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Guerra na Ucrânia

Às portas de Odessa, na Ucrânia, civis fogem e hospital lota

A 130 quilômetros a Oeste de Odessa, Mykolaiv está no avanço russo em direção à cidade portuária ucraniana, objetivo estratégico para as forças russas

Um ucraniano ferido durante um ataque russo recebe tratamento no hospital central de Mykolaiv, a 100 km de Odessa, oeste da Ucrânia, em 8 de março de 2022Um ucraniano ferido durante um ataque russo recebe tratamento no hospital central de Mykolaiv, a 100 km de Odessa, oeste da Ucrânia, em 8 de março de 2022 - Foto: Bulent Kilic / AFP

Em um bairro de torres tristes e cinzas na periferia de Mykolaiv, cidade ao sul da Ucrânia sob as bombas russas, um morteiro impactou o segundo andar de um edifício, arrancando as janelas e as portas. "Malditos", disse Liliana, uma vizinha. 

O bombardeio ocorreu segunda-feira, por volta das cinco da manhã. Foi um milagre que não tenha havido vítimas. "Estava dormindo e os cristais começaram a tremer, assim que bati na parede", conta Vitali Sobolev, um homem de 70 anos que vive, justamente, do lado de onde caiu o morteiro. 

Neste bairro pobre de Mykolaiv não há alvos militares, somente civis, "pessoas que não possuem quase nada e ninguém os ajuda", explica Liliana Sidorska, a vizinha do 4º andar. "O quê faz o governo ucraniano? Por que os russos bombardeiam aqui? São uns desgraçados, desgraçados", repete. 

Mykolaiv e sua região são palco de violentos combates e bombardeios há vários dias. A cidade de 500 mil habitantes já foi duramente atacada durante a ocupação nazista  na Segunda Guerra Mundial. 

A 130 quilômetros a Oeste de Odessa, Mykolaiv está no avanço russo em direção à cidade portuária ucraniana, objetivo estratégico para as forças russas. 

Ainda que a situação fosse relativamente tranquila na terça, seguiam ecoando bombardeios esporádicos. Quilômetros e quilômetros de carros esperam para cruzar a ponte que une a cidade à margem oeste do rio a fim de escapar da ofensiva russa.  

"Que nossos aviões bombardeiem os russos"

Diante do hospital central da cidade, Sabrina, uma jovem de 19 anos, espera sua mãe, que veio para um tratamento nos rins. "Logo, nós iremos de ônibus o mais rápido possível. Não podemos ficar, é perigoso", conta Sabrina, rodeada de bolsas, seu cachorrinho e um gato escondido em seu capuz. Não tem notícias de seu marido que está no front de batalha. 

Os médicos do hospital estão mobilizados diante de uma chegada massiva de feridos. Vários soldados jovens estão hospitalizados aqui, como Olexandr, de uns 20 anos, com uma perna quebrada e cheia de estilhaços do morteiro que caiu sobre seu quartel na segunda. Segundo Olexandr, morreram oito soldados esse dia, oito desapareceram e 18 estão feridos.  

Impossível verificar suas palavras. De todas as formas, inclusive o cirurgião chefe do hospital, Dmytro Sykorsky, já deixou de contar os feridos e mortos. Só sabe que, nos primeiros dias de guerra, passaram pelo hospital 160 soldados. Desde então, não deixa de chegar civis. 

Sabe que sua instituição acolheu alguns soldados russos, "mas não podemos nos aproximar deles, são os militares que cuidam deles", responde Sykorsky. 

Em seu andar há, sobretudo, civis. Como Vira Pismenna, uma sexagenária de cabelos grisalhos e belos olhos azuis, que tem o rosto coberto de sangue seco e um curativo nas têmporas. 

Seu povoado, Snegirovka, a uns 60 quilômetros de Mykolaiv, foi bombardeado. "Que nossos aviões bombardeiem os russos pelo que nos fizeram!", afirma a senhora.   

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