Às vésperas do Enem, movimento nas redes socias pede por um novo adiamento das provas
Defensoria Pública da União recorreu da decisão da Justiça Federal em São Paulo que negou o pedido de adiamento das provas
Na semana em que está determinada a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), manifestações tomam conta das redes sociais pedindo por um novo adiamento da prova, considerada a principal forma de ingresso nas universidades públicas no país. Diante dos recentes dados que alertam para a possibilidade de uma segunda onda do novo Coronavírus no Brasil estudantes, celebridades, políticos e a sociedade civil de uma maneira geral, têm levantado a hashtag “#adiaEnem”, que chegou a ser um dos assuntos mais comentados no Twitter.
A Defensoria Pública da União (DPU) e entidades estudantis e educacionais entraram com pedido para adiamento do exame, que foi negado nesta terça-feira (12) pela Justiça Federal de São Paulo, ficando mantida, assim, a prova para os próximos domingos (17) e (24). A DPU já recorreu da determinação. A pouca infraestrutura que as salas de aulas apresentam é argumento para o aumento do risco de contaminação para os quase 6 milhões de candidatos que realizarão o exame, que terá 14 mil locais de prova e 205 mil salas em todo o país.
A estudante Edvânia Almeida, que faz parte do projeto de pré-vestibular comunitário Carolina de Jesus, está na quarta tentativa para ingressar em uma universidade pública e julga como válido mais um adiamento do Enem. “Como eu não tenho computador ou notebook e também tive dificuldade para continuar com internet em casa, minha preparação para o Enem esse ano foi mais uma vez prejudicada. Esse ano além das dificuldades que já tinha antes, teve a questão da Covid-19. E por esse motivo eu tive problema psicológico (depressão e pânico). Dessa forma, eu me sinto totalmente desesperada e prejudicada para fazer a prova logo no início do ano”, disse.
Já o estudante do 3º ano do ensino médio no Colégio Boa Viagem, Fábio Antônio Felix, possui a mesma opinião. “Gostaria do adiamento do Enem, seria melhor e mais justo para todos. Várias pessoas foram prejudicadas com a pandemia, muita gente não conseguiu se adaptar com as aulas on-line, algumas nem tiveram aulas nesse período. Não me sinto seguro com o protocolo de segurança, não vi muitas informações e acho que poderia ser melhor organizado para evitar aglomerações. Meu medo é acabar me contaminando no primeiro dia e não conseguir fazer o segundo dia de provas", falou.
Com a elevação de média móvel de mortes no país e o número de casos devido a Covid-19, o risco à saúde pública se torna uma das principais preocupações neste momento. Segundo dados do Ministério da Saúde, em dezembro de 2020 houve um aumento de 62% no número de casos e 59% no de óbitos. Além disso, há o impacto que a pandemia teve no processo educacional de aprendizado dos alunos, principalmente de escolas públicas.
O cientista do laboratório de imunopalogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto de Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jones Albuquerque, enfatiza que este não é o momento adequado para a realização do Enem.
“A ocorrência do Enem não parece prudente, porque diante do cenário que estamos agora de alto índice de infecção, quaisquer aglomerações não são de bom senso. Numericamente estamos com taxas de infecção a mais de milhar, hoje são mais de 1.500 casos em Pernambuco e estamos de volta aos patamares de abril e maio, e naquela época chegamos a travar os municípios com medidas restritivas. O Enem não parece um serviço essencial agora porque a maioria das universidades está com calendário distorcido. O que a gente precisa é desconstruir o conceito do exame único e começar a pensar em um mecanismo de manter os estudantes estudando sem ter que aglomerá-los”, concluiu.
A vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe), Ivete Caetano, afirma que não é só a exclusão digital, mas todo o contexto da pandemia que aprofunda essas desigualdades. "O sindicato defende o adiamento do Enem para que todos tenham pelo menos um pouco de condições, porque não vamos resolver o problema de desigualdade educacional, porque ela é bem mais profunda, mas pelo menos não aprofundamos essas desigualdades”.
Para o diretor executivo do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco (Sinepe), Arnaldo Mendonça, o adiamento não deve acontecer, pois, segundo ele, não haveria benefício para os estudantes. “Se esse evento for adiado, simplesmente esses alunos vão terminar o terceiro ano do ensino médio e não vão ter mais contato com professor, com a escola, não vão ter nenhum apoio. Nós entendemos que vai ser um grande prejuízo para os alunos. Acreditamos que esse foi um período razoável. A nossa posição é que deve ser mantido para esse final de semana e o próximo”, defendeu.