiva semeou, além de construir os laços aos quais precisará recorrer após assumir para colocar seus planos em prática.

As reuniões no Departamento de Estado e na Casa Branca permitirão destacar afinidades e diferenças, além de começar a delinear uma agenda de trabalho. Milei poderá definir perante o governo de Joe Biden sua posição em questões regionais e globais. E poderá oferecer um primeiro ponto de concordância: seu firme apoio a Israel e Ucrânia em seus respectivos conflitos com o Hamas, na Faixa de Gaza, e com a Rússia de Vladimir Putin na Ucrânia.

A Casa Branca mostrou intenção de fortalecer os laços entre os EUA e a Argentina, apesar das evidentes diferenças ideológicas entre Milei e Biden. No entanto, o governo americano reforçou em suas mensagens públicas uma agenda de "prioridades compartilhadas", entre as quais mencionou a proteção da democracia e dos direitos humanos — dois fronts nos quais Milei despertou preocupações —, a luta contra as mudanças climáticas — algo que Milei nega —, e a agenda de segurança alimentar e energética global, na qual o governo de Biden espera que a Argentina desempenhe um papel estratégico.

No Tesouro e no FMI, Milei discutirá o perfil do programa econômico, que visa implementar um forte ajuste fiscal e uma reorganização das variáveis monetárias para começar a estabilizar a economia. Ao contrário de seus dois antecessores, Mauricio Macri e Alberto Fernández, Milei terá uma margem muito mais restrita no Tesouro.

Jay Shambaugh, subsecretário para Assuntos Internacionais do Tesouro e colaborador da secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse em um discurso em setembro que o FMI "deve estar disposto a retirar seu apoio se um país não adotar as medidas necessárias" para ser eficaz, uma mensagem claramente interpretada como uma nota separada em relação à Argentina. Mas Milei também chega com uma visão — e um pacote de reformas — muito mais alinhada com a filosofia do FMI do que a de Fernández, ou mesmo a de Macri.

Antes de viajar, Milei já teve sua primeira conversa virtual com a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, na sexta-feira após o feriado de Ação de Graças nos EUA. Milei disse que a conversa, que durou cerca de uma hora, foi "excelente" e que o FMI se mostrou "colaborativo". Georgieva reiterou que o FMI está "comprometido em apoiar os esforços para reduzir de forma duradoura a inflação, melhorar as finanças públicas e aumentar o crescimento liderado pelo setor privado".

Milei, que assumirá a Presidência em 10 de dezembro, antes de se candidatar em 2022 e durante uma entrevista com o jornalista peruano Jaime Bayly em agosto, anunciou que, se chegasse ao governo, além de fortalecer os laços com Israel, transferiria a embaixada argentina para Jerusalém, como fez o ex-presidente republicano dos Estados Unidos, Donald Trump (2017-2021). (Com AFP.)

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