Argentina e Brasil confrontam exigências da UE na cúpula do Mercosul
Cúpula, que reúne Chefes de Estado do bloco, tem como anfitrião o presidente argentino Alberto Fernández
Argentina e Brasil, as maiores economias sul-americanas, confrontaram nesta terça-feira (4) a "inaceitável" e "parcial" postura ambiental da União Europeia (UE) no acordo comercial com o Mercosul, durante uma cúpula de chefes de Estado do bloco.
A UE "nos apresenta uma visão parcial de desenvolvimento sustentável, excessivamente centrada no meio ambiente", disse o presidente argentino, Alberto Fernández, anfitrião do encontro em Puerto Iguazú (nordeste).
O Mercosul, que reúne Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, tenta concretizar um tratado de livre-comércio com a UE, no âmbito de um acordo de princípios em 2019, depois de mais de duas décadas de duras negociações, sem que ainda tenha sido ratificado.
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No entanto, uma carta adicional ao acordo apresentada em março pelo bloco europeu de 27 países, com exigências ambientais relativas ao setor agropecuário, gerou ressentimento entre os sul-americanos.
Esse documento "é inaceitável. "Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções", enfatizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não temos interesse em acordos que nos condenem ao papel de exportadores de matérias-primas", afirmou.
"Ninguém pode nos condenar a sermos fornecedores de matéria-prima que outros industrializam e depois nos vendem a preços exorbitantes", afirmou Fernández.
Do evento, com as Cataratas do Iguaçu como cenário, participam também o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou e o paraguaio Mario Abdo. Também está presente o presidente da Bolívia, Luis Arce, cujo país espera sua adesão como membro pleno do bloco.
- "Espada na cabeça" -
O retorno de Lula ao poder no Brasil, em janeiro, deu um novo impulso ao diálogo com a UE, estancado durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).
As exigências relativas ao meio ambiente criam, porém, uma névoa de desconfiança.
"Ninguém no mundo tem autoridade moral de discutir conosco a questão de energia limpa", apontou Lula, em entrevista de Puerto Iguazú à TV Brasil, pouco antes da cúpula.
O presidente, que nesta terça assume a Presidência rotativa do Mercosul, alertou contra "imposições" nas negociações com a UE.
"É um acordo de companheiros, de parceiros estratégicos. Então, nada de um parceiro estratégico colocar a espada na cabeça do outro. Vamos sentar, vamos tirar as nossas diferenças", afirmou.
O presidente indicou que seu governo prepara uma contraproposta para chegar a Bruxelas, que será sede, de 17 a 18 de julho, de uma cúpula entre a UE e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), a primeira em oito anos. Lula não confirmou sua participação.
O chanceler argentino, Santiago Cafiero, indicou que seu país já apresentou ao bloco sul-americano suas ideias sobre a postura europeia, às quais Paraguai e Uruguai somaram suas observações.
É imperativo que o Mercosul apresente uma "resposta rápida e contundente", disse Lula na cúpula presidencial que acontece perto da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.