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INVESTIGAÇÃO

As ligações entre o grupo do contraventor Rogério Andrade e o caso Marielle

Braço direito de contraventor atuava em rede de bingos, a mesma que deu autorização para o ex-PM Ronnie Lessa explorar os serviços na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio

Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes  - Foto: Reprodução

Preso na noite da última sexta-feira por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Jeferson Tepedino Carvalho, o Feijão, tem ligações não apenas com o bicheiro Rogério Andrade como também com o ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos tiros que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Andrade, inclusive, aparece em uma das linhas de investigação como suspeito de ser o mandante da execução. Os três também estão conectados por causa da exploração de bingos clandestinos no Rio, segundo revelou a operação Calígula, desencadeada em maio de 2022 pela Polícia Federal, a partir de investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

Segundo as investigações, além de um dos principais seguranças do bicheiro, Feijão também seria uma espécie de gerente dos bingos. Por sua vez, o contraventor autorizou que Ronnie Lessa explorasse a jogatina, inicialmente em um endereço da Avenida Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, e posteriormente em outros pontos da cidade. Os dois teriam inclusive se encontrado pessoalmente para discutir a parceria, de acordo com as investigações. Na trama, também aparecem policiais civis, acusados de liberarem máquinas caça-níqueis de maneira indevida, sob a suspeita de que teriam recebido propinas.

No caso do bingo clandestino da Barra da Tijuca surge outra conexão com Marielle Franco. Entre os "organizadores", o inquérito cita o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel. Na última segunda-feira, Suel foi preso pela segunda vez acusado de envolvimento com as mortes de Marielle e Anderson. A prisão tomou como base a delação premiada na qual o ex-PM Élcio de Queiroz admitiu que dirigia o carro usado no assassinato. Ele disse ainda que Ronnie Lessa atirou contra as vítimas e que Suel teria monitorado os passos da vereadora por pelo menos sete meses, bem como sido responsável por se livrar do carro usado no crime. Ainda segundo o delator, o ex-bombeiro foi o motorista de Lessa em uma tentativa frustrada para matar Marielle, na virada de 2017 para 2018.

Ronnie Lessa e Suel integravam a milícia da favela do Jorge Turco, em Rocha Miranda e adjacências, onde ambos exploravam sinal clandestino de internet.

Também na operação Calígula, foram presos os delegados da Polícia Civil Marcos Cipriano e Adriana Belém. Eles foram acusados de conexão com a quadrilha comandada por Rogério Andrade. Segundo a denúncia, ambos teriam influído para recuperar máquinas caça-níqueis apreendidas no bingo do Pepê, fechado em 24 de julho de 2018, que era gerenciado por Lessa. Por sugestão de Andrade e de Gustavo Andrade, filho do contraventor, Lessa procurou por meio de um aplicativo de mensagens o delegado Marcos Cipriano para que intermediasse um encontro com a delegada Adriana Belém, na época titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), jurisdição onde ficava o cassino.

Antes da reunião, Lessa enviou uma cópia dos áudios e das mensagens trocadas com o delegado Marcos Cipriano para Suel e um outro interlocutor do grupo. "Não haveria qualquer razão para que Ronnie Lessa encaminhasse sistematicamente os áudios trocados com Marcos Cipriano a respeito do encontro com Adriana Belém (...), se tal matéria não representasse interesse comum da horda", diz um trecho do inquérito.

O encontro ocorreu em 16 de agosto em um restaurante ao lado da delegacia da Barra. Participaram da reunião quatro pessoas: Ronnie Lessa, Cipriano, Adriana Belém e o chefe do setor de investigações da 16ª DP, Jorge Luiz Camillo Alves. Posteriormente, essas máquinas, de fato, foram liberadas. Para isso, Lessa enviou um caminhão para retirá-las da delegacia.

Ainda segundo o depoimento de Cipriano à Corregedoria, os dois deram outra versão sobre o encontro. Cipriano alegou que conhecia Ronnie Lessa desde criança, já que teriam sido vizinhos no Méier, bairro na Zona Norte da cidade. E que Lessa teria interesse em saber sobre o andamento de um inquérito em que se envolveu em um tiroteio no qual ele e o agressor saíram feridos para saber se havia sido vítima de uma tentativa de homicídio ou roubo.

Nessa reunião, segundo a versão do delegado, eles teriam tratado apenas de amenidades, porque Adriana Belém teria orientado Ronnie Lessa a procurá-la na delegacia para conversar sobre o inquérito. Cipriano negou que tivessem tratado da liberação das máquinas de caça-níqueis. Na Corregedoria, os dois delegados disseram que apenas posteriormente tomaram conhecimento que Lessa era suspeito de envolvimento na morte de Marielle.

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