'As aulas nunca mais serão as mesmas', diz aluna de professor morto em deslizamento em Petrópolis
Nelson Ricardo da Costa era doutor em Artes Visuais pela UFRJ e professor universitário. Ele tentava resgatar a mãe, que tinha dificuldades para andar, no momento do desabamento
Dois dias depois da tragédia que deixou, até o momento, cinco mortos em Petrópolis, na Região Serrana, militares do Corpo de Bombeiros ainda procuram por três vítimas desaparecidas na Rua Washington Luiz, no Centro da cidade, onde uma casa desabou após um deslizamento de terra.
Mirian Gonçalves do Vale, de 35 anos, a sobrinha e um amigo da família não foram encontrados. No mesmo imóvel morreram Heloisa Helena Caldeira da Costa, de 86 anos, e o filho, Nelson Ricardo da Costa. Ele era professor universitário e tentava resgatar a mãe, que tinha dificuldades para andar por conta da idade, no momento do desabamento.
Nelson era doutor em Artes Visuais pela UFRJ e lecionava nos cursos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Publicidade e Propaganda e Design de Moda do campus Petrópolis da Universidade Estácio de Sá. Nas redes sociais, a universidade postou uma foto de Nelson, um "profissional sem igual", de acordo com a Estácio: "Deixa muitos ensinamentos, grandes e lindas lições de vida (...) Para sempre será recordado com carinho, respeito e admiração", diz trecho da nota.
Também nas redes, a aluna Tatiani Zanetti destacou a tristeza sentida pelos alunos. "As aulas estão sendo muito difíceis. É um vazio que não sabemos explicar. As aulas de História da Arte e Arquitetura nunca mais serão as mesmas sem ele. De onde estiver, receba todo o nosso amor e nossa eterna saudade". O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ) lamentou a morte.
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Nelson era um dos professores mais queridos da instituição. A aluna Camila Roque postou, na internet, uma foto do professor e agradeceu por toda a convivência: "Obrigada por tantas aulas, tantas vivências compartilhadas, por nos fazer enxergar a arquitetura e a arte de outra forma. Emblemático, ensinou muito, aprendeu muito, viajou muito, viveu muito. Não dá para acreditar que você se foi de uma maneira tão trágica", destacou a estudante.
Segundo vizinhos, o imóvel onde ele morava com a mãe foi ampliado sem permissão da prefeitura, órgão constantemente alertado pelos moradores do entorno sobre a construção de anexos. No local moravam uma famílía, proprietária do prédio, e uma outra que alugava um dos andares.
Das mortes, duas foram na Rua Oswero Vilaça, mesma região do Morro da Oficina, onde houve o pior deslizamento de fevereiro. O casal Jussara Berlarmino e Carmelo de Souza optou por tirar os netos de casa após a chuva de fevereiro. No entanto, ambos permaneceram na residência, segundo vizinhos, depois de terem sido avisados pelos bombeiros de que deveriam deixá-la. O local já tinha sido apontado como área de risco pela Defesa Civil municipal, mas não tinha sido interditado.
Num deslizamento, a casa veio abaixo, e a enxurrada de água e lama arrastou os corpos dos dois por cerca de 50 metros.
A quinta vítima de domingo (20) ainda não foi identificada. O corpo foi encontrado no bairro Valparaiso e, por conta do avançado estado de decomposição, acredita-se que possa ser uma vítima de fevereiro, o que vai ser confirmado pela perícia.
Em Petrópolis, cerca de 140 militares atuam na resposta às ocorrências provocadas pelas chuvas, com apoio das unidades especializadas, incluindo as equipes do Grupamento de Busca e Salvamento, Socorro Florestal e Meio Ambiente, com suporte de cães farejadores da corporação. Desde domingo, foram mais de 60 chamados para deslizamentos, desabamentos e salvamentos de pessoas ilhadas.
Trinta e quatro pessoas foram resgatadas com vida. Até esta terça-feira (22), cinco vítimas foram encontradas sem vida: duas no Morro da Oficina, duas na Rua Washington Luiz e uma no Valparaiso.