Período 2023-2027 provavelmente será o mais quente já registrado, alertam especialistas
Segundo especialistas, patamar é considerado limítrofe para evitar um cataclismo
O período 2023-2027 muito provavelmente será o mais quente já registrado na história, devido ao impacto dos gases do efeito estufa e do fenômeno meteorológico El Niño, que estão provocando o aumento das temperaturas, alertou a ONU nesta quarta-feira (17).
"Há 98% de probabilidades de que ao menos um dos próximos cinco anos, e o quinquênio em seu conjunto, seja o mais quente já registrado", anunciou a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
O organismo especializado das Nações Unidas calcula ainda em 66% a probabilidade de que a temperatura média anual da superfície da Terra supere em 1,5°C os níveis pré-industriais durante pelo menos um dos cinco anos.
Os Acordos de Paris sobre o clima (2015) estabeleceram como objetivo limitar o aumento das temperaturas globais neste século abaixo de 2°C na comparação com os níveis pré-industriais de 1850 a 1900, ou a 1,5°C na medida do possível.
Os dados publicados nesta quarta-feira "não significam que vamos superar de forma permanente a barreira de 1,5°C do Acordo de Paris, que se refere a um aquecimento a longo prazo sobre vários anos", destacou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
"A OMM, no entanto, está soando o alarme ao anunciar que vamos superar o nível de 1,5°C de forma temporária ou com mais frequência", acrescentou.
"Espera-se um episódio de El Niño nos próximos meses e isto, combinado com a mudança climática provocada pelas atividades humanas, provocará o aumento das temperaturas mundiais a níveis jamais alcançados", afirmou o meteorologista finlandês.
"Isto terá grandes consequências para a saúde, segurança alimentar, gestão da água e meio ambiente. Precisamos estar preparados", reiterou.
El Niño é um fenômeno climático natural, geralmente associado a um aumento das temperaturas, maior seca em algumas regiões do mundo e chuvas intensas em outras áreas.
Há uma janela de oportunidade para que o cenário seja revertido até o fim do século, segundo o braço da Organização das Nações Unidas, mas para isso é necessário ação muito mais rápida e eficaz do que a vista até agora.
A chance de que o limite de 1,5°C, considerado essencial para evitar um cataclismo, seja rompido entre 2023 e 2027, é de dois terços — é a primeira vez que o pêndulo tende para mais provável do que para menos. No relatório anual de 2022, a previsão era de 50%. A temperatura média do planeta pode chegar a aumentar 1,8°C no próximo quinquênio, apesar de isso ser mais provável.
Cada meio grau é chave para evitar mudanças climáticas extremas que põem em risco a vida na Terra, como secas e enchentes cada vez mais frequentes e graves e o aumento do nível dos oceanos que ameaça extinguir pequenos Estados-ilha. Segundo previsões de relatórios prévios da ONU, por exemplo, uma seca extrema que sem interferência antropogênica aconteceria uma vez por década, passaria a ocorrer 4,1 vezes se a temperatura do planeta subir 1,5ºC até o fim do século.
— Nós realmente agora estamos na margem de probabilidade de exceder 1,5°C na média anual, e é a primeira vez que estivemos tão perto — afirmou Adam Scaife, chefe de projeções de longo prazo do Met Office, o escritório meteorológico do Reino Undo, que produziu o relatório para a OMI.
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Limitar o aquecimento global ao marco é parte do emblemático e vinculante Acordo de Paris, firmado na COP21, a conferência da ONU sobre o clima de 2015. Ele almeja limitar o aquecimento global em 2100 a até 2ºC em comparação aos níveis pré-industriais e, idealmente, mantê-lo inferior a 1,5ºC — patamar que foi reforçado há dois anos na COP26, em Glasgow, e ano passado na COP27, no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh.
A constatação do relatório recém-divulgado não significa necessariamente que o pacto de Paris foi um fracasso, já que o cenário pode ser mitigado até o fim do século, mas é o mais recente de uma série de alertas. Na entrevista coletiva de lançamento, Leon Hermanson, cientista que produziu o relatório, contudo, afirmou que a catástrofe está "cada vez mais perto".
A conclusão está de acordo com parte do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado em março, que afirma haver "uma janela de oportunidade que se fecha rapidamente para garantir um futuro habitável e sustentável para todos”. O mesmo documento, que sintetizou um ciclo de avaliações iniciado em 2018, afirma ser provável que o mundo exceda o 1,5°C até 2100.
Todos os caminhos pare reverter o cenário, alerta o documento, envolvem “rápidas, profundas e, na maioria dos casos, imediatas reduções de emissões em todos os setores” até 2030. A urgência é enorme, destacam os especialistas, afirmando que opções hoje viáveis se tornarão ineficazes ou inviáveis conforme a temperatura planetária aumenta.