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Argentina

Argentina inicia campanha presidencial com incerteza econômica e surpresa de Milei

Panorama eleitoral está dividido em proporções antagônicas

Palácio Presidencial Casa Rosada em Buenos Aires Palácio Presidencial Casa Rosada em Buenos Aires  - Foto: Juan Mabromata/AFP

A Argentina iniciou, nesta segunda-feira (14), a campanha para as eleições presidenciais de outubro, em meio à incerteza econômica, com uma desvalorização de sua moeda, o peso, e dúvidas sobre o acordo com o FMI, após o avanço contundente nas primárias do candidato ultraliberal antissistema Javier Milei.

Milei, um economista de 52 anos, da extrema direita, sacudiu o tabuleiro político ao se tornar o candidato mais votado das primárias de domingo, sua primeira eleição nacional, com 30% dos votos.

Com o resultado, ele se posicionou um pouco à frente das coalizões tradicionais: a da oposição de direita Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança, com 28,3%), pela qual a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich será candidata, e a do peronismo governista Unión por la Patria (União pela Pátria, com 27,3%), que terá como candidato o ministro da Economia, Sergio Massa.

Com o panorama eleitoral dividido em proporções antagônicas, mas de pesos quase equivalentes, também abriu-se a via da incerteza política.

"Conseguimos construir esta alternativa competitiva, que porá fim à casta política parasitária, ladra, inútil", disse Milei, em seu discurso da vitória, na noite de domingo, "Estamos em condições de vencer a casta no primeiro turno", em 22 de outubro, assegurou.

Entre as principais propostas de Milei estão eliminar o Banco Central e dolarizar a economia. Ele também quer voltar a proibir o aborto e autorizar o porte livre de armas.

"Uma pessoa que ganhou quebrando tantas regras pré-estabelecidas é alguém que pode não ter um teto fácil. A Juntos por el Cambio tem algum teto, mas claramente mais possibilidades que o governo. O governo é, definitivamente, o ator mais complicado", afirmou à AFP o consultor político Carlos Fara.

Dúvidas sobre o FMI
"Com estes resultados, surge uma interrogação, não pelas condições técnicas do acordo ou porque o Fundo Monetário não queira ajudar a Argentina no curto prazo, mas devido ao fato de que o ministro da Economia, que é quem tem que aplicar as regras, ficou em terceiro na eleição", comentou Fara.

A Argentina tem um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), assinado em 2018 de 44 bilhões de dólares (cerca de R$ 155 bilhões, em cotação da época). O pacto foi assinado pelo ex-presidente Mauricio Macri e renegociado em 2022 pelo presidente Alberto Fernández.

Segundo Fara, "talvez o Fundo diga que é preciso voltar a dialogar com a Argentina para ver quais as chances que Massa tem de cumprir este acordo nos próximos noventa dias".

No fim de julho, o FMI acordou a flexibilização da meta de acúmulo de reservas internacionais da Argentina, uma decisão que precisa da aprovação da direção do Fundo, e da qual depende para que o país receba 7,5 bilhões de dólares (R$ 37 bilhões, na cotação atual).

Nesta segunda, em uma primeira reação, o Banco Central desvalorizou o peso em cerca de 20% e elevou em 21 pontos percentuais a taxa básica de juros a 118% ao ano.

Na Argentina, vigora desde 2019 um sistema de controle de divisas e várias taxas de câmbio funcionam em paralelo à oficial.

"A derrubada do peso vai pressionar ainda mais o índice inflacionário", advertiu, nesta segunda, a consultoria Capital Economics, que a projeta em 130% ou 140% ao ano, contra o atual 115%.

"Cada vez será mais difícil considerar que a dívida argentina é sustentável", apontou a análise da Capital Economics, que também alertou para uma recessão iminente que "tornará mais complicado ainda o trabalho do próximo presidente".

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