Aslan Cabral: 'O ano de 2019 foi muito difícil para as perspectivas culturais'
Em entrevista à Folha de Pernambuco, o artista plástico pernambucano Aslan Cabral falou sobre a cultura em 2019 e as perspectivas na área para 2020
São muitas as frentes artísticas do pernambucano Aslan Cabral, e nisso se inclui o hibridismo que permeia sua obra, seja aqui, acolá ou mundo afora, porque apesar de viver e produzir no Recife, são muitas as possibilidades percorridas por esse artista plástico que esboça esperanças para a arte no novo ano que se aproxima e é enfático ao trazer à tona o quão enrascado foi o ciclo de 2019 para a cultura.
“Foi muito difícil para as perspectivas culturais”. Entre os planos para contornar os tempos difíceis, 'crowdfunding' como alternativa para captação de recursos e podcasts como forma de fazer comunicação, estão na programação de um acelerado (e coerente) Aslan que, em bate papo com a Folha de Pernambuco, falou também sobre sua Bienal da Veneza Brasileira e outros assuntos.
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Cultura em 2019
"O ano foi muito difícil para as perspectivas culturais. Certos lugares de direitos construídos há algum tempo passaram a ser ameaçados e tivemos a possibilidade, por exemplo, de ter excluído do MEI profissionais do ramo artístico. Em 2019 ficou muito claro para mim, também, a necessidade de novas alternativas para que dessa forma continuem sendo ativados conteúdos culturais levados por recortes que os silenciam, já que há um desfalque da cultura".
Cultura em 2020
"Todos os campos de produção cultural estão imergindo para a internet, então precisamos prestar muita atenção nesse campo. Reconheço meu papel como influencer dentro de uma cultura de massa, que é a cultura de internet, mas que não está sendo estudado pela massa. Em 2020 quero continuar a discussão sobre isso, com a ideia de que chegue mais às escolas, faculdades, incluindo os podcasts que vêm sendo escutados cada vez mais por comunicadores, sinal de que essa discussão vai sendo democratizada".
Podcast
"Culturalmente 2019 apontou claramente para uma explosão de podcasts. Hoje ouço muito mais do que em 2017, 2018 e comecei a fazer meu próprio 'pod' (Departameme), que trata sobre cultura de internet e novas linguagens. É interessante que agentes culturais e usuários, em 2020, comecem a entender melhor como funciona essa troca de serviços por dados, como se dá a proliferação de notícias por esse meio".
Recursos
"As pessoas ficam me dizendo que meus projetos, como o da Bienal que vai ocorrer em 2020, deveriam ser feitos via Funcultura ou Rouanet, mas a ideia é estruturá-la por outro meio de captação, como forma de apontar para outros lugares. Fundos municipais e estaduais de incentivo à cultura têm seus vícios e não acho justo, por exemplo, que nomes já consagrados, velhos nomes, permaneçam a ocupar espaços patrocinados.
Incentivar me parece que devesse ser algo mais incipiente e dentro do desmonte das vias de realização, a ideia é de que exista uma força paralela e alternativa para sugerir mudanças, até mesmo nos cenários mais caóticos e com baixas perspectivas. Não apoio que tudo tem que ser por 'crowndfunding', mas na hora que a gente conseguir normalizar essa balbúrdia que estão fazendo com a cultura, vamos ter ainda mais essa via independente de alternativa de captação e colaboração".
Bienal
"Vem aí a Bienal da Veneza Brasileira, exposição coletiva que ficará à mostra em 2020 e com financiamento via crowdfunding. Queremos ir para um outro lugar em busca de novos agentes e apoiadores, novas estruturas. É uma questão crítica. Serão sete artistas que trarão recortes de seus trabalhos, apontando para novas possibilidades de discussão sobre a arte em Recife e em Pernambuco.
Alguns poiadores já estão sendo acionados, já criamos a marca e estamos devagar, conversando. Vamos mimetizar esse lugares hegemônicos, por isso a menção à Veneza, mas trazendo para um lugar mais caótico como o Recife e assim tornando visível a obra de artistas que poderiam não estar em um lugar de reconhecimento caso esses esforços não estivessem sendo empreendidos".