Arquivos britânicos disponibilizam milhares de cartas entre Espanha e América confiscadas
Os documentos relativos a 35 mil embarcações, capturadas entre 1652 e 1815, já começaram a ser catalogados
Milhares de documentos, incluindo cartas enviadas à América, de navios espanhóis capturados pelo Reino Unido no século XVIII, poderão ser consultados na internet a partir de sexta-feira (24), anunciaram os Arquivos Nacionais britânicos, organização que os armazenou.
Os documentos relativos a 35 mil embarcações, capturadas entre 1652 e 1815, já começaram a ser catalogados e o objetivo é disponibilizá-los de forma online nos próximos anos, estabelecendo o ano de 2037 como meta inicial.
"Não sabemos quantos destes navios eram espanhóis. Era o segundo país com mais apreensões depois da França", explica à AFP um dos pesquisadores dos Arquivos Nacionais, Oliver Finnegan. "Devido às muitas disputas com o Reino Unido, 20% desses navios poderiam ser espanhóis, mas isso não pode ser garantido", acrescenta.
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O primeiro estudo sobre estas embarcações espanholas se concentrou nas 130 que foram capturadas pelos britânicos durante a Guerra da Orelha de Jenkins (1739-1748) e a Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748). O primeiro foi um conflito entre Espanha e Reino Unido pelo controle das colônias e do comércio na América, no qual os espanhóis se saíram melhor.
Um dos navios apreendidos pelo Reino Unido nessas duas guerras foi o "La Ninfa", que transportou mais de cem cartas enviadas da Espanha para o México. Em uma delas, Francisca Muñoz, de Sevilha, questiona o marido, Miguel Atocha, no México, pela falta de notícias.
"Gostaria de saber o motivo de ter escrito treze cartas para você e nenhuma ter tido resposta. Gostaria de saber se não há papel, caneta ou tinta para escrever uma", indaga a esposa em uma carta que seu marido nunca leu.
A espanhola Elena Barroso, doutora em Conservação Preventiva de Documentos, e que também trabalha neste projeto com os Arquivos Nacionais britânicos não sabe explicar como estes documentos foram preservados.
"As marinhas pediam aos navios que jogassem tudo na água ou destruíssem quando avistassem o inimigo. Levavam ouro, prata, cacau..." explica.
"A carta que li que mais me emocionou é a de um senhor andaluz, de Las Alpujarras, que escreve à sua mãe, anunciando que se tornou sacerdote no Peru e lhe envia a fita que o bispo lhe deu", lamentando que não poderá mais responder à mãe, contou a pesquisadora.
As primeiras cópias digitais destes documentos dos mais de 100 navios capturados pelo Reino Unido estarão disponíveis a partir de sexta-feira na base de dados Prize Papers Portal.
A digitalização destes primeiros documentos espanhóis está sendo realizada a partir de uma colaboração entre a Universidade de Oldenburg, na Alemanha, e os Arquivos Nacionais da Grã-Bretanha.
Ao todo, são 4.088 caixas contendo centenas de milhares de documentos em 20 idiomas.