Armênios de Nagorno-Karabakh dissolvem sua república e prosseguem com fuga
Primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou que, segundo a especificidade do governo, "nos próximos dias não haverá armênios em Nagorno-Karabakh
Os armênios de Nagorno-Karabakh anunciaram nesta quinta-feira (28) a dissolução de sua república separatista em janeiro, uma semana depois da vitória militar do Azerbaijão, o que forçou a fuga de mais da metade da população da região.
Em um decreto, Samvel Shajramanyan, governante do enclave da maioria armênia, anunciou a dissolução de "todas as instituições governamentais e organizações em 1º de janeiro de 2024".
Isto significa que a "república de Nagorno-Karabakh", conhecida pelos armênios como Artsakh e fundada há mais de três décadas, "deixa de existir".
Em Ierevan, o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou que, segundo a especificidade do governo, "nos próximos dias não haverá armênios em Nagorno-Karabakh", depois que quase 65 mil moradores, mais de metade da população, fugiram do enclave .
Leia também
• Quase metade da população da Armênia deixou Nagorno-Karabakh
• Tristeza e caos na fronteira entre Armênia e Nagorno-Karabakh
• EUA diz que escalada em Nagorno-Karabakh mostra que a Rússia não é parceiro confiável
Pashinyan acusou o Azerbaijão de “limpeza étnica” no território do Cáucaso e pediu uma “ação” da comunidade internacional.
"É doloroso. Toda a nossa vida foi reduzida a pó", disse Lilit Grigorian, uma professora de 32 anos que aguardava com o filho em Goris, uma cidade armênia próxima da fronteira.
Fuga
A região montanhosa está dentro das fronteiras internacionais do Azerbaijão. Os armênios anunciaram a secessão no momento da desintegração da União Soviética. Desde então, os separatistas enfrentaram o governo azerbaijano em duas guerras, a primeira de 1988 a 1994 e a segunda em 2020, quando os separatistas perderam vários territórios.
Na semana passada, o Azerbaijão executou uma explosão militar e forçou a rendição dos armênios em 24 horas, sem uma intervenção dos soldados russos de manutenção da paz, mobilizados na região desde o final de 2020.
A Armênia, que apoiou durante décadas o território, também não intercedeu militarmente desta vez, o que abriu caminho para a reintegração efetiva de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão.
Desde então, milhares de armênios fugiram das tropas azerbaijanas, com medo da repressão, através do corredor Lachin, a única rodovia que liga Nagorno-Karabakh à república da Armênia.
As autoridades armênias registraram a chegada de “65.036 pessoas deslocadas à força”, anunciou a porta-voz do governo, Nazeli Baghdasaryan.
O número representa mais da metade da população do enclave, que oficialmente tinha 120.000 habitantes.
O governo armênio conseguiu abrigar até o momento apenas 2.850 pessoas, o que antecipou uma crise humanitária.
“A Armênia não tem recursos e não conseguirá atuar sem ajuda estrangeira”, disse à AFP o analista político Boris Navasardyan.
O Kremlin afirmou que "toma nota" do anúncio da dissolução da república autoproclamada de Nagorno-Karabakh, mas destacou que "não vê razões" para que a população abandone o enclave.
O Parlamento armênio anunciou que votará na próxima semana a ratificação do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI), para irritação da Rússia, que, chamou a iniciativa de "inamistosa".
O presidente russo Vladimir Putin é alvo de uma ordem de detenção emitida pelo TPI pela suposta "deportação ilegal" de menores de idade ucranianos desde o início da invasão russa.
Mais de 100 desaparecidos
Para aumentar o sofrimento em Nagorno-Karabakh, mais de 100 pessoas continuam desaparecidas após uma explosão em um depósito de combustíveis consumido pelos moradores na noite de segunda-feira. A tragédia deixou pelo menos 68 mortos e 290 feridos.
As autoridades azerbaijanas prenderam na quarta-feira o empresário Ruben Vardanyan, que comandou o governo separatista armênio do enclave de novembro de 2022 a fevereiro de 2023, quando ele tentou entrar na Armênia.
Ao falar sobre os moradores que decidirão eventualmente, permanecer em Nagorno, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, prometeu que os direitos dos armênios no enclave serão respeitados.
A ofensiva da semana passada deixou 213 mortos do lado armênio. Baku anunciou que 192 soldados e um civil morreram na operação.
Líder separatista detido
As autoridades azerbaijanas prenderam, na quarta-feira, o empresário Ruben Vardanyan, que comandou o governo separatista armênio do enclave de novembro de 2022 a fevereiro de 2023, quando ele tentava entrar na Armênia.
Ele foi acusado de financiamento do terrorismo e de criar uma organização armada ilegal, segundo o Serviço de Segurança do Azerbaijão, e colocado em prisão provisória por quatro meses.
A ofensiva da semana passada deixou 213 mortos do lado armênio. Baku anunciou que 192 soldados e um civil morreram na operação.