Arquidiocese de SP diz ver com "perplexidade" articulação de CPI que tem padre Júlio Lancellotti
Na Câmara Municipal da capital paulistana, Rubinho Nunes (União) mira trabalho filantrópico do religiosona Cracolândia
Após o vereador Rubinho Nunes (União) ter conseguido o número de assinaturas necessário para aprovar a criação da CPI das ONGs, que tem como alvo a atuação do padre Júlio Lancellotti, a Arquidiocese de São Paulo afirmou que recebeu a notícia com "perplexidade". A instituição questionou o motivo por trás de uma comissão para investigar o trabalho filantrópico do líder da Paróquia de São Miguel Arcanjo e defendeu o religioso.
"Perguntamo-nos por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral? Padre Júlio não é parlamentar. Ele é o Vigário Episcopal da Arquidiocese de São Paulo 'para o Povo da Rua' e exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade", diz trecho da nota.
O repúdio da arquidiocese ocorre após Rubinho Nunes ter elaborado um requerimento inicial que mira, principalmente, duas entidades que realizam trabalho comunitário destinado à população de rua e aos dependentes químicos da região: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e no coletivo Craco Resiste.
Nunes acusa o padre Júlio de fazer parcerias com elas. Ao GLOBO, o vereador disse receber "inúmeras denúncias" sobre a atuação de várias ONGs no Centro de São Paulo, que dão alimentos, mas não realizam o acolhimento dos vulneráveis:
Existe uma chamada máfia da miséria para obter ganhos por meio da boa-fé da população e isso não é ético e nem moral. O padre Júlio é o verdadeiro cafetão de miséria em São Paulo. A atuação dele retroalimenta a situação das pessoas. Não é só comida e sabonete que vai resolver a situação.
Em suas redes sociais, Padre Júlio Lancellotti negou qualquer relação com as entidades. "Esclareço que não pertenço a nenhuma Organização da Sociedade Civil ou Organização Não Governamental que utilize de convênio com o Poder Público Municipal. A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão", disse em nota.
Esta não é a primeira vez que o vereador critica o padre publicamente. Em dezembro, Nunes o convocou a prestar depoimento na Frente Parlamentar em Defesa do Centro, o que gerou críticas de políticos da esquerda como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
" As ONGs e demais cafetões da miséria vão ter que se explicar" afirmou Rubinho Nunes na ocasião.
Nas redes sociais, a criação da CPI recebeu críticas de parlamentares e membros da sociedade civil. Políticos como Nilto Tatto (PT), Gleisi Hoffmann (PT), Erika Hilton (PSOL) e outros parlamentares saíram em defesa do padre e criaram um movimento digital intitulado "Protejam o padre Júlio Lancellotti".
Leia a nota na íntegra
Acompanhamos com perplexidade as recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que coloca em dúvida a conduta do Padre Júlio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua. Perguntamo-nos por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral?
Padre Júlio não é parlamentar. Ele é o Vigário Episcopal da Arquidiocese de São Paulo “para o Povo da Rua” e exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade.
Reiteramos a importância do trabalho da Igreja junto aos mais pobres da sociedade.