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Crise

Argentina vive onda de saques, e porta-voz da Casa Rosada acusa partido de Milei de envolvimento

Candidata presidencial de oposição ao governo Patricia Bullrich disse que não pode ser descartado o estado de sítio; governo nega necessidade de medida extrema

Policiais protegem um supermercado, sob neve após uma tentativa de saque, em Bariloche, ArgentinaPoliciais protegem um supermercado, sob neve após uma tentativa de saque, em Bariloche, Argentina - Foto: Tomas Cuesta/ AFP

Nos últimos dias, uma onda de saques a supermercados e assaltos fez os argentinos lembrarem das cenas vividas no país durante a hiperinflação de 1989 e a crise de 2001 e 2002, no momento em que a Argentina tem mais de 40% da população vivendo abaixo da linha da pobreza.

Os incidentes que ocorreram nas províncias de Buenos Aires, Mendoza, Córdoba, Neuquén e Rio Negro complicaram ainda mais a já turbulenta campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 22 de outubro, levando candidatos a falar até em estado de sítio.

O governo do presidente Alberto Fernández disse não saber ainda se existe uma organização por trás dos ataques, embora diferentes leituras dos acontecimentos tenham emergido da Casa Rosada. O ministro da Segurança, Aníbal Fernández, assegurou que o governo ainda não tem dados concretos.

Mas a porta-voz da Casa Rosada, Gabriela Cerrutti, acusou o partido A Liberdade Avança, fundado e liderado pelo candidato de extrema direta à Presidência Javier Milei, de promover “uma onda de roubos em massa”.

— Quando não tinha acontecido nenhum episódio concreto, Milei já dizia que estávamos como em 2001, que estavam ocorrendo saques descontrolados — declarou Cerrutti.

A candidata a vice na chapa do Liberdade Avança, Victoria Villarruel, respondeu pedindo a renúncia da porta-voz por seus ataques a um candidato presidencial.

Em entrevista a rádios locais, antes da onda de saques, Milei assegurou ser “trágico que vinte anos depois voltemos a ver as mesmas imagens que vimos em 2001. Pobreza e saques são duas caras da mesma moeda”.

Cerca de 200 pessoas foram detidas em todo o país. Na província de Mendoza, autoridades informaram que os atos foram cometidos por “delinquentes que atuam de maneira organizada, com participação de menores”.

Na província de Buenos Aires, o governador kirchnerista, Axel Kicillof, que concorre à reeleição, afirmou que “os moradores e moradoras não participaram de forma expressiva”, tentando derrubar qualquer ideia de ação espontânea de pessoas que estão passando fome.

A também candidata à presidente Patricia Bullrich, da aliança opositora Juntos pela Mudança, que promete ordem e segurança se for eleita, acusou o governo de Fernández de ter perdido o controle e disse que não deveria ser descartada a possibilidade de decretar estado de sítio.

Enquanto governo e oposição trocam acusações, alguns movimentos sociais assumiram ter participado de saques.

O ativista Raúl Castells, que na crise de 2001 foi um dirigente relevante nas manifestações sociais contra o governo do ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) e desde então continua no comando do Movimento Independente de Aposentados e Desempregados, reconheceu ter promovido ações de roubos de comida em supermercados da província de Buenos Aires.

— O fato criminoso aqui é que o quilo de bife à milanesa custe 4.200 pesos (R$ 32), que um quilo de batata custe mil pesos (R$ 7,6), um quilo de açúcar também mil pesos, que digam que estamos cometendo um crime é uma afronta ao povo da Argentina — disse Castells.

Segundo ele, “ninguém está roubando nada. Em Mendoza, Córdoba Neuquén, Santa Fe, Corrientes, Chaco, na capital federal, as pessoas estão saindo em busca de comida, e se não encontram comida nós, que estamos convocando este movimento, estamos dizendo que sem roubar dinheiro, sem quebrar nada, levem o que puderem [dos supermercados]”.

— Avisamos ao governo que se entregarem alimentos esse problema se resolve em 24 horas. Se não resolverem, voltamos a 1989, 2001, tudo de novo — enfatizou Castells.

Após os incidentes, o governo criou um comando policial unificado contra saques, e descartou qualquer possibilidade de adotar, como pediu Bullrich, medidas mais drásticas.

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